Se a distância entre os palcos foi a grande adversária do público na terceira edição brasileira do Lollapalooza, o mesmo não se pode dizer das Lolla Parties. No show do britânico Jake Bugg, um dos artistas mais badalados do momento, os fãs não encontraram dificuldades para estacionar o carro, não enfrentaram filas e assistiram a uma apresentação quase exclusiva no Cine Joia, em São Paulo. Pouco mais de mil pessoas acompanharam a estreia do artista no Brasil, que ocorreu na madrugada de ontem.
Aos 20 anos, o inglês mostrou ter repertório forte para agradar aos fãs. Tocou 21 canções em pouco mais de 1h20 de apresentação. Até o momento são dois álbuns lançados em um ano e meio de carreira, mas 19 músicas eram de autoria de Jake Bugg. As covers Killing Floor (Howlin’ Wolf) e My My, Hey Hey (Neil Young) completaram o set list.
Como já era esperado, as faixas Two Fingers e A Song About Love, duas das principais canções do artista, foram cantadas em uníssono pelos fãs. Mas é engraçado notar que mesmo nos momentos mais eufóricos do público, Jake Bugg não altera seu estilo. Quase não interage com os fãs, dificilmente sorri e não perde tempo entre uma música e outra.
Mas quem acompanha a carreira de Bugg sabe que esse é o jeito dele. É quase um Liam Gallagher (ex-vocalista do Oasis), mas com a guitarra em mãos. Nem mesmo quando abriu para os Rolling Stones, em Londres, e conseguiu o apoio dos fãs, o britânico alterou o estilo.
No palco, Jake Bugg sobe acompanhado por dois músicos apenas, um baixista e um baterista. O power trio faz com que o som soe perfeito. O britânico não faz alterações nas canções e a sensação é de estar ouvindo os dois álbuns (Jake Bugg e Shangri-la) quase na íntegra.
A apresentação é bem equilibrada. Tem os momentos mais tranquilos, com as baladas Broken, A Song About Love e Me And You. Passeia pelo folk, que fez muitos críticos o compararem com Bob Dylan, presente nas faixas Kentucky, Two Fingers e Simple Pleasures. E chega ao punk rock, nas fortes Slumville Sunrise, What Doesn’t Kill You e Kingpin.
What Doesn’t Kill You foi a última canção tocada na primeira etapa do show. Ao término dela, Jake Bugg e seus parceiros deixam o palco rapidamente para um curto intervalo. Sai a guitarra elétrica, entra a acústica: chega a vez de A Song About Love, trilha perfeita para os casais apaixonados que estavam no Cine Joia.
Logo depois, o músico apresenta sua versão para My My, Hey Hey, clássico de Neil Young. Em algumas entrevistas feitas no Brasil, Bugg fez questão de ressaltar que não era o novo Bob Dylan. Ficou incomodado com a comparação. Mesmo sem se comparar com ninguém, disse que sua maior influência era o próprio Neil Young. E o recado parece ter sido dado no final da apresentação.
Mas ainda faltava mais um single: Lightning Bolt. Não deu nem tempo dos fãs pedirem. Ao encerrar My My, Hey Hey, o músico emendou com o hit. Apesar do curto tempo que esteve em cena, Jake Bugg não deu espaço para lamentações do público. Como tem apenas dois álbuns e não perde tempo entre uma música e outra, o britânico conseguiu cobrir quase todo o seu repertório. Uma ou outra faixa ficou de fora.
Ao término do concerto, muitos fãs adolescentes ficaram parados do lado de fora do Cine Joia esperando pelo artista. Tímido, Jake Bugg não tem atitudes de rock star. É sempre muito solícito e atencioso com seus admiradores.
Heliópolis
Na última sexta-feira, por exemplo, o britânico visitou a favela de Heliópolis, em São Paulo. Queria conhecer um pouco de uma realidade não muito divulgada do Brasil. Grafitou o muro de um projeto social, brincou com as crianças e deu uma canja.
Toda a movimentação de Jake Bugg em Heliópolis foi registrada. O material será lançado em maio pela organização não governamental ActionAid, que tem o objetivo de divulgar o trabalho social na favela pela Inglaterra.
(*) Texto publicado originalmente em A Tribuna em 07/04/2014