No domingo, outra cena inusitada pode ser presenciada na Capital. No Espaço 555, uma casa que passou a receber mais shows de rock na Avenida São João, a californiana Me First and The Gimme Gimmes, enfim, estreou no Brasil. Composta por integrantes de grandes bandas do hardcore como Lag Wagon e Bad Religion, ela possui um repertório recheado de versões para hits de várias épocas e estilos.
O cenário antes do início da apresentação chamava a atenção. Parte do público andava pela casa ostentando camisetas das bandas de origem desses músicos. E pode ser um engano da minha parte, mas pareciam alimentar um improvável sonho de ouvir músicas do Bad Religion e Lag Wagon. Mas quem foi com esse objetivo, realmente desconhece a proposta da banda.
Em dado momento da apresentação, um fã balançava a camiseta do Bad Religion na direção do baixista Jay Bentley, que fez caras e bocas como se não estivesse entendendo o que era aquilo.
O mais divertido, no entanto, foi ver a reação dos fãs diante de sucessos da Cher, Madonna, Barry Manilow, Elton John e Gloria Gaynor. Com guitarras e uma batida mais puxada para o punk rock, muitos deles não se importaram de pular, gritar e cantar junto com a banda.
O carismático vocalista Spike Slawson (Swingin’ Utters) chegou a brincar com os fãs antes de iniciar I Will Survive, de Gloria Gaynor. “Eu sei que vocês são valentões, mas agora quero ver vocês deixarem a diva que está dentro de vocês sair”, disse, arrancando risos e aplausos.
E todos deixaram a diva sair mesmo. Na pista ou no camarote, os fãs cantaram juntos e se empolgaram como se estivessem escutando American Jesus ou Generator, sons emblemáticos do Bad Religion.
Além de Slawson e Bentley, o Gimme Gimmes veio reforçado de Joey Cape (vocalista do Lag Wagon na guitarra), Dave Raun (baterista do Lag Wagon) e o australiano Lindsay McDougall (Frenzal Rhomb). Chris Shiflett (Foo Fighters) e Fat Mike (Nofx) não vieram.
Para quem ainda desconhece o Gimme Gimmes, o Spotify tem disponível dez discos dos caras, todos compostos somente com essas versões.
No show de São Paulo, a banda soube equilibrar bem o repertório com faixas de quase todos os discos. O álbum de estreia, Have a Ball, que completou 20 anos do seu lançamento em 2017, foi o mais representativo com cinco: Uptown Girl (Billy Joel), Me and Julio Down by the Schoolyard (Paul Simon), Sweet Caroline (Neil Diamond), Mandy (Barry Manilow) e Rocket Man (Elton John).
Também foram lembrados os álbuns Are We Note Men? We Are Diva (4), Blow In The Wind (4), Are a Drag (3), Take a Break (3), Love Their Country (2) e Have Another Ball (1).
A grande surpresa do repertório, entretanto, ficou para o bis, quando Slawson prestou uma homenagem aos fãs brasileiros. “Vou cantar uma música brasileira, mas não quero que você zoem o meu sotaque. Se isso acontecer, vou zoar o de vocês em San Francisco também”, brincou antes de iniciar Baby, composição de Caetano Veloso, que ganhou fama na voz de Gal Costa e da banda Os Mutantes, essa citada pelo vocalista.
Mesmo com o sotaque bem carregado, ninguém ousou sacanear o vocalista. Pelo contrário, aplaudiram de forma eufórica o esforço dele em cantar tudo em português. Uma diversão com direito a várias invasões ao palco e nenhuma reclamação dos músicos.