Uma das vozes mais marcantes da história do rock, Robert Plant desembarcou em São Paulo nesta semana para dois shows no Espaço das Américas (última segunda e ontem). Eterno vocalista do Led Zeppelin, banda que revolucionou o gênero entre o final dos anos 1960 e início dos 1970, Robert Plant ainda empolga, apesar das mudanças e experimentos no som.
Boa parte das 8 mil pessoas que compareceu ao show solo do britânico na última segunda-feira tinham a esperança de encontrar um best of do Led Zeppelin, mesmo com todas as indicações que isso não aconteceria.
Diferentemente de Jimmy Page e Jon Paul Jones, integrantes ainda vivos do Led, que anseiam por uma nova turnê, Plant costuma soltar frases marcantes sobre tocar canções de sua antiga banda. Na década de 1980, ele chegou a dizer que “tocar essas canções é como fazer amor com a ex-mulher sem amá-la”.
Muitas pessoas comentaram ao final do show sobre a ausência de Stairway to Heaven, maior hit da banda. Mas a canção raramente é tocada. É assim desde os anos 1980.
Em entrevista ao Los Angeles Times, em 1988, Plant disse: “Eu ficaria com urticária se tivesse que cantar Stairway to Heaven em todos os shows. Eu escrevi aquela letra e achei que aquela música teria alguma importância e consequência em 1971, mas 17 anos depois eu não sei”.
Mas não podemos condenar a busca pelo novo. Aos 64 anos, Plant consegue montar um repertório com ritmos asiáticos, africanos, blues de Howlin’ Wolf, além de oito canções do Led Zeppelin. É o encontro do hard rock com a world music. Tudo isso acompanhado pelos músicos da banda The Sensational Space Shifters.
Plant nunca escondeu de ninguém sua vocação por buscar o novo, seja onde for. Kashmir, de 1974, é um exemplo disso. Considerada uma das faixas mais bem-sucedidas da banda, ela foi gravada juntamente com uma orquestra marroquina e egípcia.
O que parece não ter agradado alguns fãs, entretanto, foi a mudança no ritmo de Black Dog, um dos hinos da banda, que ganhou nova roupagem com instrumentos africanos e sem o peso das guitarras. Mas Plant compensou com versões quase fiéis dos clássicos Whole Lotta Love, Going to California e Rock and Roll, essa última cantada em uníssono pelo público.
Entre o senhor world music e o frontman do Led Zeppelin, o público não teve dúvidas: vibrou muito mais com a segunda opção. Isso, entretanto, não fez com que o músico perdesse o apoio dos fãs. Eles acompanharam Plant nas palmas, gritos e conversas descontraídas puxadas pelo britânico.
Apesar de não estar tão magrinho como já foi, Plant ainda arrisca alguns rebolados e caretas durante a apresentação. O cantor, por sinal, é muito carismático e arriscou algumas palavras em português. Foi do básico “obrigado” até uma mistura engraçada de inglês com português: “Talk to me, galera”, disse ele, pedindo o apoio dos fãs em uma das músicas.
Futuro improvável para o Led Zeppelin
Para os fãs de Robert Plant, a turnê no Brasil é uma oportunidade única de ouvir alguns clássicos do Led Zeppelin e inovações do músico. Esperar por uma turnê de reunião da banda é algo improvável. Recentemente, Gene Simmons, do Kiss, revelou que o músico recusou uma proposta de US$ 200 milhões para se reunir com os outros integrantes.
O único da formação original que não sobreviveu aos excessos dos anos 1970 foi o baterista John Bonham, que morreu em 1980 asfixiado com o próprio vômito após uma bebedeira. Jason Bonham substituiu o pai em alguns shows de reunião.
Além de São Paulo, o britânico se apresenta em mais cinco cidades brasileiras. Depois de passar por Rio, Belo Horizonte e São Paulo, ele se apresenta ainda em Brasília (amanhã), Curitiba (sábado) e Porto Alegre (segunda-feira).
Assista ao show na íntegra
Setlist:
Tin Pan Alley
Another Tribe
Friends (Led Zeppelin)
Spoonful (Howlin’ Wolf)
Somebody Knocking
Black Dog (Led Zeppelin)
Song to the Siren (Tim Buckley)
Bron-Y-Aur Stomp (Led Zeppelin)
The Enchanter
Gallows Pole (Led Zeppelin)
Ramble On (Led Zeppelin)
Fixin’ to Die (Bukka White)
Whole Lotta Love (Led Zeppelin)
Bis
Going to California (Led Zeppelin)
Rock and Roll (Led Zeppelin)