Porão do Rock 2025 mostra que Brasília ainda é a capital do Rock

Porão do Rock 2025 mostra que Brasília ainda é a capital do Rock

O Porão do Rock de 2025 está oficialmente encerrado. O evento mesclou dezenas de artistas locais, nacionais e internacionais nesta sexta e sábado (23 e 24 de maio) no estacionamento da Arena BRB Mané Garrincha.

Mantendo Gustavo Sá, idealizador do Porão, o festival ganhou Ivan Hauer e Bruno Barra, da agência Flap, como novos sócios. “Foram dois dias circulando esse festival inteiro. Apesar de já ter passado dos 50 anos, a sensação é de dever cumprido”, confessa Sá nos bastidores.

Assim que o Porão do Rock foi anunciado, a expectativa principal ficava na conta dos shows de Stone Temple Pilots, pela primeira vez em Brasília, e do Sepultura em seu último festival agendado no Brasil. A banda se apresentou pela primeira vez no evento em 2002, justamente no dia que ganhamos o pentacampeonato com Ronaldo e companhia.

Três Palcos e apoio ao underground

A logística do Festival colocou os dois palcos principais (BB Seguros e Eisenbahn) muito próximos, facilitando o deslocamento para não perder nenhum acorde. A área ainda contava com uma pista de skate que resgatou a união do esporte com o rock e ainda permitiu que os praticantes tivessem direito a meia entrada.

Do Palco Eisenbahn a curadoria do Festival teve grandes acertos. Começando pelas argentinas do Fin Del Mundo, primeira banda a subir neste palco, com seu indie rock melancólico. Desta tônica saíram também Terno Rei, lançando seu novo álbum “Nenhuma Estrela”. Inclusive, a banda abriu o show com “Próxima Parada”, um dos singles deste trabalho.

Outro destaque ficou por conta do Menores Atos, a primeira banda do sábado e que foi a responsável por trazer as pessoas mais cedo ao festival. Já a Trampa foi a maior surpresa. Com um som marcado por influências do Rage Against The Machine e muito protesto político, o show teve uma super produção nos telões, algo que não foi visto nem pelas bandas internacionais.

Foto: José Maria Palmieri

Agora nem Sepultura e Dead Fish superaram a dobradinha de palco de Raimundos e Little Quail and The Mad Birdies. As duas bandas de Brasília levaram os mais velhos de volta aos anos 90.

Liderada por Gabriel Thomaz, a banda tocou o hit “Aquela” logo no início. A canção foi regravada justamente pelos Raimundos em seu último álbum com Rodolfo (Só no Forevis – 1999). O setlist também contou com o hardcore “1,2,3,4” e o blues bem humorado “Essa Menina” que liderou o Disk Mtv.

Mais atrás, o palco Sesc reuniu bandas do underground e os vencedores das seletivas com bandas de todas as regiões do Brasil. Destaques para o hardcore do DFC e Pense, além da estreia da nova banda da Deck Disk, a Swave que reúne membros de bandas como Sugar Kane, Supercombo, Ego Kill Talent e Far From Alaska.

O local ainda contava com um camarote que funcionava também como uma pista premium ao lado esquerdo do palco principal.

Os 10 melhores momentos do Porão do Rock

Escolher o melhor show sempre acaba sendo polêmico e uma opinião muito pessoal. Uma banda do underground como a Trampa, por exemplo, fez um show impecável e com produção de telão digna de headliner.

Ainda tivemos grandes shows como Menores Atos, Terno Rei, Swave e as argentinas do Fin Del Mundo. Por isso, preferi focar nos melhores momentos do festival, que relato abaixo:

10. Bayside Kings e o Caos de Moshes e Stage Dives (Palco Sesc)

Pela primeira vez no line up do festival, o Bayside Kings causou uma boa impressão e mostrou que pode ganhar mais vagas nos principais festivais do país.

Milton Aguiar, vocalista, é um frontman que sabe comandar o público regendo moshes e stage dives como se fosse um maestro.

A partir do momento que o primeiro espectador pula do palco, o caos está instalado. Banda e público viram um organismo só funcionando em plena sinergia.

09. CPM22 e a Nostalgia do coral em Não Sei Viver Sem Ter Você (Palco BB Seguros)

Desde o ano passado rodando com a turnê do novo álbum Enfrente, o CPM22 mostra que marcou toda uma geração com seus principais hits sendo cantados em coro.

A parada programada de “Não sei viver sem ter você” transformou o festival em um verdadeiro coral cantando o principal hit do álbum Chegou a Hora de Recomeçar (2002).

08. Velvet Chains com Presença de Palco e Cover de Elvis Presley (Palco BB Seguros)

Foto: Renato Melo

O Velvet Chains, de Las Vegas (EUA), foi o responsável por fechar o primeiro dia de festival no palco principal. Misturando Hard Rock, Post Grunge e Metal, a banda funciona como uma divertida fusão de Avenged Sevenfold com Creed.

A presença de palco de todos os integrantes é um show à parte, com todos eles utilizando todo o espaço do palco, bem como a passarela frontal. Logo de cara, o guitarrista Von Boldt já desceu do palco e tocou a primeira música inteira nas grades que separam o palco da platéia.

O cover de Suspicious Minds de Elvis Presley, presente no último EP da banda “Last Rites”, lançado em abril, foi um deleite a todos que ficaram para prestigiar.

