Prestes a retornar ao Brasil para se apresentar no Monsters of Rock, no dia 19 de abril, no Allianz Parque, em São Paulo, a banda sueca Opeth segue reafirmando seu posto de referência no metal progressivo. Em entrevista exclusiva ao Blog n’ Roll, o baterista Waltteri Väyrynen refletiu sobre a trajetória do grupo, a recepção do álbum mais recente The Last Will & Testament, e antecipou o que os fãs brasileiros podem esperar do show no festival.
Além da apresentação no Monsters of Rock, a banda também tocará no dia 21, no Espaço Unimed, em São Paulo, com o Savatage, ambos com shows completos. Ainda há ingressos disponíveis para os dois shows.
“Será uma mistura entre músicas novas e clássicos antigos”, promete o músico. “Faremos o nosso melhor para agradar a todos os nossos fãs brasileiros”, completa o baterista.
Com pouco mais de dois anos como baterista do Opeth, Waltteri enxerga de perto a longevidade e reinvenção da banda, que completa mais de três décadas de carreira.
“É algo que realmente separa essa banda de muitas outras. Cada álbum tem sido diferente e a banda nunca se repetiu. Estou muito orgulhoso de fazer parte disso”, afirma.
O novo disco, considerado um dos mais sombrios e imprevisíveis da discografia, traz composições densas de Mikael Åkerfeldt e exigiu uma abordagem técnica intensa. “Definitivamente não é um álbum fácil de ouvir, mas, uma vez que você entra nele, é uma viagem muito gratificante”.
Confira a entrevista completa abaixo.
O Opeth tem uma trajetória de mais de 30 anos, sempre evoluindo e surpreendendo os fãs. Como vocês enxergam essa jornada e a forma como a banda se reinventou ao longo dos anos?
É muito inspirador ver isso de fora. E, claro, agora estando na banda, acho que é algo que realmente separa essa banda de muitas outras de metal no mundo.
Como você disse, estão sempre se reinventando, com novas ideias e conceitos. Acredito que cada álbum, desde o primeiro, tenha sido diferente um do outro. A banda nunca se repetiu, sempre seguiu em uma nova direção. Estou muito orgulhoso de fazer parte da banda.
The Last Will & Testament foi descrito como o álbum mais sombrio e pesado da banda, além de conter algumas das músicas mais imprevisíveis que vocês já compuseram. O que inspirou essa abordagem?
Obviamente foi Mikael (Åkerfeldt) quem compôs as músicas, então não posso realmente dizer muito em nome dele. Mas o que ouvi dele é que ele queria ter um tipo diferente de abordagem para as músicas desta vez, ao contrário de algumas canções mais antigas, onde a maioria dos riffs meio que perduram por um longo tempo antes de passar para a próxima. Mas neste álbum é muito mais claustrofóbico de certa forma.
Foi tudo muito louco, ir de seções diferentes para outra o tempo todo. E depois de ouvir as músicas pela primeira vez, você só está pensando: ‘o que diabos aconteceu?’ E aí você tem que realmente se aprofundar mais e mais. Definitivamente não é um álbum fácil de ouvir. Mas uma vez que você entra nele, uma vez que você entende o que está acontecendo, vira uma viagem muito gratificante.
Como foi trabalhar com Joey Tempest, do Europe, nesse disco? O que ele trouxe de especial para a sonoridade do álbum?
Nenhum de nós realmente trabalhou com ele pessoalmente no álbum, porque ele estava gravando esses vocais em seu estúdio caseiro. Mas tê-lo no álbum é muito legal. E também é muito inesperado ter esse tipo de colaboração.
Você já o encontrou pessoalmente?
Sim, algumas vezes. Ele é um cara super legal. Eu amo o Europe. Joey veio ao nosso show em Londres quando tocamos algumas semanas atrás. Um cara sempre feliz.
O Monsters of Rock tem uma história icônica no Brasil, e vocês vão dividir o palco com grandes nomes do metal. O que os fãs podem esperar do setlist e da performance de vocês no festival?
Acho que será uma mistura entre algumas das músicas do último álbum combinadas com algumas boas e velhas canções. É difícil encaixar tantas músicas em um set de uma hora, mas faremos o nosso melhor para agradar todos os nossos fãs brasileiros.
O Brasil sempre recebeu o Opeth com muita paixão. Há alguma lembrança especial das passagens anteriores pelo país?
