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Entrevista | MC Sid – “Quero ser alguém mais real”

MC Sid é de Brasília, tem 22 anos e está entre os nomes em ascensão no RAP. Sua popularidade aumentou após ganhar o Duelo Nacional de MCs em 2016, mas já vinha de uma crescente por frequentar e sair campeão de várias batalhas onde morava.

Em músicas como Falsos MCs e Assalto a Mão Letrada, ambas em 2017, mostra a revolta de um MC com a cena do RAP e ganha bastante atenção do público. Também agradou com a música Brasil de Quem?, que fala sobre a política nacional, bem no ápice da greve dos caminhoneiros, no ano passado. Sua participação no canal do Youtube Rap Box também ganhou bastante visibilidade com a música de protesto Rap News.

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No mesmo ano, lançou o EP intitulado 5696, com sete faixas, contando com poesias declamadas, músicas pessoais, de revolta e de denúncia.

Abriu 2019 com o single Simpatia, e na última segunda-feira (18), lançou O Truque. O próximo trabalho é um álbum que poderemos conferir daqui uns meses, intitulado Poesias e Frustrações.

“O álbum vai ter entre 15 a 18 faixas e contará com várias participações como Gog, Fábio Brazza, Oriente e Xamã. Todas elas estão fechadas, mas ainda não foram gravadas”, explica Sid. O novo trabalho traz uma temática: as frustrações em ser um poeta no mundo do hip hop.

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Segundo o rapper, “tem tantos artistas bons tipo o Fabio Brazza, as letras dele tanto poeticamente quanto a construção gramatical são muito boas, mas elas não têm o devido reconhecimento. Aí o MC que fala sobre ostentação, dinheiro, e coisas do tipo são super valorizados e você observa que ele é rico, famoso, e ruim. Fico muito frustrado, tipo como esse cara ocupa o espaço de um poeta?”.

Em questão de produção, o artista tentou inovar. “Eu costumo não colocar refrão, mas coloquei. Gravei em beats que não cantaria, tipo 80 e 120 BMP. Eu tenho essa vibe do low depressed RAP, e dessa vez quis propor bases que não fossem fáceis, sair da zona de conforto sem perder a essência”, explica.

Dentre outros sentimentos encontrados nas músicas do novo álbum poderão ser notados frustração, tristeza e desamparo. O rapper diz que escreveu a maior parte das músicas numa fase não muito boa da vida, e são nesses momentos que tem maior facilidade em achar os sentimentos e palavras certas, e também são das músicas fruto da dor que o público mais se identifica. Uma dessas identificações chegou até o conhecimento de Sid e ele não consegue esquecer.

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“Um dos momentos mais marcantes para mim aconteceu no Duelo Nacional do ano passado. Um dos MCs que iria batalhar me encontrou, me abraçou e começou a chorar. Eu fiquei tipo: qual é mano? Logo ele falou cara, a minha mulher pensou em se matar, mas não se matou porque ouviu a música Autobiografia parte 1 (do EP 5696). Ele me abraçou , chorou e foi embora. Eu recebo várias mensagens pelas redes sociais, muitas experiências parecidas, mas essa o baque foi mais forte, ele não falou muita coisa, mas pude sentir”, relembra.

Recentemente, Sid anda se sentindo depressivo e não busca esconder nada de ninguém, mas tenta olhar com o pensamento “tudo tem um lado bom, até as piores coisas isso me dá munição para escrever, todos os dias, para milhares de pessoas”. Na visão do artista, a música que fala sobre algo ruim consegue trazer sentimentos bons. Ele compara as músicas felizes ao que acontece nas redes sociais.

“Acho que as pessoas já estão sendo bombardeadas por músicas de rolê, romance, que idealizem algo. É a mesma lógica das redes sociais, na qual as pessoas postam uma vida perfeita. Eu quero ser alguém mais real que isso, dar possibilidade pro público se identificar e poder ver que, entre muitas aspas, eu consegui superar, então quer dizer que há luz no fim do túnel. Se você reparar, eu não posto muita foto sorrindo ou feliz, porque eu não quero passar essa imagem errada da vida”.

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Sid também diz que optou por não escrever músicas de amor, porque já existem muitos MCs falando sobre isso e que odeia dar as coisas mastigadas. Ele prefere que a pessoa interprete da forma que deseja ou que entenda. Uma de suas admirações é o rapper baiano Baco Exu do Blues, que mesmo conquistando todo sucesso, “não se vende, não se rende, não perdeu o espaço com o sucesso. Ele escreve sobre amor, mas sobre amor real, o casal moderno, não sobre algo irreal. Não desvia do que acredita”,explica.

