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Poesia e Rock - Vários

Poesia & Rock #67 – Rock para entreter o sol

FLÁVIO VIEGAS AMOREIRA

Com esse calor nenhum intelectualismo resiste ao doce far niente o som despojado dalguma bandinha cult indie solta ao vento restaurador. Canicula senegalesca abrasadora sensação de sufocamento que pede desregramento de todos sentidos e poros uma entrega radical aos sonidos, que nos resgatem confiança. Não sei porque cargas d’água e haja água para refrescar curto ouvir There’s Too Much Love, do Belle & Sebastian, sorvendo frutas da estação.

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Descobri que aquele lindinho filme gay brasileiro usa essa canção divina como tema: Hoje Eu Quero Voltar Sozinho. Assistiram? Recomendo aos estetas, aos sensíveis, aos que amam atemporalmente, faça 40 ou 10 graus nesse litoral encantado pelos deuses da transgressão tranquila.

Em 2019, nesse espaço prodigioso, quero refletir sobre Nick Drake e Nick Cave, rock indie irlandês e a inserção do rock no cinema dos anos 1970, onde ferveu como nunca. Começo o ano com um poemeto dedicado aos que sinergicamente sentem o rock feito poesia. Feliz 2019!

“Na disposição da estante sob a foto de Jim Morrison / sem preguiça da mente / a intenção
da lida / sair as ruas com olhos despregados da razão / afinal os domingos mais que nunca
são para sempre imperceptível essa esquina tem florido um caminho
e outro quem sabe o mundo real tenha sido esse arbusto
e o mundo nada previsível para seres desatentos ainda se surpreendem
com chuvas de verão
pouso a mão em teu peito dourado de sol e teus mamilos sagazes
nenhum objeto ou relicário
nem foto porque os tempos são outros
de ti a lembrança só até o próximo encontro
e reter teus pelos pubianos
num verso inspirado entre bibelôts cobertos de pó
porque contigo ando descalço pelas rotas de Dublin até notar a aparência rubra
das frutas da estação / o viço das hortaliças
sem perder o horário do trem ardendo nos trilhos dilatados por esse verão
atípico teu nariz me vem a lembrança e tua boca safada cuidando de ajeitar a dobra
do meu chapéu rançoso de uso pelo caminho do tecido com o mesmo veludo de teus dedos ligeiros amor!
na beirada da janela nenhum vaso / quem sabe uma boa avenca ou suculenta
já que a paisagem me consome sem esforço / e penso : o que faz os golfinhos felizes
não é o cansaço empreendido dos seus membros nem a caça dos peixes
o que faz os golfinhos felizes amor!
talvez a existência das ondas
a suprema alegria do mar!”

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[Flávio Viegas Amoreira, poeta]
flavioamoreira@uol.com.br

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