ISABELA DOS SANTOS
“Eu acho que as meninas são incríveis. Provavelmente a batalha vai crescer muito”, afirma o espectador Guilherme Gomes, de 26 anos, após assistir a Batalha do Caoz em São Vicente (SP), na orla da Praia, em frente ao teleférico. De passagem pelo local, ele e seu amigo Pedro Vitor Iperatrice, de 26 anos, viram uma roda de garotas rimando e por lá ficaram até o final da batalha.
“Elas têm visões bem atuais. É legal ver esse empoderamento na Baixada Santista. No meu ciclo social as garotas ainda não tem toda essa autenticidade. Elas estão dominando”, afirma.
Há um ano, João Tavares, de 17 anos, Vanessa Santos, 24, conhecida como Medusa, e Gabriela dos Santos, 30, de nome artístico Gabi Topias, fundaram a “Batalha do Caoz”, porque segundo seus relatos, existe muito machismo no RAP. Eles se conheciam de outras batalhas em que a presença de homens era sempre maioria. Assim testemunharam muitas falas preconceituosas e por muitas vezes se sentiam-se desconfortáveis.
“Eu competia nas batalhas de sangue, mas já aconteceu muito de sair chorando”, conta João sobre as consequências sofridas pelos comentários lançados durante os freestyle, principalmente por ser um garoto trans.
E não só na hora da batalha, como também se sentir desconfortável no ambiente, já que o público feminino é muito menor. “Quando os caras mandavam alguma ideia errada, ninguém intervia, então eu aprendi a rebater, me virar na hora da batalha. Mas cansa. Além disso, ficava preocupada com as roupas que eu usava”, afirma a participante da batalha, Emily dos Santos, 17 anos.
“A gente tava na mesma sintonia. Cada uma reclamando de um lado sobre esses acontecimentos, então nos juntamos”, relata a artista Gabi Topias. Medusa, que frequentava batalhas para assistir e recitar poesias, compartilhou a ideia no Facebook e assim se deu a criação da Batalha do Caoz, direcionada para as mulheres, pessoas LGBTs e simpatizantes podem assistir.
Incentivo
A primeira edição da Batalha do Caoz foi imprevisível. Várias vezes marcada e muitas deram errado. No dia que finalmente ia rolar a 1ª edição estava chovendo, as organizadoras não esperavam muita gente. Até que aparece a rapper Sara Donato do grupo RAP Plus Size. “Ela veio de São Paulo e deu mó incentivo. Disse: Vai lá, batalha mesmo. Tinha pouca gente, mas nos sentimos muito felizes. Fizemos freestyle, sem batalha, mas foi um impulso muito bom”.
A Batalha
Antes das MCs se enfrentarem há o momento do Open Mic, um espaço onde elas e o público presente podem cantar, recitar poesia, mostrar sua arte. Depois começa a batalha que gira em torno de um tema proposto pelo público. Duas MCs se enfrentam, cada uma com direito de rimar por 30 segundos. O tema é revelado na hora e a batida começa a rolar. Elas rimam sobre o assunto. O público decide quem foi melhor.
Na edição que acompanhei, Emily dos Santos, de 17 anos, conhecida como Smile, sagrou-se campeã. “Eu batalho faz dois anos. O que eu posso dizer é que ajuda a me expressar. Talvez eu não conseguiria falar de outra forma se não fosse assim”. Medusa disputou a final e ficou com o segundo lugar. “ No Rap você faz seu espaço. Eu quero lutar por isso, eu vou cantar por isso. Também posso passar conhecimento pro pessoal da comunidade”.
A Batalha do Caoz costuma acontecer aos sábados, em São Vicente, na orla da praia, em frente ao teleférico, a partir das 17h. De vez em quando acontecem em outros bairros da Cidade. O melhor jeito de saber onde, quando e o horário é ficar de olho nos eventos do Facebook.