A vinda ao Brasil de grandes nomes da música, principalmente os surgidos nos anos 1960 ou 1970, sempre vem acompanhada das mesmas discussões: possível aposentadoria, segredos para a longevidade, alterações nas vozes e assim por diante. Para a imprensa, ignorar esses pontos é quase impossível. Mas tentarei não me apegar a esses pontos.
No último domingo (15), o Sir Paul McCartney, ex-Beatles e ex-Wings, atualmente com 75 anos, retornou a São Paulo. Novamente no Allianz Parque, mesmo estádio onde se apresentou em 2014, em sua última passagem pela Cidade, o músico manteve suas principais características intactas: carisma de sobra, um caminhão de hits e um palco repleto de efeitos visuais delicados e perfeita harmonia com as canções.
As novidades vieram no repertório. Quem esteve na última turnê do britânico em São Paulo, acompanhou 13 alterações no set list. Entre uma raridade (In Spite of All the Danger, do The Quarrymen, banda que deu origem aos Beatles) e uma inclusão ousada (FourFiveSeconds, faixa gravada com Rihanna e Kanye West), Sir McCartney resgatou grandes sucessos de sua principal banda, como A Hard Day’s Night e Can’t Buy Me Love, ambas no início da apresentação.
Entre as boas novas ainda teve espaço para Love Me Do, I’ve Got a Feeling, A Day in The Life e Drive My Car, que embalaram a noite de 45 mil pessoas, capacidade máxima do estádio do Palmeiras para shows.
Mas muito mais do que lembranças da sua carreira, Paul presta homenagens aos seus ex-companheiros: John Lennon (1940-1980), George Harrison (1943-2001) e Ringo Starr. Em A Day in the Life, por exemplo, incluiu um trecho de Give Peace a Chance, que logo na sequência veio acompanhada de gritos de John, John, John. Paul, inclusive, acompanha o coro.
O mesmo acontece quando encerra a sua versão própria para Something, com ukulele no início. George passa a ser o nome reverenciado com direito a Ole, ole, ole, George, George. Paul se diverte com as reações dos fãs. Dança, canta junto, acompanha o grito no baixo.
E esse clima que o músico passa do palco é transferido para o público. Na pista premium, por exemplo, muitos fãs ajudavam uns aos outros na hora de preparar a câmera do smartphone para garantir os melhores registros, guardavam lugar para quem havia chegado mais cedo, compartilhavam a cerveja. O clima de paz reinava por ali. E muitos deles nem se conheciam.
A única exceção era uma adolescente, de 15 anos, que tirou o público do sério. Disposta a mostrar um cartaz para Paul, no qual pedia um abraço do músico, ela levantou o recado (em uma cartolina) várias vezes. Resultado? Vaias, ofensas e ameaças. Quando, enfim, uma fã mais revoltada arrancou o cartaz da menina, boa parte do canto direito do palco vibrou. Mas sem tristeza, a adolescente continuou curtindo o show e a paz voltou a reinar por ali.
Agora que me dei conta que esqueci do Ringo. Ele também foi lembrado por Paul. Foi quando o músico anunciou que tocaria uma música que escreveu para os Rolling Stones atingirem o primeiro lugar nas paradas britânicas, I Wanna be Your Man.
E entre brincadeiras e tentativas de falar em português, McCartney seguiu homenageando pessoas importantes em sua vida. Dedicou My Valentine à atual esposa, Nancy Shevell. “Ela está aqui hoje”, disse, sem esconder a felicidade.
George Martin (1926-2016), produtor dos Beatles, foi lembrado com Love Me Do. Jimi Hendrix (1942-1970) teve seu momento com um trecho instrumental de Foxy Lady, inserida em Let Me Roll It, do Wings.
Ex-esposa do Beatle, Linda McCartney (1941-1998), que era parceira de Paul no Wings, também foi reverenciada. E a banda dos dois apareceu com força no repertório, com destaque para as clássicas Jet, Nineteen Hundred and Eighty-Five, Band on the Run e Live and Let Die, com várias explosões dignas de assustar qualquer fã.
Enrolando
Entre uma música e outra, Paul McCartney brincou com os fãs, tentando falar em português. Munido de várias colas, arriscou palavras como legal, da hora, boa noite, obrigado, além de pedir apoio no coro de forma inusitada. Em Hey Jude, por exemplo, pediu para os manos cantarem um pouco do na, na, na. Depois, convocou as minas para fazerem o mesmo.
Fotos: MRossi/Divulgação
SET LIST
A Hard Day’s Night
Junior’s Farm
Can’t Buy Me Love
Jet
Drive My Car
Let Me Roll It
I’ve Got a Feeling
My Valentine
Nineteen Hundred and Eighty-Five
Maybe I’m Amazed
We Can Work It Out
In Spite of All the Danger
Love Me Do
And I Love Her
Blackbird
Here Today
Queenie Eye
New
Lady Madonna
FourFiveSeconds
Eleanor Rigby
I Wanna Be Your Man
Being for the Benefit of Mr. Kite!
Something
A Day in the Life
Ob-La-Di, Ob-La-Da
Band on the Run
Back in the U.S.S.R.
Let It Be
Live and Let Die
Hey Jude
Bis:
Yesterday
Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Reprise)
Helter Skelter
Birthday
Golden Slumbers
Carry That Weight
The End