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Arkie do BRock #33 – Batom, blushs e ousadia: o toque feminino no rock brazuca

A menina loira que surgiu de uma cidade industrial reina quase que de forma onipresente no inconsciente coletivo como única represente do sexo feminino na primeira dentição do roque brazuca. Embora o pioneirismo seja atribuído à Celly Campelo (1942-2003) – que abandonou os palcos no auge da fama para se dedicar à vida conjugal –, Rita Lee Jones não esteve sozinha a trilhar por esse malfadado caminho nos primórdios do rock’n roll sob os trópicos.

Aliás, o gênero em terras tupiniquins deve, e muito, à ousadia feminina para se consolidar como fenômeno de massa jovem, mesmo distante do mainstream e exposição midiática de então. A ex-Mutante é, sem dúvida, a principal voz no engatinhar do universo roqueiro no limitadíssimo mercado fonográfico em terras brasileiras. Razão pela qual recebe, carinhosamente, a alcunha de Rainha do Rock nacional.

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Sem a Ritinha dos Mutantes – e sua riquíssima discografia seguinte, mesmo flertando com outros gêneros musicais –, possivelmente, todas as gerações seguintes de roqueiras poderiam ter sido limadas antes mesmo de comprovarem que testosterona, apenas, não garante atitude rock star. E que a sensibilidade típica feminina faz uma feliz união com o gênero.

Rita Lee – …Tem uma Cidade”

Claros exemplos disso já passaram por essa coluna: Ana, vocal e piano da obscura banda psicodélica Perfume Azul do Sol ; o voo cego de Jane Duboc, no clássico absoluto do progressivo planetário, Depois do Fim, do Bacamarte; e a fase de nitroglicerina pura de Gal Costa. Os três exemplos acima não arranham nem a borda do peso do batom e blush para a construção da identidade roqueira sob os trópicos, que tem dose extra de estrógeno em seu DNA.

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Nessa seara, na metade da década de 1975, a Philips lança todas suas fichas numa voz um pouco rouca, com timbres e qualidade poética que remetem à norte-americana Carole King. A carioca Luiza Maria vinha com a improvável missão de substituir Rita Lee, que trocava a major holandesa pela nacional Som Livre – gravadora que também laçara sua antiga banda, Mutantes, na fase progressiva e sem dois dos seus três sócios fundadores.

A chegada da carioca àquela que era a mandatária do mercado fonográfico nacional se deu pelo mago Paulo Coelho, já em seus últimos momentos com parceiro de primeira hora, Raul Seixas, ocasião que o futuro escritor ocupava cargo executivo na gravadora de capital holandês.

Luiza Maria – Maya

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Luiza Maria gravou um raro e clássico disco do roque brazuca, trabalho que contou com a participação do britânico e ex-Traffic Jim Capaldi, os iniciantes Lulu Santos e Rick Ferreira. E um repertório moderno, com lufadas de um frescor pop, que incluía uma canção inédita da Raul Seixas – O Príncipe Valente, música que até mesmo os fãs mais desatentos sacariam ser de autoria do baiano logo nos primeiros acordes.

O material é um desfile do primeiro time do rock e da música popular brasileira. Acompanharam a loira: Arnaldo Brandão (baixo, d’A Bolha e da futuras Brylho e Hanói-Hanói), Fernando Gama (baixo, do Veludo Elétrico e Vímana), Rui Motta (também Veludo Elétrico e, depois, Mutantes, na fase liderada por Serginho) e Luiz Paulo (teclados, ex-Módulo 1000), por exemplo.

Com carreira tão fugaz quanto promissora, a carioca gravou seu nome na história roqueira brasileira com o torpedo Eu Queria Ser Um Anjo. O álbum foi produzido pelo guitarrista Rick Ferreira, parceiro e músico da banda de Raul Seixas. O material resume um refinado conjunto de belas canções, entre rock e blues num clima zeppeliano.

Luiza Maria – O Príncipe Valente

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Dona de uma sedutora voz arroqueada e transitando entre os cabeludos e a turma da MPB engajada, Luiza disputou o espaço entre as melhores cantoras de sua geração. E seus atributos musicais estão estampados no folk que abre o disco, Na Casca do Ovo, sinalizando o tom alegre da obra.

Maya, a faixa seguinte, é praticamente o debute de Lulu Santos, então guitarrista da lendária Vímana, em um dos mais inspiradores momentos de sua carreira. A faixa soa a um mantra celta, com sensacional arranjo de Capaldi. Nela, a interpretação vocal Luiza, num toque jazzística, é de arrepiar. Clássico absoluto e facilmente figuraria as melhores coletâneas planetárias do gênero daquela época.

A envolvente Tão Quente traz um envenenado piano de Antônio Adolfo – pare tudo agora e ouça o disco Feito em Casa, do pianista carioca, espécie de debute independente na história discográfica nacional. Já a funkeada Miro Giro carrega um quê do mexicano Santana. Ouça sem moderação.

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Luiza Maria – Não Corra atrás do Sol

No Fundo do Poço e Não Corra Atrás do Sol dão um toque psicodélico ao balaio colorido costurado pela carioca. O torpedo fecha com Universo e Fantasia, uma espécie de Starway to Heaven sob o trópico.

Comum à maioria de sua leva, o discaço não aconteceu. Depois do registro, Luiza se recolheu para os backstage: integrou a banda de Tim Maia (após o despertar da sensacional fase Racional), Ivan Lins, e emprestou voz nas gravações para inúmeros artistas e faixa de trilhas sonoras de novelas.  Retornaria em disco solo duas décadas depois, em 1993, no o CD “Tarântula” (Leblon Records). Sua obra inicial continua moderna e a espera de uma reedição oficial.

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Luiza Maria – Eu queria ser um anjo (completo)

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