Texto: Matheus Degásperi Ojea
A estreia dos norte-americanos do Karate no Brasil tinha jeito de ocasião especial desde que foi anunciada, até porque o trio havia encerrado as atividades em 2005, com o guitarrista e vocalista Geoff Farina alegando problemas na audição, só voltando a se apresentar ao vivo em 2022. Desde então, foram poucos shows espalhados entre os Estados Unidos e a Europa até chegar no Cine Joia, em São Paulo, para apresentação única na América Latina com produção do selo independente Balaclava Records.
O Karate – que, além de Farina, é formado por Gavin McCarthy na bateria e Jeff Goddard no baixo – é daquelas bandas tão obscuras quanto influentes. Nunca foi um grande sucesso comercial, mas é referência para uma penca de grupos que vieram depois no rock alternativo dos anos 1990 pra cá. Apesar da euforia dos fãs que achavam que nunca iam conseguir ver eles ao vivo, o Cine Joia encheu, mas não lotou.
A banda fez uma apresentação direta, com um repertório calcado na carreira pré-reunião. Do disco novo, Make It Fit – primeiro em 20 anos – com data de lançamento para outubro, a banda não tocou nem os singles já lançados.
Um dos mais criativos entre os seus contemporâneos, o grupo, que tem influências que vão do jazz ao bolero, ao vivo tem espaço para se divertir com todas elas. Canções como Sever (talvez a mais conhecida do trio), ganham minutos a mais com jams que elevam a versão gravada em estúdio.
Foi após Sever, inclusive, que Farina se dirigiu ao público de forma mais “carinhosa”, dizendo que quando toca em países estrangeiros e esquece a letra, pensa que não faz diferença porque ninguém vai perceber, mas que ali as pessoas perceberam.
Após uma pausa para o bis, a banda escolheu encerrar o show de maneira certeira com uma execução intensa da música This Day Next Year, que arrancou lágrimas de alguns e deixou um zumbido do melhor tipo nos ouvidos de todos, causado pela banda e pelo bom som do Cine Joia.
Gigante Animal
A noite contou com a abertura da banda paulistana Gigante Animal, escolha inusitada, não por qualquer questão sonora, mas porque a banda não fazia um show desde 2014.
Para a apresentação, Henrique Zarate (baixo e voz), Thiago Babalu (bateria) e Renato Ribeiro (guitarra) contaram com o apoio de Popoto, da banda Raça, na guitarra e na voz. A volta parece que é pra valer, visto que o show teve direito até à música nova.
Muita gente na pista cantava junto com a banda, que estava bem empolgada de tocar novamente e recebeu elogios até do Karate durante o show principal da noite. Pode ter sido inusitado, mas foi um grande acerto.