Foram necessários mais de 30 anos para recebermos uma apresentação do Mighty Mighty Bosstones no Brasil. A comoção do público presente ao Carioca Club, na noite desse sábado (6), era tão grande que fez com que o carismático vocalista, Dicky Barrett, pedisse desculpa pela ausência logo no início da apresentação…
“Nós nunca estivemos aqui antes. Não só em São Paulo, mas no Brasil e na América do Sul. Desculpa por isso. Nós não sabíamos dessa força. Agora nós sabemos”, disse antes de começar Simmer Down, canção do Wailers regravada por eles.
O show do Mighty Mighty seguiu o roteiro já esperado: todos trajando roupas sociais com a logo da banda nas costas, trio de metais empolgado, Dick Barrett como mestre de cerimônias e Ben Carr (dançarino, manager, percussionista e tudo mais da banda), que por muitas vezes rouba a cena, dançando durante 1h10 (tempo total da apresentação) sem parar.
O repertório escolhido pela banda priorizou um passeio equilibrado por toda discografia. Misteriosamente, nenhuma faixa de Pay Attention (2000), um dos discos mais pop da carreira, entrou no set. Nada que desanimasse os fãs, que foram recompensados de outra forma.
Os mais saudosistas puderam ouvir dois sons do álbum de estreia, Devil’s Night Out (Faixa título e Hope I Never Lose My Wallet), além de outras quatro do trabalho seguinte, More Noise and Other Disturbances (Dr D, He’s Back, Where’d You Go? e Cowboy Coffee), registros de uma fase mais pesada dos caras, sem tanta inclusão pop.
E foi justamente com DR D que o Mighty Mighty iniciou sua apresentação, seguida pelo sucesso Rascal King, do álbum mais popular da banda, Let’s Face It (1997), que teve ainda mais duas faixas incluídas no repertório: Another Drinkin’ Song e The Impression That I Get, hit absoluto dos caras.
Uma característica da obra da banda de Boston são as releituras originais de grandes sucessos. Eles já regravaram Aerosmith, Metallica, Kiss e muitos outros nomes. Em São Paulo, essas versões não ficaram de fora. Simmer Down (Wailers) e Rudie Can’t Fail (The Clash) foram as escolhidas. E foram muito bem recebidas pelos fãs.
Mas mais do que o repertório, o que mexe bastante com os fãs é a presença de palco dos nove integrantes. O trio de metais canta, dança e pula sem parar. Ben Carr parece um fã no palco, dança o tempo todo e comanda os passos para o público. Joe Gittleman e Lawrence Katz, baixista e guitarrista, respectivamente, têm postura de integrantes de banda de punk rock, com seus instrumentos lá embaixo e sem muita firulas. Já Dick Barrett é o boa praça. Distribuiu águas para os fãs, abraçou o vocalista do Anjo dos Becos (Pirata), que subiu ao palco, e ainda deu o microfone para um fã que estava sendo levado pelo segurança para cantar uma parte da música.
Para entender o sucesso do Mighty Mighty Bosstones entre os fãs brasileiros é necessário voltarmos até 1997, época de lançamento de Let’s Face It. À época, bandas como Rancid, Green Day, Offspring e Sublime eram presenças constantes na programação da MTV, principal canal de música naquele período. E meio aos raps norte-americanos e cantoras pop, uma safra imensa de artistas independentes despontava.
O Rancid, por exemplo, já trabalhava o street punk com elementos do ska no aclamado …And Out Come the Wolves (1995). Bandas que misturavam o ritmo jamaicano com o punk ou hardcore logo viraram alvo de buscas dos fãs brasileiros. Uma delas, meu primo Cahuê, apresentou ao levar em casa o álbum Devil’s Night Out. Foi o cartão de visitas que precisava para ir atrás do som deles, à época tocando o tempo todo The Impression That I Get. E, paralelamente, fui descobrindo bandas como Dance Hall Crashers, Reel Big Fish, Goldfinger, Liberator e tantas outras, com o apoio do meu irmão Matheus.
Abertura
Antes do Mighty Mighty subir ao palco, duas bandas fizeram o esquenta para os fãs. Vale ressaltar a organização do show, que conseguiu cumprir pontualmente todo o cronograma. Os Brutus foram os primeiros a subir ao palco. O som não casava muito com o evento, mas o público, ainda muito tímido, pode acompanhar uma surf music garageira instrumental de qualidade.
No repertório, somente faixas autorais, com destaque para Trash & Twang, Terremoto e Amnésia. O show foi curto, pouco mais de 20 minutos, mas o suficiente para despertar a atenção e curiosidade de quem já estava dentro da casa.
Na estrada desde 1989, o Anjo dos Becos, também de São Paulo, teve um tempo maior: 40 minutos. A empolgante presença de palco do vocalista, Pirata, empolgou o público, que foi crescendo com o tempo. Pirata deu mosh, foi para o meio da galera e cativou a todos.
Em meio aos sons próprios, alguns cantados pelo público, a banda incluiu uma releitura de Até Quando Esperar (Plebe Rude), muito interessante. A apresentação acabou com Na Noite Somos Todos Iguais, que foi o grande ápice da noite de Pirata e companhia.
Fotos: Edi Fortini
Setlist do Mighty Mighty Bosstones
1. DR D
2. Rascal King
3. Graffiti Worth Reading
4. Someday I Suppose
5. Simmer Down
6. He’s Back
7. Where’d You Go?
8. Everybody’s Better
9. Rudie Can’t Fail
10. Nah Nah Nah
11. Last Dead Mouse
12. Cowboy Coffee
13. Another Drinkin’ Song
14. Kinder Words
15. Sunday Afternoons On Wisdom Ave
16. Hope I Never Lose My Wallet
17. Dogs & Chaplains
18. Don’t Worry Desmond Dekker
19. They Will Need Music
20. The Impression That I Get
21. A Pretty Sad Excuse
22. Muhammad
23. You Gotta Go
24. Devil’s Night Out
1 Comment
Deixe um comentário
Deixe um comentário
Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.
El Guilo
9 de agosto de 2016 at 11:15
Cara, esse show foi sensacional… Fora a confusão pra comprar cerveja, o resto,blz! A banda apresentou um set foda! Estavam tocando com o maior entusiasmo! A galera sintonizada!
Um dos 5 melhores que já fui!