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Rita Lee: a rainha do rock brasileiro

Irreverente, poderosa e extremamente ousada, Rita Lee detém o posto de Rainha do Rock Brasileiro, sendo uma das mulheres mais influentes do Brasil. Com uma carreira ilustre que alcançou os 50 anos, Rita transitou entre bandas, fez inúmeras parcerias, contribuiu com o crescimento de mulheres na música e provocou uma verdadeira revolução musical.

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Rita Lee Jones, paulistana de ascendência norte-americana e italiana, possui vários títulos. É cantora, compositora, multi-instrumentista, atriz, escritora e ativista. Conhecida dentro e fora do país, foi pioneira ao mesclar gêneros nacionais e internacionais como pop rock, disco, new wave e bossa nova em suas composições. Sempre inovadora, Rita namorou vários estilos musicais, mas foi a partir da inovação psicodélica dos anos 60 que começou sua carreira, conduzindo a frente d’Os Mutantes.

Desde a infância, Rita viveu cercada de música. Aprendeu o piano em aulas com a musicista clássica Magdalena Tagliaferro. Curtiu muito Elvis Presley, Paul Anka, Beatles, Rolling Stones, Cauby Peixoto, Carmem Miranda, entre outros. Entre influências tão diversas, Rita começa a se apresentar ainda na adolescência com uma banda formada por três meninos e três meninas.

Deste grupo de seis, restaram apenas três: Rita, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias. Apelidaram-se Os Bruxos, mas pouco tempo depois mudaram para Os Mutantes. O trio manteve-se em atividade de 1966 a 1972 e nesse breve período, consolidaram-se como uma das maiores bandas do Brasil, com seis álbuns de estúdio e vários hits nas paradas musicais. Rita foi a responsável pela voz, flauta doce, percussão, sintetizador e banjo, além de ser a principal letrista da banda.

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Em meio à Tropicália, Os Mutantes quebraram barreiras musicais com experimentações diversas. Além de distorções e técnicas de estúdio não convencionais, a banda apostou no uso de ruídos, sonoplastia e sons de objetos para compor. Hits como A Minha Menina, Balada do Louco e Ando Meio Desligado foram algumas de suas canções mais conhecidas.

Em meio à vida em uma comunidade hippie, muitas drogas e um sucesso que cambaleava entre as censuras da ditadura, Rita Lee e Arnaldo Baptista se casaram. O relacionamento não durou muito, e quando se separaram, Baptista a expulsou da banda. Desde então, o grupo passou por turbulências em sua formação, principalmente com relação aos vocais.

A ironia e ousadia que exalava das performances de Rita também era frequente em suas composições. Quando formou o grupo Tutti Frutti, ela trouxe sua potência às paradas nacionais. Com Fruto Proibido (1975), Rita Lee consegue conquistar o mundo: músicas como Agora Só Falta Você, Esse Tal de Roque Enrow e Ovelha Negra tiveram repercussão estrondosa. O disco é platina duplo, e além do sucesso comercial, também é consagrado como um manual de como fazer rock em português.

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Em 1976, conheceu o músico Roberto de Carvalho, que tornou-se um de seus principais colaboradores e grandes amores. Com ele, teve três filhos: Beto Lee em 1977, João em 1979 e Antônio em 1981. Durante sua primeira gravidez, foi condenada por porte e uso de maconha e mantida em prisão domiciliar por um ano. Em meio à ditadura, o ato foi justificado pelo regime como um exemplo à juventude da época.

Durante esse meio tempo, dois grandes eventos acontecem na vida de Rita: ela sai em turnê com Gilberto Gil no show Refestança, registrado em disco, e em 1978 lança Babilônia, que foi um de seus álbuns mais famosos. Hits como Jardins da Babilônia e Agora é Moda marcam o estilo do grupo, que investiu no rock mais agitado e dançante.

O sucesso internacional veio efetivamente de sua parceria com Roberto de Carvalho. O casal fez discos e shows juntos, em uma fase que conquistou o público, mesmo dispersando um pouco do rock n’ roll. Mais pop, o álbum Rita Lee/Mania de Você (1979) foi sucesso de vendas, estourou nas rádios e rendeu espetáculos e especiais televisivos. Músicas como Doce Vampiro e Papai Me Empresta o Carro tornaram-se hinos da cantora.