Sim, já fui ao Brasil muitas vezes, também com minha banda anterior, o Paradise Lost. Sempre amei o país. Especialmente na primeira vez, em 2015, quando tocamos em São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro. Depois do último show, tirei um período de férias no Rio, foi como um sonho que se tornou realidade.
O que você mais gostou?
Sol e as praias, mas também a comida e as pessoas amigáveis. Acho que a vibe é sempre muito positiva, eu amo isso.
Quantos dias você ficou no Rio?
Acho que eu e minha namorada ficamos uma semana ou mais. Fizemos muitas coisas, incluindo as coisas turísticas, como o Cristo Redentor. Mas também fizemos um tour pela favela. Obviamente passei alguns dias nas praias de Copacabana e Ipanema. Tenho memórias muito boas dessa viagem.
O metal progressivo tem muitas camadas e exige um nível técnico altíssimo. Como vocês equilibram a complexidade musical com a energia necessária para um show ao vivo?
Boa pergunta! Nem sempre é tão fácil, especialmente com nossas músicas, é como se você precisasse realmente se concentrar na maioria das partes. Mas sempre que há uma batida um pouco mais direta ou algo assim, onde você pode relaxar um pouco, tento ir mais fundo e talvez balançar a cabeça um pouco e apenas mostrar a energia.
Não é tão fácil fazer isso com o set que estamos tocando. Há tantas coisas que podem dar errado que você realmente precisa estar no topo das coisas o tempo todo e se concentrar muito.
Desde os primeiros álbuns até os mais recentes, o Opeth experimentou bastante com estilos e influências. Existe algum território sonoro que ainda gostaria de explorar no futuro?
Sempre há algo para explorar. Mas acho que a parte mais emocionante sobre essa banda é que você nunca sabe o que vem a seguir e que tipo de direção Mikael está tomando com a composição. E é isso que realmente mantém isso tão interessante.
É muito difícil dizer de cabeça qual tipo de direção ou estilo ainda gostaria de explorar mais. Mas estou ansioso para ouvir o que Mikael vai fazer depois deste álbum. No entanto, ainda vai levar alguns anos para fazermos isso novamente. Enquanto isso, vamos nos divertir tocando as músicas do último álbum.
O metal progressivo tem se reinventado ao longo dos anos. Como você vê a cena atual e o lugar do Opeth dentro dela?
Não acompanho muito a cena do metal progressivo, conheço algumas bandas como Porcupine Tree e o Pineapple Thief. E Gavin Harrison nessas bandas é um dos meus bateristas favoritos.
Mas pra mim, o Opeth, é tão legal que não o vejo apenas como parte da cena do metal progressivo. Conheço pessoas que nem ouvem metal fora do Opeth, mas ainda são grandes fãs de alguns dos álbuns da banda. Tem pessoas do black metal que realmente não ouvem metal progressivo, mas ainda amam o Opeth.
Quais são os próximos passos do Opeth após essa turnê na América do Sul?
Teremos uma folga em maio, mas logo na sequência iniciamos a temporada de festivais na Europa, algo que vai nos ocupar até o fim de agosto. Acho que tocaremos em uns 15 festivais. Depois disso, há outra turnê europeia entre setembro e outubro. Por fim, em novembro, vamos para a Nova Zelândia e Austrália. É um ano bem movimentado.
Topa fazer um jogo no qual você resume as bandas do lineup do Monster of Rock em uma palavra?
Claro!
Scorpions – Lendas
Judas Priest – Metal
Stratovarius – Companheiros finlandeses
Europe – Super cativante
Quais os três álbuns que mais te influenciaram na carreira? Por que?
Meu álbum favorito de todos os tempos é The Great Cold Distance, do Katatonia. Essa é minha banda favorita desde o início da adolescência. Especialmente esse álbum causou um grande impacto em mim quando tinha 12 ou 13 anos.
O segundo álbum é Enthrone Darkness Triumphant, do Dimmu Borgir. Essa é uma espécie de minha porta de entrada para o black metal. Foi assim que tudo começou para mim, como explorar o metal mais extremo. E claro, através do Dimmu, então entrei em outras bandas de black metal como Mayhem, Emperor, Darkthrone e Dissection, todas essas bandas que ainda ouço hoje.
No terceiro álbum, vou dizer algo diferente, deixa eu ver meu Spotify… Ah, foda-se: Leprosy, do Death. Esse é o melhor álbum de death metal já feito.