MARCELO ARIEL
Foto: José de Holanda / Facebook
Sim, é a transfiguração da dor em força, o silêncio em força, o corpo que habita um ciclo infinito de metamorfoses entre uma e outra nasce como um grito. Há uma serpente de fogo dentro do corpo de Karina Bhur. Me refiro ao show do último final de semana, no CCSP, durante a Virada Cultural.
Mas existe uma sede de entusiasmo e atemporalidade nestes movimentos sem gênero que cortejam a fúria e um delicado e por isso mesmo potente exorcismo da angústia que nos cerca como uma névoa sem começo nem fim. A luz parecia vir de dentro do corpo e não das lâmpadas. Nascer é um incêndio ao contrário.
“Há um Sol-Estrela que eleva além da realidade das formas lá me perdi (…..) Meu corpo é um bote e eu sou as ondas que se arremessam contra ele”, diz o poema de Jalal ud-Din Rumi, mas aqui há uma loucura da singularidade e o bote é feito da madeira de uma árvore de fogo.