EDUARDO CAVALCANTI
Fotos: Diego Padilha/Divulgação
David Byrne joga bola no palco Onix do Lollapalooza. Não só ele. A banda inteira faz isso, enquanto toca The Great Curve, da antiga banda de Byrne, o Talking Heads.
Todos vestem ternos cinza. No fundo e dos lados do palco, uma cortina cinza. Só. Nenhum show de luzes, nenhum efeito especial. Nada além de um grupo de músicos subvertendo as regras básicas de um show de rock convencional.
Parte performance, parte arte minimalista, parte ritual étnico pós-moderno, a apresentação de David Byrne foi a dose de genialidade da qual festivais de música tanto se ressentem. Ah sim, o que ele fez também atende pelo nome vulgar de rock.
Poucos músicos ousariam fazer o que Byrne faz no palco. Ele pode e faz com a autoridade de quem ajudou a mudar o rumo da música com o Talking Heads, banda fundamental na modelagem da cena do rock de vanguarda de Nova Iorque em meados da década de 1970.
O Talking Heads inovou não só no som, mas no próprio conceito visual de como pode – e deve – ser um show. Não por acaso é deles o que, possivelmente, é o melhor filme de rock já feito, o inacreditável e atual até a medula Stop Making Sense, de 1984.
David Byrne não precisaria ter tocado nenhuma canção do Talking Heads para que sua apresentação fosse brilhante e empolgasse as milhares de pessoas que lotaram o espaço do Onix.
Que metade do repertório tenha sido, justamente, de material que ele compôs com sua antiga banda não foi só um bônus. Foi o reconhecimento de que essas músicas não envelheceram um dia sequer, e se prestam a inúmeras releituras.
Byrne representou ao vivo o mesmo balé psicótico do vídeo de Once in a Lifetime. Fez em I Zimbra e Blind o equivalente a uma batucada interpretada por extraterrestres. E encerrou com o falso funk de Burning Down the House.
Quando entrou no palco, David Byrne cantou sozinho, segurando um cérebro. Nenhuma outra imagem é capaz de resumir o que foi seu show no segundo dia do Lollapalooza. Um alimento vital para todos os sentidos.