Algumas coisas mudaram profundamente a sequência de Slash e seus amigos Myles Kennedy & The Conspirators. Da última vez que veio ao Brasil, em 2015, o músico ainda não tinha retornado ao Guns n’ Roses. Consequência disso, o repertório incluiu seis faixas da sua clássica banda. Entretanto, agora que voltou ao time de Axl Rose, qual seria a lógica de tocar canções como Paradise City, Sweet Child O’ Mine, Welcome to The Jungle e You Could be Mine?
Sorte dos fãs, Slash tem isso bem claro na cabeça. Na atual turnê, Living the Dream, que passou pelo Espaço das Américas, em São Paulo, no último sábado, o guitarrista tocou somente uma faixa: Nightrain. Com a casa praticamente lotada, o grupo dedicou boa parte do set aos discos gravados com essa formação. Das 21 canções, 15 são dessa fase, que inclui os discos Apocalyptic Love, World on Fire e Living the Dream. Esse último, lançado no ano passado, teve sete músicas tocadas.
Timidez de Slash
Mas se essa mudança consciente no repertório surpreende os desavisados, Slash faz questão de manter características intactas. Uma delas é a timidez. Não fala quase nada e participa dos backing vocals em duas músicas: We’re All Gonna Die e Doctor Alibi, ambas cantadas pelo baixista canadense, Todd Kerns.
As duas músicas, por sinal, foram gravadas com vocais de grandes nomes: Iggy Pop e Lemmy, respectivamente. Os dois foram alguns dos inúmeros convidados do disco solo do guitarrista, lançado em 2010. Homônimo, o trabalho conta com as participações de Ian Astbury, Ozzy Osbourne, Fergie, Chris Cornell, Adam Levine, Kid Rock, Dave Grohl, Duff McKagan, Izzy Stradlin e Steven Adler.
O repertório do disco homônimo também inclui duas canções com vocais de Myles Kennedy, ambas tocadas no show de sábado: Back From Cali e Starlight.
Solos extensos
Mas voltando às características intactas de Slash, o guitarrista segue reinando na guitarra. Um dos mais habilidosos da história do rock, o músico não se priva nem um pouco dos seus clássicos solos. Ao término de Wicked Stone, por exemplo, solou por incríveis 17 minutos (!!!). E não foi só isso. Repetiu a dose no fim da apresentação, com mais nove minutos. Nos meus cálculos (não tão certinhos assim), o guitar hero solou mais de 40 minutos. É mais de um quarto do show.
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Entretanto, quem estava lá por Slash (100% do público) não pode se queixar. Essa característica sempre foi muito presente em seu trabalho. Inclusive com o Guns n’ Roses. Ou seja, quem viu os mais de 40 minutos de solo, foi praticamente abençoado com uma masterclass no meio do show.
Myles Kennedy boa praça
Posteriormente, fica claro que Slash é o operário da noite. Seus solos valem muito mais que qualquer refrão. Mas Myles Kennedy não deixa por menos. Além da boa voz, o vocalista do Alter Bridge tem presença de palco e é atencioso o tempo todo com os fãs.
Concluindo essa turnê, nos resta torcer para o Guns n’ Roses lançar um disco com inéditas e retornar ao Brasil. Ninguém vai reclamar se Slash intercalar uma temporada com Myles Kennedy, outra com Axl Rose. A resposta do público comprova isso. Devoção grande. Com o Guns é sempre gigante.
Foto: Eduardo Valente / Estadão Conteúdo