SÉRGIO DIAS
Entre 2005 e 2008, bem antes da Besouro Discos, tive uma pequena loja no Centro de Santos, chamada Box Pop. Lá você encontrava LPs e CDs de artistas e bandas consagradas até itens mais obscuros.
Sempre que chegava um lote eu procurava ouvir, principalmente os discos que não conhecia, primeiro para ficar com ele na coleção caso me interessasse – é bom lembrar que antes de ser comerciante sou um colecionador crônico – depois para poder indicar aos futuros compradores.
Numa tarde quase na hora de encerrar o expediente, chega um cliente separa alguns discos pra levar e outros para ouvir, antes de fechar a compra. Naquele dia por acaso não tive tempo de escutar todos os itens que haviam entrado num pequeno lote.
Começamos aquele ritual natural de uma loja de discos. Eu colocava o CD e ia passando algumas faixas aguardando o sinal positivo, ou negativo do cliente. O terceiro item que iríamos ouvir era uma banda chamada Big Lost Rainbow, capa preta com o nome do grupo escrito, nada muito atraente, nunca tinha visto na vida.
Coloquei a primeira faixa e gostei de cara, um folk suave, tranquilo, bem setentista, com harmonias lembrando Crosby, Stills and Nash, passei para a segunda faixa e o som era cada vez mais agradável. Eu já tinha decidido, esse disco tinha que ser meu, mas agora estava nas mãos do cliente, e eu apavorado aguardando sua decisão.
Tentei uma última cartada: da segunda faixa pulei rapidamente para as últimas na esperança de que o álbum tenha tido uma queda de nível, mas para meu desespero não, continuava lindo. Passei para o outro item sem nenhum comentário, cliente também nada disse e seguimos ouvindo os discos subsequentes.
Bem, chegou a hora de fechar a compra e para minha tristeza, o Big Lost Rainbow estava na pilha dos que iriam embora. O cliente perguntou o valor total, abriu a carteira e viu que não teria todo o dinheiro, tinha que tirar um disco para acertar. Ele olha minuciosamente cada um, pensa muito, e decide não levar o… BIG LOST RAINBOW!!!
Com a felicidade estampada no rosto e aliviado, procurei saber sobre a história da banda. Eles se reuniram em 1970, estavam contra a corrente da época onde o peso do hard rock imperava. Com um som delicado, leve, sem bateria, começaram a se apresentar em faculdades americanas, até gravarem seu único registro em 1973.
Foram apenas 200 cópias, que se esgotaram rapidamente precisando de outras duas prensagens. Mesmo assim a versão em vinil é raríssima disputada à tapa por colecionadores. Em 1998 saiu a tal edição digital pelo selo Gear Fab, especializado em relançamentos de artistas obscuros.
Nas minhas andanças por lojas nunca mais vi este disco. Uma vez comentei com o Kid Vinil sobre a banda, ele disse que é bastante difícil de encontrar e que gostaria de ter todos os lançamentos da Gear Fab.
https://www.youtube.com/watch?v=9hxu_zv7yUQ