07. O Último Festival do Sepultura no Brasil (Palco BB Seguros)

Foto: Renato Melo

São 23 anos de relação e sinergia do Porão do Rock com o Sepultura então, nada mais natural do que ser o último festival agendado pela banda no Brasil em sua turnê de despedida.

E o maior representante do metal brasileiro não decepcionou, provando que boa parte do público foi para assisti-los. A reta final com hits como Chaos A.D., Ratamahata e Roots Bloody Roots, com a bandeira brasileira no telão, já deixou um gosto de saudade no ar.

06. Raimundos jogando em casa com Mosh Verde (Palco BB Seguros)

Celebrando seus 30 anos de carreira, o Raimundos fez seu primeiro show após o lançamento do álbum “XXX”. A banda foi a primeira a se apresentar no palco principal e responsável por trazer o público mais cedo ao festival.

Havia uma expectativa pelo encontro de diferentes ideologias diferentes, com públicos de Black Pantera e Dead Fish no mesmo local. O vocalista Digão, em desabafo no Instagram, contou que houve muito comentário negativo antes do show, mas o público mostrou que, mesmo a poucos metros da Praça dos Três Poderes, o assunto política ficou somente para comentários na internet.

Jogando em casa, o Raimundos foi ovacionado com direito a mosh com sinalizadores e até fumaça verde, que foi filmado e em breve irá aparecer nas redes sociais. Hits como “Eu Quero Ver o Oco” e “Esporrei na Manivela” dividiram espaço com as novas “Os Calo” e “Maria Bonita”.

05. Stone Temple Pilots tocando Plush pela primeira vez em Brasília (Palco BB Seguros)

O maior nome do festival, o Stone Temple Pilots provou porque é uma das bandas mais queridas do grunge. Tocando pela primeira vez em Brasília, o show foi comandado pelo vocalista Jeff Gutt.

Gutt prova não sentir o peso de substituir os saudosos Scott Weiland e Chester Bennington ao continuar o legado da banda, que fez um set dedicado aos 30 anos de Purple. Hits dos álbuns Core, Tiny Music e Nº4 também foram celebrados.

Destaque para execução emocionante de “Still Remains”, dedicada a Weiland, e hits como “Vasoline” e “Interstate Love Song”. Mas, foi o hit “Plush” que arrepiou e foi cantado a plenos pulmões por todo o público presente.

04. Dead Fish faz show enérgico digno de headliner (Palco Eisenbahn)

Tocando minutos após o Sepultura e ignorando a lesão na perna de Igor Tsurumaki (baixista), que teve que se apresentar sentado, o Dead Fish fez um show digno de headliner principal.

Foram intensos moshes e repertório especial em celebração aos 34 anos da banda, que incluiu “Mulheres Negras” e “MST” dos primeiros álbuns, sem esquecer das novas “Estaremos Lá” e “Dentes Amarelos”, presentes no último registro Labirintos da Memória.

Em bate papo antes do evento, o vocalista Rodrigo Lima falou “A gente nunca sobe no palco para fazer mais ou menos” e é essa sensação que temos ao ver um show do Dead Fish.

03. BaianaSystem e a brasilidade do Saci (Palco BB Seguros)

Você pode até não ouvir BaianaSystem, mas é impossível não ficar hipnotizado com a apresentação da banda. Liderada por Russo Passapusso, a banda provou que era uma das atrações mais aguardadas do Festival, mesmo que seu estilo AfroRock seja mais distante das outras atrações.

Em conversa com Ivan Hauer, um dos sócios do evento, ele me confidenciou que estava muito ansioso com a apresentação do grupo. “Foi a banda que mais soube aproveitar o tamanho do palco e preparou tudo sob medida, solicitando inclusive o pixel map”, confessa.

A sensação era de que a qualquer momento uma cantora Pop como Lady Gaga ou Beyoncé viriam ao palco, tamanha a estrutura apresentada.

Ao executar “Saci”, letra que usa o folclore para discutir questões sociais do Brasil, o grupo trouxe um homem, representando o Saci no palco, que desceu para o meio da galera junto a Passapusso. E ai vimos de tudo, cantorias, capoeira e sensação de presenciar algo único, uma verdadeira fusão das raízes africanas com o tempero brasileiro.

02. The Mönic (Palco BB Seguros)

Se tem uma banda que saiu do Porão do Rock muito maior do que entrou, essa banda foi a The Mönic.

Lideradas por Dani Buarque, mostraram como o underground brasileiro é rico e com muitos artistas de qualidade.

A vocalista e guitarrista, inclusive, pulou o palco e a grade para se juntar ao mosh com o público presente. Com certeza essa será uma cena que estará no próximo livro de memórias do Porão do Rock.

01. Wall of Death do Black Pantera (Palco Eisenbahn)

Foto: Renato Melo

Só quem já foi no show do Black Pantera sabe o que é um show do Black Pantera. O trio, comandado pelo carismático Chaene, sabe preparar momentos durante a apresentação como se fossem capítulos. É o caso da banda que consegue ser melhor ainda ao vivo do que em estúdio.

São muitos momentos de destaques, como a emocionante Tradução, homenagem a mãe de Chaene e Pancho, a “Roda das mina”, um mosh especial só com mulheres, e o momento mais caótico do festival: Wall of Death.

A prática divide o público formando duas paredes, uma em frente a outra. Assim que o comando veio do palco, ambos os lados correm como se fosse uma guerra e celebram com um intenso mosh.