Andy Warhol era (também) o ‘cara’ da música

Andy Warhol era (também) o ‘cara’ da música

LUTTI AFONSO

Quem nunca entrou em um supermercado e viu na prateleira uma latinha da sopa americana Campebell’s atire a primeira pedra. Quem nunca viu o quadro Four Marilyns também atire a primeira, talvez, a segunda pedra. E quem curte rock ou é apaixonado por arte e design, certamente, já viu ou ouviu falar da icônica capa do disco The Velvet Underground and Nico, aquele da banana, trabalho de estreia da banda de Lou Reed.

A relação da latinha de sopa, da Marilyn e da banana tem apenas um nome em comum: Andy Warhol.

Andy Warhol (1928 – 1987) foi o ‘cara’ da arte pop norte-americana, um artista multimídia que, com seu estilo único, ficou famoso por retratar rostos conhecidos, como alguns ídolos do cinema e da música. Tornou-se referência no cenário musical e um dos artistas plásticos mais bem-sucedidos. Sua influência continua presente 30 anos após sua morte, completados este ano.

Nas décadas de 1950 e 1960, as capas já não eram apenas simplesmente ilustradas. O próprio Warhol provou que existia interatividade com quem comprava vinis, com capas ousadas e emblemáticas. E suas criações atraíram artistas de diferentes gêneros musicais.

Warhol financiou e gerenciou a banda de rock nova-iorquina The Velvet Underground, além de desenhar, em 1967, a capa notável que trazia uma banana amarela como adesivo, que convidava a “descascar e ver” uma banana avermelhada para o álbum The Velvet Underground & Nico, há exatos 50 anos.

 

Para a produção dessa capa foi preciso usar uma máquina especial para aplicar o adesivo. Foi também um lançamento histórico do selo Verve no rock e um fracasso nas vendas. Mas isso não impediu que a arte do disco fosse eternizada em estampas de camisetas, almofadas e pôsteres nos dias atuais, já que é considerado um dos álbuns mais influentes da história da música. A identidade visual da capa deu até briga, quando os roqueiros reclamaram dos direitos autorais da banana para uso comercial e processou a Fundação de Andy Warhol, em 2012.

O disco de estreia da banda foi gravado em uma semana e teve a participação de Nico, cantora alemã e amiga de Warhol, contrariando o grupo. Essa participação não durou muito e a banda também não (1965 – 1970).

Da esq pra dir: Sterling Morrison, Nico, Maureen Tucker, John Cale e Lou Reed

A parceria de Warhol com a banda ainda revolucionou o cenário de shows. Rendeu a turnê The Exploding Plastic Inevitable, em 1966, um show experimental e artístico que misturava filmes, dança e pop art.

O artista também produziu duas capas para os Rolling Stones. A primeira para o álbum Sticky Fingers, LP de 1971. Design que foi indicado para o Grammy Award no ano seguinte.

A ideia, junto com o diretor de criação Craig Braun, de 78 anos, que hoje é ator – foi usar a foto de uma calça jeans em close do genital masculino, com um zíper de verdade que, ao ser aberto, revelava uma cueca branca. A foto dessa capa continua um mistério. Craig chegou a afirmar em entrevista ao The New York Times, em 2015, que a identidade do modelo segue anônima. Há boatos na internet que a foto é do ator Joe Dallesandro. Outros acreditam que possa ser do próprio Jagger.

Mas isso não muda em nada o fato desse LP ser considerado um dos melhores álbuns da banda. Tanto que os Stones confirmaram isso, quando relançaram esse disco há dois anos, com a turnê Zip Code, para celebrar seus clássicos apenas nos EUA e em Quebec, no Canadá.

Craig contou ainda nessa entrevista que, nas primeiras tiragens do álbum, o fecho do zíper arranhava o vinil. Isso acontecia por causa do peso dos discos empilhados, durante o transporte para as lojas. A solução foi abrir o zíper mais pro meio da capa. O disco trouxe também, pela primeira vez, o conhecido logotipo da língua estampado na contra-capa.

