Eu já tinha escrito neste espaço sobre Fantastic Negrito e o seu excelente disco The Last Days Of Oakland, que levou o Grammy de melhor álbum de blues contemporâneo em 2017.
Escrevo agora sobre Please Don’t Be Dead, o mais recente, de 2018, aproveitando a sua vinda a terras tupinuquins na próxima semana, para uma apresentação no Cine Joia, em São Paulo.
Se alguém ouvir a primeira faixa, Plastic Hamburguers, sem saber do que se trata, terá a certeza absoluta de ouvir Led Zeppelin, pelo menos até aos 36s iniciais. Depois funde com RAPs e afins, que Zepp ainda nem sonhava. O riff central parece emprestado de algum lugar, tenho a sensação de já tê-lo ouvido. De qualquer forma, adquire a cara do Fantastic Negrito. Há assinatura (desde sempre, não só neste disco é preciso dizer) do mentor da coisa toda, Xavier Amin Dphrepaulezz. Tente dizer esse sobrenome. É mais ou menos como a conversa do Tropicalismo, “a deglutição, a ‘antropofagia oswaldiana’ que transforma tudo que é ‘alienígena” em algo brasileiro”. Pois bem, então existe a “Negritália” porque tudo em que o Dphrepaulezz põe a mão vira dele, emprestado ou não.
Já a faixa 2, Bad Guy Necessity, retoma com mais veemência o Fantastic que eu conhecia: riff típico do blues (emprestado, tipo de Willie Dixon se a memória ainda funciona) mastigado, deliciosamente desconstruído, deglutido, processado e vomitado. O soul vem no refrão. Sujeito de bom gosto. E esse bom gosto, proficiência e maturidade artística seguem pelo disco afora. São pelo menos 16 faixas, não dá para comentar todas.
Bullshit Anthem, a faixa 11, é Sly & The Family Stone no século 21. A partir dela são todas acústicas, o que em última análise atenua o inevitável repeteco e exaurimento de boas soluções. Ouça Dark Windows, a 12ª. Haja beleza! Por que não estava mais no começo? Eita. Violão, violoncelo e um vocal de primeira. De novo, fez-me lembrar do Led Zeppelin com Robert Plant e tudo.
Vi de relance, em algumas críticas (gringas), afirmações de que o disco revoluciona o rock; em outros, que revoluciona o blues. Menos. Primeiro: será que esse tipo de revolução ainda é possível? Segundo: tem ideia do que é revolucionar? Afirmar que oxigenam o gênero vá lá. Elvis e Beatles revolucionaram. BB King e Jimi também. Tomara que Fantastic consiga isso um dia. Mas que é sempre importante conferir o endiabrado Xavier Amin, isso é.
Abraço a todos!