No encerramento de sua quinta edição no Brasil, o festival Lollapalooza soube mesclar bem as atrações no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, que recebeu 75 mil pessoas ontem. Jack Ü, projeto paralelo dos badalados DJs norte-americanos Skrillex e Diplo, colocou o público para dançar loucamente no aquecimento para o show da Florence + The Machine, atração principal da noite.
Já Noel Gallagher, ex-guitarrista e vocalista do Oasis, foi responsável pelo momento revival do dia, quando emplacou cinco canções de sua antiga banda. Alabama Shakes também empolgou, enquanto Albert Hammond Jr., do The Strokes, entregou uma apresentação fria e sem muito entusiasmo do público.
Um dos maiores letristas de todos os tempos e responsável por grandes sucessos do Oasis, a banda mais relevante dos últimos 20 anos no Reino Unido, Noel Gallagher mostrou que há vida além do antigo grupo, o qual dividia as atenções com o seu irmão, Liam.
Em seu curto show, aparentemente dez minutos menor que o previsto, Noel soube dosar bem a quantidade de canções da sua carreira solo, composta por dois álbuns, e alguns hits do Oasis. Chama a atenção, no entanto, as faixas escolhidas pelo marrento de Manchester. Das cinco músicas tocadas de seu antigo grupo, apenas uma era cantada originalmente por ele: Don’t Look Back in Anger. As demais, Wonderwall, Champagne Supernova, Digsy’s Dinner e Listen Up, foram imortalizadas na voz do seu irmão e desafeto, Liam Gallagher.
Desde o término do Oasis, em 2009, os irmãos Gallagher são bombardeados pela imprensa e fãs com perguntas sobre um possível retorno. Enquanto Liam sinaliza que pode fazer as pazes com o irmão e retornar a trajetória de sucesso do grupo, Noel faz questão de acabar com qualquer possibilidade. Seja em entrevistas ou durante suas apresentações.
Antes de iniciar You Know We Can’t Go Back (Você sabe, nós não podemos voltar, na tradução literal), do seu último trabalho solo, Chasing Yesterday, de 2014, o vocalista dedicou a canção aos fãs do Oasis. Curioso que, neste momento, muitos dos fãs não entenderam a ironia e vibraram com a possibilidade de ouvir um grande hit dos caras.
Champagne Supernova, uma das mais belas faixas do Oasis, ganhou uma nova roupagem com Noel. Nada que impedisse os fãs de cantar junto do início ao fim. Wonderwall e Don’t Look Back in Anger, que encerraram o show, garantiram momentos de catarse dos apaixonados fãs. Sim, 20 anos depois essas canções seguem emocionando e embalando muitos romances por aí, tal como pude ver vários casais bem novos abraçados e cantando as duas faixas.
Everybody’s on the Run, que abriu o show, além de Riverman e If I Had Gun foram alguns dos bons momentos de interação do público com as músicas da carreira solo de Noel. A reação dos fãs entre os sons do Oasis para a atual fase do cantor é gritante. Mas ele soube levar bem a situação. Sua banda de apoio garante uma qualidade a mais nas canções, principalmente o trio de metais e o tecladista.
E se um retorno do Oasis parece cada vez mais distante, os fãs pelo menos podem celebrar o fato de receber Noel, que não mudou nada desde o lançamento do primeiro álbum do Oasis, Definitely Maybe, de 1994.
Alabama Shakes
O Alabama Shakes já deixou de ser uma revelação há tempos. Em sua segunda passagem pelo Brasil, novamente no Lollapalooza, o grupo conseguiu fazer uma das apresentações mais empolgantes do festival. A vocalista Brittany Howard deu show de simpatia e mostrou uma voz poderosa para cativar o público do evento. “Quando a gente diz que ama vocês, é porque a gente realmente ama vocês. Vocês são um dos melhores públicos em todo mundo”, disse a cantora.
Se na madrugada de ontem, o Alabama Shakes passou quase desapercebido pelo aeroporto de Guarulhos – diferentemente de Noel Gallagher, que chegou no mesmo horário e foi super requisitado para autógrafos e fotos – a banda deixa essa edição com muitos mais fãs. Gimme All Your Love para fechar o show foi uma decisão muito acertada e celebrada pelo público.
Albert Hammond Jr
O guitarrista do The Strokes, um dos principais nomes do indie rock da década passada, não decepcionou em Interlagos. Apenas não engatou a segunda marcha. Começou com uma apresentação morna e não fez questão alguma de mudar o panorama. As músicas são boas, os integrantes habilidosos, mas a falta de carisma e um grande hit atrapalharam os planos de Albert em São Paulo.