Nesta sexta-feira (6) desembarca mais uma vez no nosso humilde país, a mais brasileira de todas as bandas suecas, o Millencolin. O quarteto começa hoje, em São Paulo, a sua série de shows pelo Brasil, passando ainda por Curitiba no sábado, e Porto Alegre no domingo.
Em sua sexta passagem por Terra Brasilis, o Millencolin se encontra em plena forma e amadurecimento, e pode-se dizer que no quesito musicalidade, atinge o auge da banda, por dividir seus shows em “blocos”, elaborando emendas entre as músicas no melhor estilo pout-pourri e por sempre tentarem algo novo dentro da sua própria obra.
A tour tem base o último disco da banda, True Brew, que revitalizou a onda de fãs dos suecos, e que trouxe de volta aqueles que já não acreditavam mais no Millencolin. A faixa que dá título ao disco, inclusive teve clipe gravado aqui na nossa terrinha, mais precisamente em Fortaleza.
O Início:
O Millencolin completa 23 anos de existência em 2017. Começaram como um power trio na pequena cidade de Örebro, com Mathias Färm na bateria, Nikola Sarcevic no baixo/vocal e Erik Ohlsson na guitarra, e tocavam covers de bandas que idolatravam através das fitas VHS de Skate. O próprio nome da banda veio inclusive da manobra “melancholy”, sendo estilizada por motivos de fonética algum tempo depois.
A banda sentia falta de uma segunda guitarra, e por não encontrar alguém que tocasse, o então baterista Mathias Färm pulou do banquinho da batera e foi para as seis cordas, dando lugar a Fredrik Larzon, que já havia realizado algumas jams com a banda, e tocava em outros grupos da região de forma part-time.
Com a formação que dura até hoje gravou duas demos que chegaram no então recém-formado selo Burning Heart Records (que já lançou Asta Kask, Bomshell Rocks, The Hives e outros), resultando na gravação do primeiro disco da banda, Tiny Tunes (1994).
O primeiro LP do Millencolin chamou a atenção da americana Epitaph, que já no ano seguinte lançava o segundo disco, Life On A Plate, álbum que hoje é verdadeiro objeto de adoração de muitos fãs, seguido de For Monkeys em 1997, que atribuiu ao Millencolin sua primeira tour Sul-Americana e participações em eventos com a mitológica Vans Warped Tour.
A Trilogia de Sucesso:
No Verão de 1999, o Millencolin já planejava seu 4º disco, sabendo disso, o chefão da Epitaph e produtor Brett Gurewitz os convidou para passar um tempo em Los Angeles, e de quebra gravar o próximo LP. E no berço do Hardcore Melódico, foi concebido Pennybridge Pioneers, o mais bem sucedido álbum da banda até os dias de hoje, e recheado dos maiores hits.
O disco recebeu certificação de ouro nos EUA, resultado de um trabalho de divulgação muito inteligente por parte da Epitaph, permitindo que músicas como No Cigar se tornassem clássicos em video-games como Tony Hawk’s Pro Skater 2. Além disso, Penguins & Polarbears, Devil Me e a já antiga Twenty Two fizeram parte de Dave Mirra’s Freestyle BMX, e Duckpound em Pro Evolution Soccer 2008. Tudo isso fez com que a banda se popularizasse ainda mais com a mulecada que jogava video game e ao mesmo tempo buscava algo novo pra escutar, eu mesmo fui vítima disso.
https://www.youtube.com/watch?v=V8TIgn1z33o
Não perdendo tempo, a banda lançou em um período de 5 anos dois outros grandes álbuns, Home From Home e Kingwood, de 2002 e 2005 respectivamente.
À essa altura, o Millencolin já colhia os frutos plantados na obra anterior, e já se tornavam headliners de festivais como o Big Day Out na Austrália e Area4 na Alemanha.
Ambos discos são obras extremamente maduras, e musicalmente, de longe, são os discos mais ousados do Millencolin. Infelizmente são álbuns muito subestimados seja por banda, seja por parte dos fãs.
Dramas Pessoais e Hiato:
Durante a Tour de Home From Home, Miodrag Sarcevic, irmão do vocalista Nikola desapareceu. Uma busca por toda Suécia iniciou, mas em 2007, Miodrag foi encontrado morto. Esse foi ponto crucial para que Nikola trabalhasse ainda mais em novas composições, chegando até se lançar em carreira solo em 2004, e em 2008, a banda lançou Machine 15, um disco não tão querido por boa parte dos fãs, talvez pelo clima carregado que o principal compositor da banda enfrentava em sua vida, o que refletiu em sua obra.
Em 2011, Nikola entrou na faculdade, cursou e se formou em Marketing. Enquanto isso, Mathias Färm montou o Franky Lee, banda mais puxada ao Hardcore Punk, Erik Ohlsson dedicou ainda mais seu tempo à sua empresa de Design Gráfico, e Fredrik Larzon se envolveu com Drag Racing (não do RuPaul, aquele de carro de arrancada).
O Retorno e a Redenção:
Em Fevereiro de 2015 o Millencolin anunciou que seu próximo disco se chamaria True Brew, sendo lançado em Abril daquele ano. De cara, a banda lançou o single Sense & Sensibility, uma crítica ao conservadorismo e a crescente de movimentos de direita na Europa.
Além do tema extremamente politizado, o que chamou atenção de todos os fãs da banda foi o fato de o rápido tempo e o trabalho de guitarras em oitavadas terem retornado à um single da banda, criando altas expectativas para o lançamento.
O disco foi muito bem recebido, por ser algo de fácil apreciação. O fã de cada “época” ou “fase” é homenageado nesse disco. Quer faixa que destaque mais o trabalho de guitarras? Toma Autopilot Mode e Egocentric Man. Gosta de algo mais pop e com refrões que grudam na cabeça? Chameleon e Bring Me Home são para você. O fato é que este disco, conforme citado no início do texto, deu um ar totalmente novo e fresco seja para os fãs, quanto para o próprio Millencolin.
Com músicas candidatas à futuros hits e clássicos da banda, o Millencolin retorna ao país pela 6º vez, a 2º promovendo True Brew no Brasil. Nos shows anteriores de Chile e Argentina, nenhuma surpresa no setlist, mas quem acompanha a banda nas redes sociais, sabe que estão experimentando músicas novas. Será que para o Brasil os suecos irão preparar alguma surpresa? Você só irá descobrir se você comparecer hoje no show dos caras.
Get up! C’mon!