JULINHO BITTENCOURT
O colega de página e música Lucas Krempel fez uma enquete com várias personalidades da música em Santos e conseguiu uma lista com as cem maiores bandas de todos os tempos. A despeito de não gostar muito de listas de melhores (que me perdoe Nick Hornby), pois elas sempre tendem à injustiça, elas sempre nos revelam algo de interessante e, no meu caso, a lista de Krempel me encheu de nostalgia.
Nostalgia porque muitas, para não dizer a imensa maioria das bandas que aparecem nela, ou começaram ou, em algum momento desses últimos trinta anos, passaram pelo Torto. Mesmo as mais antigas, como o Blow Up e o Recordando o Vale das Maçãs, que já existiam antes do bar, passaram por lá, na íntegra ou com um ou outro de seus componentes.
Que o diga Lee Eliseu Filho, que tocou por lá em várias outras bandas que também aparecem na lista, como a Discover e a Jornal do Brasil. Nesta última, e em muitas outras também, esteve o Renato Pelado, a lenda da bateria, que depois virou Charlie Brown Jr e, enfim, tudo o mais é história.
O fato é que Krempel nos revela algo impressionante a respeito da Baixada Santista que quem é do meio já sabe há tempos. Temos, sim, uma lista impressionante de músicos, bandas e diversas outras formações de vários gêneros. Um universo muito incomum para uma cidade deste tamanho.
Cem bandas é um apanhado, um recorte muito pequeno, como ele mesmo diz, do cenário do rock na nossa região. Existem muitas mais. Só de saída lembro inúmeras excelentes que ficaram de fora como a Arte Cínica, Mig 19, Frente Fria e aquela que talvez seja a maior injustiça da lista, que foi citada sim, mas ficou na reserva, que é a Sombras da Noite, do guitarrista Gilvan Gomes, que depois virou Gang 90. A Gang, que também está na lista de reserva, contou com, além de Gilvan, a santista Taciana Barros, hoje na Pequeno Cidadão.
https://www.youtube.com/watch?v=_zmeRTUkCX0
Fiquei imaginando se, ao invés de se restringir ao rock, Krempel ampliasse para todos os gêneros musicais, incluindo ai samba, choro, música popular e até a música erudita, nesta cidade de Gilberto Mendes, Karametade, Gil Nuno Vaz, Marcelo Pellegrini, Grupo Temperos, Choro de Bolso, Almeida Prado, o pianista Antônio Eduardo, Rafaela Laranja, Roda de Samba do Ouro Verde, Lincoln Antônio entre um sem fim de talentos impressionantes.
Poderíamos, sim, com o peito cheio de orgulho, preparar uma lista para mais de mil nomes com talento de sobra para contar as histórias da nossa cidade. Isso tudo sem entrar em outras searas, como o nosso teatro de Plínio Marcos e Ney Latorraca entre imensos outros, a literatura de Roldão Mendes Rosa, Narciso de Andrade, Jair Freitas, Ademir Demarchi, Carlos Bittencourt Ferreira, Rodrigo Savazoni, as artes plásticas de Beatriz Rota Rossi, Gilson de Melo Barros, Daniel Bezerra, enfim, nomes, nomes e mais nomes que fazem a nossa região ser o que é. E que sempre será.
Parabéns à inciativa do Lucas. Sua lista tem o mérito enorme de nos resgatar a autoestima, de lembrar quem somos, enfim, de devolver ao santista o que é dele. E que ele talvez não saiba. Quanto às injustiças, esse é o risco de quem, assim como eu, fiz lista neste mesmo texto e devo ter cometido várias delas.