Foto: Reprodução / Facebook
Manter uma banda é questão de parceria, afinidade musical, perseverança, coragem e muito trabalho. Há quase dez anos, a amizade entre dois vocalistas, Tyler Carter e Michael Bohn, fez surgir projetos musicais de extrema qualidade, capazes de engajar milhares de fãs ao redor do mundo. Um deles foi o Issues que, esta semana, anunciou a saída de Bohn. A justificativa formal foi: uma nova guinada no som desenvolvido pelo grupo.
O acontecimento pode parecer uma mera tomada de decisão, mas é mais profundo que isso. As duas vozes se completavam de uma maneira que sentiremos falta. Até porque, especula-se que os gritos de Bohn já não estarão mais no terceiro trabalho de estúdio do Issues, que começou a ser gravado recentemente.
Enquanto Tyler Carter representava a voz lírica, doce e delicada na banda; Bohn era a presença agressiva, energética e grave. O equilíbrio das duas é notável, o que fez com que a perda fosse ainda mais triste para os fãs. Qual será o futuro do Issues sem o contraste da voz de Bohn às melodias de Carter?
A partida foi repentina e, com certeza, gerou ressentimentos para os dois lados. No Facebook, a banda fez um apelo aos fãs mais ressentidos com a separação: “Por favor, sejam respeitosos e pacientes durante este período de transição”. Em seu comunicado oficial, o Issues reforçou que a saída de Bohn foi uma decisão da banda como um todo e não de gravadora, empresários ou terceiros.
“Estamos cientes de que a máquina de rumores da internet tende a distorcer as coisas, mas a grande verdade por trás desta amigável, mas difícil decisão de nos separarmos é que nossa banda está se desenvolvendo musicalmente em uma direção que nos coloca em desvantagem uns com os outros criativamente. Embora muitas vezes o contraste seja belo, ele acabou nos tornando irreconhecíveis do ponto de vista artístico.
Alguns de vocês sabem que nós, enquanto banda, estamos sempre escrevendo. O último ano foi repleto de testes e erros com o novo material, mas as demos dessas sessões têm, em nossa opinião, um potencial inegável e são algumas das músicas mais queridas que já escrevemos. Nós descobrimos que muitos dos riscos que queríamos tomar eram riscos que poderiam nos “afundar” para torná-los compatíveis com os gostos e habilidades de todos. A qualidade e a sinceridade da nossa arte são primordiais, por isso tivemos que fazer uma grande pesquisa espiritual para chegarmos a uma conclusão que fosse boa para todos nós, a entidade que é o Issues, e a nossa música”
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Em seu comunicado pessoal, Tyler Carter afirmou que a o fim da parceria trouxe “coração partido, raiva, tristeza e confusão”, mas fez questão de destacar a importância da amizade entre ele e Michael Bohn. Já o ex-vocalista se disse triste pela decisão do Issues de seguir sem ele, mas afirmou que não pretende desistir da música. Há cerca de um mês ele já trabalhava na composição de algumas músicas ao lado de Kevin Hanson (também ex-integrante da Woe, Is Me) para um novo projeto musical.
Woe, Is Me – Numbers (2010)
Antes mesmo de chegarem ao Woe, Is Me, Carter e Bohn já tinham experimentado trabalhar suas vozes em conjunto quando participavam de uma banda de menor influência no estado da Geórgia, nos Estados Unidos. Os dois amigos tinham a função de criar para o primeiro disco de sua mais nova banda.
Após a gravação do Numbers, Tyler Carter se afastou do Woe, Is Me devido a diferenças profissionais com o restante dos membros. Ele focou em seu projeto solo e se aliou a Ty Scout para montar uma banda que depois viria a se tornar o Issues – responsável por unir as vozes de Bohn e Carter mais uma outra vez.
O Numbers é um ótimo disco. Vale a pena escutar Hell or High Water, Keep Your Enemies Close, For The Likes Of Yoy e Our Number(s) (com a participação de Jonny Craig).
Issues – Black Diamond EP (2012)
O EP de estréia da banda de Carter, Bohn e Ty Scout não poderia ser melhor. O Issues mostrou em apenas seis músicas qual seria o estilo das músicas dali em diante, mantendo o equilíbrio do pop e do metalcore, com um toque eletrônico. Vale a pena escutar as seguintes faixas: King Of Amarillo, The Worst Of Them e Love, Sex, Riot (esta última em parceria com o vocalista do Attila, Fronz).
Issues (2014)
Em seu primeiro álbum de estúdio, self titled, o sexteto reafirmou as características apresentadas no Black Diamond. No entanto, explorou ainda mais o contraste das vozes com os beats eletrônicos. Algumas músicas, como Mad At Myself, Never Lose Your Flames e Late, transparecem o lado mais pop da banda e da voz de Carter. Em outras, como é o caso de Life Of A Nine, Sad Ghost e Stingray Affliction definem o core mais pesado do Issues.
Issues – Headspace (2016)
Ao apetar o play no Headspace, já é possível perceber uma mudança no som da banda. The Realest não tem um instrumental tão ligado ao metalcore como antes, assim como as vozes. Mas a transformação mais significativa está na ‘dosagem mais baixa’ de batidas eletrônicas – muito presentes nos últimos trabalhos do grupo. Em algumas faixas, como Made To Last, Michael Bohn nos mostra um pouco de seu vocal melódico. Headspace é um álbum que soa menos pesado, com menos efeitos sonoros e bons breakdowns.
Vale a pena escutar: Rank Rider, Hero, Made To Last, Home Soon e Slow Me Down.