No ano seguinte, Rita Lee (1980) trouxe um repertório digno de trilhas sonoras, musicais e festivais. Baila Comigo, Lança Perfume, Nem Luxo Nem Lixo e Bem-me-quer fazem parte desta fase. Rita teve enorme sucesso em vários países da Europa e América Latina, decolando sua carreira no exterior. Com versos cada vez mais ácidos, Rita participou do especial Mulher 80 da Rede Globo para discutir o papel feminino na sociedade, especialmente na música nacional, o que repercutiu sua postura feminista e ativista de forma mais direta.

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O álbum Saúde (1981) foi mais um sucesso de crítica e público. Saúde, Atlântida, Banho de Espuma e Mutante foram alguns dos principais destaques, influenciados mais pela disco music que pelo rock n’ roll. Além de outros lançamentos de estúdio, ela retornou aos palcos em grande estilo, participando da primeira edição do Rock in Rio, em 1985.

A identidade de Rita Lee sempre esteve nos cabelos vermelhos, mas a soma de sua voz hipnotizante e forte presença de palco formaram a combinação perfeita. Rita sempre fez apresentações pautadas pela liberdade e autenticidade, sem perder oportunidades de tecer críticas sociais e políticas. Questões feministas são frequentes entre suas letras, demonstrando o forte interesse da cantora em se manter a par das lutas sociais femininas. Desbravadora, Rita iluminou o caminho para que várias das cantoras nacionais que conhecemos hoje pudessem compartilhar suas artes pelos palcos do país. Em meio à ditadura militar, ela quebrou barreiras e posicionou-se como força de oposição às restrições da censura.

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Rita trabalhou sozinha novamente nos anos 1990, embarcando em uma turnê voz e violão que mesclou bossa nova e rock. Participou de diversos programas de televisão, além de estrear o seu próprio, TVleezão, apresentado na MTV Brasil. Retorna ao rock n’ roll e new wave no lançamento homônimo de 1993, conhecido como Todas as Mulheres do Mundo, que reúne canções como Maria Ninguém, Ambição e Só Vejo Azul.

Na vida pessoal, caminhou por altos e baixos durante sua vida. Em 1996, oficializou seu casamento com Roberto de Carvalho. Enfrentou diferentes problemas de saúde durante os anos, principalmente devido à dependência química. Passou por várias cirurgias e tratamentos, inclusive por problemas nas cordas vocais e também ao sofrer um acidente de carro. Só superou seu vício por completo em 2006, depois de internações e tratamentos.

Em 1998, Rita lança seu Acústico MTV, um sucesso de vendas que contou com participações inéditas, como Cássia Eller, Paula Toller, Titãs e Milton Nascimento. Em 2000, se renova mais uma vez com o álbum 3001, nomeado como o Melhor Disco de Rock no Grammy Latino do ano seguinte. Canções como Erva Venenosa, Pagu e O Amor em Pedaços marcaram presença nas rádios. No ano seguinte, gravou um CD com releituras dos Beatles, nomeado Aqui, Ali, Em Qualquer Lugar/Bossa n’ Beatles. Com 100.000 vendas, este rendeu mais uma certificação de ouro e uma turnê de sucesso pela América Latina.

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Seus dois últimos álbuns de inéditas foram Balacobaco (2003) e Reza (2012), com recepção razoável. Depois de apresentações, parcerias e homenagens, em 2014, ela aposenta sua marca registrada: troca os cabelos vermelhos pelos fios grisalhos. Como afirmou em entrevista para a revista Marie Claire em 2013, “para envelhecer com dignidade, a mulher tem de ter desapego”. Nesse ano, desapegou das memórias para assumir uma nova fase em sua vida.

Mesmo aposentada dos palcos, Rita Lee continua fazendo barulho pelas redes sociais. Ativa no twitter e instagram, a cantora é seguida por milhares de fãs e continua compartilhando lembranças, música e muitos ácidos comentários. Em 2016, lançou o livro Rita Lee: uma autobiografia, que conquistou boas críticas e prêmios literários. A cantora comenta traumas de sua vida, como abusos, problemas com drogas e até mesmo um aborto. Como afirmou em entrevista para a Gazeta, “essa bio foi uma autoterapia curadora”. Mesmo aposentada, a paixão pela música ainda acende sua criatividade: “dos palcos, quero distância; da música, nunca, continuo fazendo o que mais gosto que é compor. […] Envelhecer não é para maricas. Ainda me falta muita coisa a fazer”, diz.

Com uma vasta discografia, inúmeras apresentações que marcaram avanços pela liberdade de expressão e muita coragem, Rita Lee é a artista empoderada que toda menina ou moça se inspira no dia a dia. Seu legado musical e protagonismo na luta pelas mulheres na música são dois marcos que todas precisamos lembrar e valorizar para sempre. Viva Lee! Viva esse tal rock n’ roll!

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