ISABELA DOS SANTOS
Foto: Mídia Ninja
Um dos marcos da ditadura (regime militar, governo de 1964 a 1985 ou como quer que você chame esse período), foram as produções musicais que conseguiam driblar a censura, usando de “truques linguísticos” para passar a mensagem nas entrelinhas: denunciar as injustiças sociais, torturas, desaparecimentos, o amor ao dinheiro, cantar sobre democracia, um país livre e igualitário para todos.
Sim, o movimento foi necessário, porém se pegarmos um panorama geral, chegamos à conclusão que a maioria dos ouvintes tinha estudantes de classe média como protagonistas. E o restante das pessoas que entendiam as mensagens por trás das letras tinham um certo grau de estudo.
Hoje em dia a música Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores, de Geraldo Vandré, e Cálice, de Chico Buarque, estão entre coleções que marcaram a época. Marcaram uma geração que queria mudança, gritava por mudanças e cantava por mudanças. Porém, a Música Popular Brasileira estava ainda que defendendo os direitos sociais, a democracia e lutando contra injustiças, na mão de quem tinha um certo poder aquisitivo e/ou privilégio na sociedade.
Mas por que falo isso? Assim como a MPB foi um grande agente de resistência, aposto no RAP como novo representante na voz das consideradas “minorias”. Na verdade eu e os demais ouvintes já achamos e essa é, na verdade, a proposta do gênero. Enfatizo a ideia porque a cena está crescendo e vai crescer cada vez mais. E como já vem sendo, as pessoas menos privilegiadas seja em moradias, poder aquisitivo, cor, orientação sexual e toda diferença que crie desigualdade entre as pessoas, poderá ser representada pelo gênero.
A música nas mãos de quem realmente é menos privilegiado. Sem entrelinhas, papo reto das dificuldades, das lutas de cada dia. A minoria mostrando sua revolta, conquistas, tendo voz para retrucar preconceitos, para atacar preconceituosos. Basta criatividade, microfone, som. O RAP incentiva, dá voz, espaço para qualquer pessoa. E com tantas vivências, histórias contadas, se torna um poço de arte, poesia e identificação. É político e individual. É sociedade e pessoa. É denúncia e sentimento. E é poesia.
Não comparo o RAP à MPB como se fosse uma competição, uma sobreposição, mas sim como uma continuidade. E é isso que o Pega a Visão vai abordar: matérias, entrevistas, resenhas (e o que vier na minha cabeça) sobre quem fortalece a proposta do RAP.