Fogo, dança e interatividade com o público. Pode-se dizer, por alto, que estes aspectos resumem o que foi a performance da Francisco El Hombre em Santos. O grupo se apresentou na Arena Club, na última sexta-feira (10), priorizando o repertório do recente Rasgacabeza.
O evento contou abertura da santista Barracos, que animou o pouco público que pairava o local entre as 22h30 e 23h30. Muito balanço, forró e solos de guitarra – mais do que bem executados – encheram os olhos do público que parecia aprender rapidamente os refrões grudentos e marcantes da banda, que destacou-se mesmo executando um repertório majoritariamente autoral. A apresentação ainda contou com a participação especial do rapper Ice D.
Fotos por Hanna Fidalgo
A exceção ocorreu justamente na última canção do setlist, quando os sete músicos que integram a Barracos abusaram do seu teor percussivo para realizar um cover de Quando A Maré Encher, de Chico Science & Nação Zumbi.
Após o fim deste show, e uma espera um tanto quanto longa, a Francisco El Hombre subiu ao palco da casa. Naquele momento, um grande público já se aglomerava no local.
Francisco, El Hombre no palco
Com CHAMA ADRENALINA: gasolina, o quinteto iniciou o show já mostrando ao que veio. A música, bem como quase todas as demais tocadas na ocasião, contou com uma série de repetições, e estendeu-se. No entanto, isso pouco tirou o gás do público que gritou e cantou em quase todas as faixas. A energia da banda, definitivamente, contagiou a galera.
A quebra às chamas ocorreu somente quando o grupo tocou o hit O Tempo é Sua Morada. A vocalista Juliana Strassacapa, inclusive, anunciou a faixa ressaltando a notabilidade das memórias na vida de cada um.
Para ela, “a memória é uma das coisas mais importantes da nossa trajetória. Orienta pra onde a gente vai e firma os pés no presente. A memória deve ser alimentada e nutrida. Então que a gente celebre o que deve ser lembrado”, pontuou.
Os hits Triste, Louca ou Má, Bolso Nada e Tá Com Dólar, Tá Com Deus (ambos do disco Soltasbruxa, de 2016) também ganharam muita atenção do público. Foi bonito, aliás, quando Juliana trouxe à tona a importância da auto-valorização e chamou as mulheres à frente antes de cantar a primeira dessas faixas.
Ato político
Como esperado, a Francisco El Hombre não teve papas na língua ao posicionar-se durante o show. Um telão exibiu a mensagem “Marielle Gigante” e o baterista Sebastián Piracés-Ugarte posteriormente afirmou que a crise brasileira é óbvia “a partir do momento que se coloca alguém que é homofóbico, transfóbico, racista no poder. Ele idolatra pessoas cujo maior feito era machucar outras pessoas”, referindo-se ao presidente Jair Bolsonaro.
Do mesmo modo, a platéia respondeu aos gritos de “Ei, Bolsonaro vai tomar no c*” e ganhou uma contraposta inusitada do vocalista Mateo Piracés-Ugarte (irmão do membro citado acima). “Eu realmente acho que ele deveria tomar no c*. Porque tomar no c* é uma delícia. Se mais gente descobrisse isso, muito menos pessoas estariam morrendo”, afirmou.
Por fim, Sebastián pediu força à “resistência santista” e ressaltou a necessidade de se “seguir em frente”.
Falando nisso, vale lembrar que a Francisco El Hombre comentou repetidamente sobre a Barracos e o projeto Arte No Dique, de Santos. O grupo, inclusive, pediu para que o público apoia-se mais a cena local.
Encerramento explosivo
Durante todo o show, o quinteto formado por Sebastián (voz e bateria), Mateo (voz e violão), Juliana (voz e percussão), Andrei Martinez Kozyreff (guitarra) e Rafael Gomes (baixo e backing vocal) trouxe muita interatividade ao público. Isso ocorreu, enquanto pediam para a platéia ora abrir uma fileira, ora abrir um circulo, e assim por diante.
Desta forma, o grupo também encerrou a apresentação, voltando logo em seguida para um bis – com a faixa Parafuso Solto, tocada inicialmente no “voz & violão”.
No entanto, a música seguinte, restaurou toda a aura ardente e latina da Francico El Hombre. Tratou-se da TRAVOU: tela azul, que inspirou uma espécie de coreografia, acompanhada por todo o público que soltou-se ainda mais na ocasião.
Assistir a Francisco El Hombre ao vivo é o mesmo que jogar-se num caldeirão libertário, onde todos os demônios pessoais podem facilmente se esvair. Dessa maneira, é quase impossível não deixar-se levar por todo o calor que a banda traz. É, as “cabeças se rasgaram” em Santos.