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Radar - Nuno Mindelis

Radar #06 – Rich Robinson – Flux

NUNO MINDELIS

Olá pessoas antenadas e rollers!

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Andei falando com Marc Ford, guitarrista do extinto Black Crowes. Na real ele apareceu num show em que toquei e acabamos numa padoca tomando uns destilados ao final. O culpado disso foi um menino talentoso chamado Rodrigo, de uma banda chamada Republique du Salém, ele o levou para nos assistir. Depois disso voltamos a falar algumas vezes, ele em LA e eu no meu esconderijo dos trópicos. Um dia escreverei sobre o Republique, que teve um álbum seu produzido justamente pelo Marc.

Isso naturalmente acendeu uma lampadinha e me levou a pesquisar (de leve) o que andariam fazendo musicalmente os irmãos Robinson (Chris e Rich) mentores dos Corvos Negros, após terem se separado e selado o fim da banda. (Que chegou a fazer turnês com James Patrick Page, do endiabrado Led Zepp!) E essa lampadinha levou-me ao Flux, álbum do Rich, de 2016. (Que depois deste projeto já remontou praticamente o Black Crowes com os membros originais, sem o irmão e com outro nome, Magpie Salute; mais uma história para próximo capítulo).

Alguns ingredientes essenciais levaram-me a gostar (tanto) da música americana, quando ainda era imberbe. Existe um pote sonoro que inclui todos aqueles derivados e tendências numa massa só, rock, folk, jazz, blues, western, country enfim. Seria algo como um caldo que incluísse o samba, o maracatu, a bossa, o baião, o maxixe, o forró, chorinho e por aí vai, tudo presente e perceptível mas dentro de um terceiro vocabulário quase autônomo. E, claro, me arrebatou também toda a sabedoria de quem é especializado no que faz, do músico perfeccionista ao técnico que conhece todos os truques e ao sujeito que serve o cafezinho no estúdio, a escolha dos (sagrados) timbres, das (sagradas) sonoridades, não se brinca com isso.

Voltando ao Flux para não perder o fluxo: seguiu essa cartilha. Linguagem, timbres, execuções perfeitas, respeito pelas influências, músicos muito bons, fluência. Não tem hits óbvios nem composições desbundantes, por si. Mas a faixa 3, Music That Will Lift Me, poderia ter sido um, certamente, e deve ter tocado bem nas rádios. Não é também um disco inovador, longe disso e talvez explique por que Chris tenha inventado o projeto Magpie logo em seguida. Mas tudo bem, a ideia que passa é a de que o pessoal queria, mais do que tudo, tocar, tocar muito, curtir esse processo, não revolucionar fosse o que fosse. E isso acaba rendendo.

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Life (faixa 6), embora não entre as minhas prediletas, dá-se ao luxo de improvisar uma espécie de viagem sonora quase psicodélica, como nos tempos de Pink Floyd, Steppenwolf ou Grand Funk. Fazer isso em disco, nos dias de hoje, requer alguma coragem. E aqui sempre me pergunto como um disco old school consegue soar jovial nas mãos desses irmãozinhos encapetados. Black Crowes também era daquelas bandas que pareciam surgir deslocadas da época, (como Guns n’ Roses foi) mas que soavam novas mesmo em contexto, digamos, adverso. Na época de ouro do Guns, era mais provável punk alemão, Madonna ou Michael Jackson serem mais esperados do que aquilo.

Flux segue entre o simpático, o experimental e o arrebatador em alguns momentos (especialmente mais para o começo, eu diria) como Shipwreck, Music That Will Lift Me (aah !) e Everything’s Alright (aah2 !).

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Em Eclipse The Night a levada é no estilo Stax, com a caixa da bateria no tempo 1 e entremeada por soluções diversas, wah wahs e guitarras com peso. Uma ‘Stax roqueira’ e de meninos brancos, que sabem o que fazem porque beberam na fonte, sabem as regras. Aliás, Marc (que não está neste disco) já fez turnê com Booker T, que poderia ser eleito o embaixador dessa lendária gravadora. (A esta altura uma instituição que deveria ter estátuas por aí).

Para quem gosta da guitarra com o timbre certo na hora certa, a faixa Ides of Nowhere é um bom exemplo do que Rich sabe fazer. Macacos me mordam se não for uma Lespaul Standard. A faixa Astral é outro exemplo, mas aí já não parece a Lespaul Standard.

Se você curte a essência da música americana, músicos competentes, timbres irrepreensíveis em todos os instrumentos, rock, blues, soul, folk e derivados, vocais de verdade; e quer saber o que anda fazendo a metade cerebral do Black Crows, dê uma conferida. Belo disco!

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