Por Jonathan Vincent
Talvez um dos artistas mais criativos a pisar no palco do Lollapalooza neste ano, Childish Gambino é a alcunha musical do ator Donald Glover (conhecido por ser o Troy da série Community). O rapper foge completamente dos esteriótipos convencionais do hip-hop moderno, sendo um verdadeiro “showman”, já que além de atuar e cantar, ele também é comediante de stand-up e ex-roterista do seriado 30 Rock.
Fugindo completamente da convencional temática “gangsta”, Childish Gambino escreve letras sobre ter um relacionamento amoroso que dure até o ano de 3005 ou tratando da exposição da violência urbana na internet. Em outras oportunidades, o rapper também trata de assuntos como depressão, solidão e questionamentos existenciais da vida contemporânea. Porém, ainda há espaço para canções que inflam o ego do artista com versos como “Cara, por que todo ator negro vira rapper? / Eu não sei, tudo que sei é que sou o melhor de todos”. Bipolaridade resume bem o estilo de Gambino.
A versatilidade dos temas tratados nas rimas casa muito bem com a capacidade de Childish Gambino cantar como um excelente intérprete de R&B. Enquanto a maioria dos rappers precisam de legítimos cantores para os refrões mais intensos, ele simplesmente faz o trabalho completo nesse aspecto.
Para completar o pacote, ele conta com a ajuda do produtor Ludwig Göransson, responsável pela maioria das batidas que embalam suas principais composições. O sueco de nome complicado costuma compôr a trilha sonora de seriados e traz um ar de novidade às habituais batidas do gênero, criando uma espécie de “hip-hop progressivo” composto de longos instrumentais hipnotizantes.
O que eu preciso conhecer do Childish Gambino para curtir o show deles?
Dos dois álbuns gravados, o segundo é o que merece mais atenção. Because the Internet funciona como uma espécie de “ópera-rock” do hip-hop e conta a história de um garoto influenciado intensamente pela internet e a sensação de vazio. A forma como o enredo se desenrola é muito mais metafórica do que a habitual narração de uma série de eventos. Apesar do tom pretensioso, isso não impede que o disco traga as canções mais acessíveis ao grande público da carreira musical de Gambino até aqui, como as músicas The Worst Guys, 3005 e Telegraph Ave., por exemplo.
Childish Gambino lancou recentemente dois EPs entitulados STN MTN e Kauai. O primeiro chega a parecer até mesmo uma sátira as famigeradas mixtapes de hip-hop, com um DJ que não para de falar durante as músicas e batidas dignas de se tocar em um volume bem alto ao dirigir. Já o segundo recupera o aspecto que fez de Because the Internet tão charmoso, trazendo uma história contada em instrumentais mais relaxantes e estrelada por Jayden Smith (filho do ator Will Smith e rapper nas horas vagas).
Além disso, Kauai ajudou a trazer ao mundo o simpático clipe de Sober, em que Gambino mostra não só seus dotes como ator, como também de dançarino.
Voltando um pouco no tempo, o álbum de estreia Camp, lançado em 2011, foi amplamente criticado pela crítica musical por trazer um Gambino ainda ineficiente na hora de entregar as rimas e melodias pouco inspiradas (praticamente o contrário do que Because the Internet veio a ser). No entanto, ainda houveram alguns sucessos moderados na época, como Bonfire e Heartbeat, que devem fazer parte do setlist apresentado durante o Lollapalooza.
Assim como fizemos com o Interpol, o Blog N’ Roll também preparou uma playlist com as melhores canções do artista disponibilizadas no Spotify para você ouvir e conhecer melhor um dos maiores nomes do hip-hop contemporâneo.