Mick Jagger queria uma capa ousada e conseguiu. Esse álbum causou muita polêmica pela extravagância de Warhol e, em alguns países, a capa teve de ser substituída. Na versão espanhola, três dedos femininos estão saindo de uma lata e, na versão russa, a foto do jeans é de uma mulher.

O outro disco foi o álbum Love You Live, de 1977, o terceiro ao vivo da banda, que tem o retrato de Mick Jagger mordendo a mão de alguém.

Ícone pop
Em 1971, David Bowie ficou fascinado depois de assistir a peça Pork, escrita por Warhol, em Londres. E foi inspirado pela criatividade dessa peça que escreveu a música Andy Warhol, do álbum Hunky Dory, do mesmo ano. Regravaram a música: Dana Gillespie (1974), Treepeople (1989) e Stone Temple Pilots (1992). Se nunca ouviu, aperta o play e, se já ouviu, aperta o play para ouvir mais uma vez na voz de Bowie.

Outros artistas usaram a estética de Warhol em seus discos e videoclipes. Madonna, em 2009, encomendou a capa para a coletânea do álbum Celebration ao artista de rua, o francês Mr. Brainwash. Com visual anos 1980 fez uma alusão a Marilyn Monroe e o artista honrou a arte pop com um trabalho belíssimo.

O conceito está presente no álbum Hot Space (1982) do Queen. A formação em design do cantor Freddie Mercury ajudou na escolha da capa, propondo a foto de cada integrante em seu próprio quadrado colorido.

Para Steve Averill, designer das capas da banda irlandesa U2, o álbum Pop (1997) teve a inspiração dos artistas Andy Warhol e Roy Lichtenstein. “Queríamos um design que refletisse os artistas pop, não como uma homenagem, mas como algo que eles teriam feito na época, se tivessem a tecnologia que temos”, disse no livro U2 Show.

A banda britânica Blur (britpop e rock alternativo) lançou o álbum Blur: The Best Of, criação do artista plástico inglês Julian Opie, em 2000. A referência de repetição da obra do gênio pop é nítida nessa capa, apesar de Opie não assumir. Em entrevista para a Folha de S. Paulo há quatro anos, disse que retratou o estilo que o consagrou na pintura: contornos de linha grossa e negra para reproduzir os olhos e o rosto, fazendo uso da tecnologia misturada com a arte japonesa, histórias em quadrinhos e quadros do século 18.

Lady Gaga é quem mais usa a estética das cores fortes e vibrantes nos vídeos, contrastando com o preto e branco, como no clipe de Telephone, que tem a participação de Beyoncé, uma superprodução de mais de 9 minutos.

No clipe Rude Boy, Rihanna mistura as cores saturadas, geometria e o uso da repetição de Warhol com a expressão gráfica, no melhor estilo de Keith Haring, com traços simples e bidimensionais, no padrão jamaicano.

Poderia ficar aqui citando inúmeros videoclipes que são inspirados no movimento artístico, mas vamos deixar para uma próxima coluna! Confira abaixo algumas produções de Warhol no cenário musical.

Moondog, álbum The Story of Moondog, de 1957

 

Kenny Burrell, álbum Blue Lights, de 1958

 

John Cale, álbum The Academy in Peril, de 1972

 

Paul Anka, álbum The Painter, de 1976

 

Liza Minnelli, álbum Live At Carnegie Hall, de 1979

 

Billy Squier, álbum Emotions in Motion, de 1982

 

Diana Ross, Silk Electric, de 1982

 

John Lennon, álbum Menlove Ave, de 1986

 

Aretha Franklin, álbum Aretha, de 1986

 

Debbie Harry, álbum Blondie 4(0) ever, de 2014

E aí, qual foi a sua capa preferida? Se quiser saber mais sobre o artista pop, acesse o site do museu dedicado a sua obra.

Até a próxima Art Rock!

Créditos: Fotos reprodução Google / arte: Mônica Sobral