O Ronnie’s Scott, no Soho, em Londres, por si só já vale uma visita. É como visitar um estádio de futebol lendário sem jogo. Essa casa é uma das mais emblemáticas de jazz do mundo.
Fundado em 1959, o Ronnie’s viu nomes como Chet Baker, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Nina Simone, Stan Getz e Charlie Watts gravarem álbuns marcantes aqui. Aliás, foi nesse clube de jazz que o baterista do Rolling Stones ganhou um tributo intimista dos companheiros de banda, logo após o seu falecimento.
O dia escolhido para conhecer o Ronnie’s tinha uma atração de peso, a norte-americana Macy Gray. Famosa pelo mega hit I Try, que rendeu Grammy e topo das paradas em vários países, no fim dos anos 1990, a cantora segue com uma carreira bem ativa, inclusive com participação agendada no próximo Rock in Rio.
No Ronnie’s, ela chegou acompanhada da sua superbanda California Jet Club, que tocou a música tema da franquia Rocky para a anunciar sua entrada.
Macy abriu o show com Do Something, faixa do seu álbum de estreia, On How Life Is (1999). A partir daí, aproveitando o clima bem intimista da casa, conversou bastante com o público entre as músicas.
“Vocês não são boas pessoas. Poderiam estar em casa, curtindo a família, vendo TV, mas vieram para um show numa quarta-feira à noite. E ainda tem uma greve de trem para dificultar a chegada de vocês aqui”, brincou.
Logo depois, a cantora surpreendeu o público uma versão totalmente reconstruída de Nothing Else Matters, do Metallica. O cover faz parte do álbum Covered (2012), que conta com versões de Radiohead, Kanye West, My Chemical Romance, entre outros.
A apresentação também trouxe single novo. Thinking of You estará em seu próximo álbum de estúdio, The Reset, previsto para 8 de julho.
“Vocês são sortidos. Essa é uma música nova, ninguém ouviu ainda. Só quem veio no show de hoje mais cedo (foram dois shows no mesmo dia, no Ronnie’s), na semana passada, mais alguns amigos, mais outras pessoas que foram em outros shows”, disse, arrancando risos do público.
Em outro momento de conversa com os fãs, Macy Gray anunciou Sexual Revolution de forma bem descontraída. “Você se prepara para vir curtir o show, limpa bem suas partes íntimas, se prepara toda e aproveita. Aproveita porque a noite é sua, baby”.
À essa altura parte do público já estava em pé, quase dentro do palco, para cantar com Macy, que não aguentava mais ver as pessoas sentadas.
I Try veio no final. E com uma dose de ironia da cantora. “Vou cantar uma música que todos vocês estão esperando. A mais esperada de todas”, comentou.
A ironia é porque recentemente ela deu uma entrevista para Forbes questionando o motivo da imprensa a tratar como One Hit Wonder (artista lembrado só por uma música).
“As pessoas me chamam de One Hit Wonder, e eu fico tipo, vendi 33 milhões de álbuns. Não sei como você diz [eu só tenho] uma música. Acho que é um problema para todos os outros. Acho que houve um momento em que fiquei muito confusa e não entendi, porque quando escrevi aquele disco, estava apenas sendo eu mesma. E foi isso que continuei a fazer. Mas há algumas das outras músicas que fiz que não ressoaram dessa maneira, e não entendi isso por um longo tempo”.
Com a plateia totalmente na mão, Macy Gray encerrou o show com sua versão para Brass in Pocket, do The Pretenders. Era o que faltava para acabar com as regras básicas da casa: não falar durante as músicas e nem se levantar. Tarde demais!