CAIQUE STIVA E LUCAS KREMPEL
“Em meses de colheita, é muito difícil trabalhar com a música”. Você não entendeu errado. O baterista Mathieu Jourdain, do duo francês The Inspector Cluzo, divide o tempo, junto com Laurent Lacrouts, entre a fazenda e os palcos. E essa mistura curiosa de roqueiros fazendeiros, que não chega a ser inédita, mas sempre chama a atenção, poderá ser conferida no último dia do Lollapalooza.
“É muito trabalhoso porque nós dividimos nossas vidas entre o mundo da fazenda e a música. Por exemplo, nós não saímos em turnê quando temos coisas importantes para fazer na fazenda”, justifica Mathieu, que conversou com A Tribuna / Blog n’ Roll, via telefone.
A ligação com a fazenda vem de longa data. Os dois já tinham essa intenção de seguir carreira nas plantações por conta da influência dos avós, também fazendeiros.
“Eles tinham um pedaço de terra e nós já tínhamos isso em mente. Quando começamos a viajar o mundo com The Inspector Cluzo, nós percebemos como as coisas estavam ficando ruins com a economia e a globalização, então decidimos começar nossa fazenda e viver de forma autossuficiente, isso há aproximadamente seis anos. Nós plantamos nossa própria comida desde então”.
A cultura autossuficiente também seguiu para a música. Os músicos não contratam ninguém para cuidar da carreira deles. Fazem tudo por conta própria, aceitando o apoio apenas em caso de divulgação em outros países.
“Temos nossa própria agência de viagens, a própria gravadora, então nós damos conta de tudo. Em algumas ocasiões, nós contratamos alguém da parte de publicidade para nos agendar entrevistas com a imprensa de cada país. Fora isso, nós marcamos nossos voos, reservamos hotéis, subimos no palco e tocamos nosso som. Além disso, não temos computador, fazemos tudo fisicamente”.
Mas com tantas tarefas diárias, difícil é imaginar quando os músicos conseguem descansar entre uma turnê e os cuidados com as plantações. “A parte boa é que a fazenda refresca a mente e acalma bastante”.
Formado em 2008, o duo tem sete registros lançados até o momento. O último, We The People of The Soil, foi revelado no ano passado. Mathieu citou Rage Against The Machine, Pearl Jam, AC/DC e Neil Young como influências, mas o som próprio segue outra linha.
“É difícil descrever nossa música em palavras, mas ela é um derivado do soul. É um som cru e orgânico. Temos influências do soul e do blues, mas gostamos de vários estilos musicais”.
A trajetória da dupla, mesmo com os imprevistos referentes às colheitas, já possibilitou visitar mais de 50 países. Isso é motivo de muito orgulho para eles.
“Já viajamos o mundo e tocamos em mais de mil lugares. Acabamos de lançar mais um álbum e somos 100% independentes. Conhecemos muitos lugares e pessoas por causa da música e somos muito gratos por isso”.
Ainda inédito no Brasil, o Inspector Cluzo se destaca pelas apresentações empolgantes. Os músicos não costumam se conter no palco. Quebram os instrumentos, pulam na plateia e interagem bastante com o público.
“É bem isso (risos). Quando estamos no palco, gostamos de tocar nossas músicas com bastante energia. Quando o show está no final, ficamos tão energizados que acabamos fazendo essas coisas. Sabemos que não devemos fazer isso, mas fazemos mesmo assim. É um sentimento bom”, comenta Mathieu.
Com tantas viagens na bagagem, histórias curiosas não faltam para os músicos. Ainda mais pelo fato de não ser uma banda com tanta popularidade no mainstream (ao menos fora da França). Isso faz com que todos os shows revelem surpresas para os dois.
“Tocamos no Fuji Festival, no Japão, uma vez e não sabíamos se teríamos público lá. Quando faltavam cinco minutos para o show, o espaço para 5 mil pessoas estava vazio. Mas cinco minutos depois, o lugar estava lotado. Ficamos impressionados”.
Questionado sobre a expectativa do show em São Paulo, Mathieu declarou mais uma vez que espera por tudo, mas não sabe exatamente o que. “Sabemos que o Brasil é um país diferente da América do Sul, que fala português ao invés de espanhol. Não sabemos o que está por vir, mas vamos tentar fazer nosso show e tentar adaptar ao público. A única coisa que sabemos é que as pessoas são apaixonadas por música por aí”.
Kendrick Lamar, Twenty One Pilots, Interpol e Greta Van Fleet são alguns dos shows programados para o mesmo dia dos franceses, no Lollapalooza. Mas o foco deles será outro. “Sempre tentarmos assistir a outros shows. Vamos tentar espiar algum, principalmente se for de uma banda brasileira”.
Serviço
A oitava edição do Lollapalooza Brasil contará com os headliners Arctic Monkeys, Tribalistas, Sam Smith e Tiësto, no dia 5 de abril; Kings of Leon, Post Malone, Lenny Kravitz e Steve Aoki, no dia 6 de abril; Kendrick Lamar, Twenty Øne Pilots e Dimitri Vegas & Like Mike no dia 7 de abril.
As entradas para o Lollapalooza Brasil 2019 podem ser adquiridas pelo site oficial do evento, bilheteria oficial (sem taxa de conveniência – Credicard Hall, em São Paulo) e nos pontos de venda exclusivos: Km de Vantagens Hall Rio de Janeiro e Km de Vantagens Hall Belo Horizonte.
