NUNO MINDELIS
Vamos falar de Tinsley Ellis? Bom, já dividiu o palco com Warren Haynes (Allman’s!!!), The Allman Brothers Band (eles mesmos, ouch!) Stevie Ray Vaughan (eita!), Jimmy Thackery, Otis Rush, Willie Dixon (caraaaca!), Son Seals, Koko Taylor (ai ai!), Albert Collins e Buddy Guy. Com esse currículo não seria necessário continuar o artigo. Quase.
Mas a vida é madrasta. Pergunte na rua quem é Tinsley Ellis e veja quantos porcento negativos responderão. Bem verdade que se hoje em dia se perguntar quem são os Beatles, no Brasil, a taxa (de sanindade cultural) também será bem negativa. Ob-la-di Ob-la-da ou Hey Jude nos dias que correm é música hermética, tal qual Debussy ou Cage.
McCartney e Lennon pisaram porque, apesar de extremamente diatônicos e melódicos, nunca gravaram Mau pau te ama ou Ai se eu te pego. Mas voltando ao Ellis, ele gravou e lançou Winning Hand no início deste ano, com dez músicas. É disso que falaremos. E?
Guitarrista afiadíssimo, segue o lema de BB King e não sai da estrada. É possível vê-lo usando Gibsons ES 335 e LesPaul, bem como Fender Stratocaster. Tanto faz. O que lhe cair às mãos é facilmente domesticado, mastigado, deglutido e digerido com força, inteligência e técnica invulgares. Curiosamente, apesar de nascido em Atlanta (onde também nasceu a Coca Cola) decidiu que seria músico e guitarrista influenciado pela chamada British Invasion, que começou com Beatles e seguiu com Animals, Yardbirds, Cream (Clapton) etc..
Salvo algumas exceções como Jeff Beck, nenhum súdito de Sua Majestade daquele antigo reino europeu toca como ele. Mas isso é irrelevante e totalmente outra história. Por que será?
Comum a quem se cansa de si mesmo, em 2017 lançou um projeto paralelo chamado Ellis Blues is Dead no qual executa toda a parte R&B do repertório da lendária Grateful Dead. E eu acho ótimo que isso tenha acontecido. Pena, aliás, que não tenha acontecido antes. Lembra-se quando eu disse “quase” lá no começo? Pois é, Tinsley canta pra caramba, toca pra caramba e tem voz ótima. O que faltou?Originalidade? Composições que transcedessem?
Eu costumo dizer que existem prateleiras nas quais as pessoas se colocam. A prateleira de Tinsley Ellis é aquela em que você escolhe o mesmo cereal que gosta pela manhã desde os 15 anos. Agora você tem 60. E é do tipo que come e veste sempre as mesmas coisas e continua de gola rulê, costeletas e boca de sino desde 1970.
O que faz Jeff Beck, que começou fazendo basicamente o mesmo que Ellis, (incluindo as boca de sino) ser o que é hoje? A estrada e o aperfeiçoamento permanente ou isso tudo acompanhado de inovação e de reinvenção? O que fez BB e Jimi serem o que foram? Toque e linguagem seminais, completamente vindas de outro planeta. Bem certo que aqui falo de dois gênios, mas nem se pede tanto.
Se você gosta de blues elétrico sem pretensões maiores, melodias menos ricas (ahh! Jimmy Reed, onde anda você?) temas simples, refrões e letras absolutamente previsíveis, como a centenária Coca Cola, tá tudo certo. Dá para pegar a estrada na adrenalina das seis cordas em volume alto, embalada por uma banda composta por monstros da linguagem. Partindo do princípio que você é esse cara (provavelmente guitarrista) cabe igualmente a sugestão de que se divertirá fazendo blind test para adivinhar que guitarras foram usadas em cada faixa.
Meu palpite: Gamblin Man, Don’t Turn Off The Light, Dixie Lullaby (talvez a minha predileta) e Saving Grace são (centenárias) Gibson. Em artigo próximo podemos aprofundar e descobrir se eram LesPaul ou ES 335 . O restante é (a quase centenária) Fender Stratocaster.
Abração!