Papo sobre batalhas desistência & Aprendizados

Para Sid há várias cenas no RAP. Batalhar é uma delas e foi por meio das disputas que começou no hip hop. Na verdade, ele já escrevia antes de batalhar, porém era uma pessoa completamente diferente. Usava muita droga, e tinha tendência a fugir de compromissos e da realidade. Só que quando começou a frequentar periferia para batalhar, presenciou pessoas passando dificuldade, acolhedoras e se deparou com uma realidade completamente diferente da qual foi criado, em um bairro nobre.

“Todo meu RAP de protesto vem das batalhas. É interessante eu cantar sobre isso. Quem escuta RAP de quebrada é a periferia, quem escuta RAP de ostentação é mais a classe média, e ela me escuta. Então com toda essa minha experiência canto para que entendam que a periferia não é um monstro. Quero quebrar esse ciclo vicioso, no qual boy só vai na favela comprar droga. Por que não ir nas batalhas, ver o evento de hip hop? Foi assim que mudei minha visão de mundo, fui me desconstruindo”.

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Mesmo fazendo parte de sua trajetória, Sid desistiu das batalhas por ter se tornado uma de suas frustrações. O aprendizado fica “ Peguei muita experiência por batalhar dois anos seguidos, disputei com muitas pessoas, observei vários jeitos de rimar, escrever, acabei aprendendo muito vocabulário, sobre flow, um universo de rimas”.

Questionado se já pensou em desistir do RAP, ele diz que sim. “Abri mão de fazer RAP. Porque quando a gente fala sobre o assunto o que te vem a mente? Ou é aquele RAP marginalizado ou o ostentação. E eu não me encaixo em nenhum. Então até que ponto eu posso garantir que faço RAP, mas continuo sendo MC. Eu faço música. Sinto que não me enquadro na cena, mas faço parte dela”.

Ainda sobre o papo de desistência, Sid menciona que sempre lembra da seguinte frase. “Se eu pular daqui, eu deixo vários pai e mãe desamparados” E garante que nunca vai deixar de fazer rap pois para ele é terapia. “ Eu gosto de escrever pra desabafar, sempre vou escrever. Então se eu resolver desistir vai ser só de lançar, mas ainda vou continuar compondo, com o mesmo carinho, a mesma vontade de fazer”.

Reconhecimento

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Pergunto sobre o reconhecimento dele no RAP, a resposta: “é questão de ponto de vista”. “Eu posso ter uma visibilidade boa pra quem vê de fora, mas pra quem está dentro do RAP, não é tão grande assim. Pretendo me colocar um pouco mais dentro da cena, mudar a base, sem mudar a essência, expandir o público. Como sou de Brasília e estudo, não consigo ir muito para São Paulo, Rio de Janeiro, conhecer novos MCs com tanta frequência e isso limita muito. Então ainda não tenho todo esse reconhecimento para quem vê de dentro”.

Planos futuros?

Pretendo lançar no meio do ano um EP com RAP e MPB, abordando mais a parte vocal.

Vi que a música Autobiografia vai ter dez partes? Sobre o que será a próxima?

Vou lançar as músicas baseadas na minha estrutura familiar de necessidade, progressão de prioridades. Primeiro falei de mim, a próxima será minha mãe.

Quais RAPs você está ouvindo no momento?

Estou escutando Hopsin, o nome dele vem de Hip Hop Sin, o que me ganhou de primeira. Também tem Holly Wood, ele é um rapper de Portugal. Nacional eu estou escutando muito Xamã, Sant, Marechal e Filipe Ret, cada um por um motivo diferente, em momentos específicos.

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Tem algum feat que deseja fazer?

Vários, por gostar da vibe da pessoa, mas não tenho nomes em mente.

Qual dica você dá para os MCs que estão tentando se destacar?

Não fazer por fama. Existe uma diferença entre fazer por dinheiro, e fazer dinheiro com o que você ama.

Como quer estar em 2019?

Quero ter pelo menos cinco discos lançados. Mas acho que o sucesso da carreira solo vem com tempo. O que desejo mesmo é o crescimento da Bendita Gravadora (fundada há dois anos). Quero ver vários talentos sendo descobertos em Brasília e dar oportunidades pra eles.

Por enquanto somos pequenos comparado a outros estados. Temos dois artistas, me incluindo e não funcionamos por contrato e sim projetos. Espero ver isso mudar.

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