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Caminhos sem volta

MÁRIO JORGE

Bem-sucedidos, invejados e aparentemente realizados em seu ofício de entreter multidões. Por que então adotar um ato extremado? Colocar um fim na própria vida, gerar comoção e virar parte de uma estatística macabra. O ambiente musical coleciona estas intempestivas histórias.

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A morte do vocalista Chester Bennington, do Linkin Park, é o capítulo mais recente dessa tragédia no meio artístico. Depressão, medo do fracasso, pouca habilidade para lidar com o sucesso, problemas pessoais. Enfim, o suicídio. Há uma variedade de conclusões – ou tentativas de explicações – para gestos extremos.

Queiram ou não, eles estão em um pedestal. São vistos como olimpianos, dignos de admiração. Vivem do calor humano que emana dos shows, do assédio dos fãs e do cerco da mídia. Isso basta? Ou isso é, por assim dizer, um disparador de emoções incontroláveis, para o bem ou para o mal? Não se trata aqui de acidentes por overdoses ou coisas do tipo, como a exagerada noite regada a doses cavalares de álcool de Bon Scott (AC/DC) em fevereiro de 1980.

Chester Bennington

Chester tinha 41 anos; Kurt Cobain (Nirvana), 27; Chris Cornell (Audioslave, Soundgarden), 52; Ian Curtis (Joy Division), 23; Champingon (Charlie Brown Jr., A Banca), 35; Brad Delp (Boston), 55. São alguns dos nomes que optaram pelo término abrupto. De qualquer forma, mesmo com fim das carreiras, eternizaram canções que seguem em ondas sonoras, sempre evocadas por admiradores.

Para a psicóloga Luciana Cescon, mestre em Ciências da Saúde pela Unifesp, e estudiosa do assunto, “o suicídio é um evento que acontece em todos os grupos, independentemente de sexo, idade, condições sociais etc. Vários artistas já referiram seu sofrimento, a pressão que sofrem, a dúvida em relação a saber se são admiradas pelo que são realmente ou pela imagem que passam. Dinheiro e sucesso são associados à felicidade em nossa sociedade, mas sabemos que não são garantia de satisfação”.

Kurt Cobain

Ela cita uma aparente confusão de ideias que pode acometer pessoas nesse estágio, como o fato de ter tudo o que a fama e o dinheiro podem alcançar enquanto passaporte para a felicidade plena. “Pode ser que a angústia que essas pessoas sentem seja potencializada justamente porque os outros pensam que eles não têm motivo para se sentirem infelizes. Não se sentem bem e ainda podem sentir – se culpados porque, no imaginário coletivo, alcançaram tudo o que as pessoas almejam”, exemplifica.

A psicóloga diz que não há um grau de diferenciação para esse estágio. E cita a explanação da professora Fernanda Marquetti, da Unifesp, acerca do tema: “A professora Fernanda Marquetti costuma dizer que o único fator comum entre os suicídios é o próprio suicídio. As histórias, motivações e a trajetória de cada vida é muito particular. Sendo artista ou não, cada um de nós é um ser humano complexo. A depressão está presente em parte significativa das pessoas que consumaram o suicídio, mas existe uma complexa rede de fatores que pode contribuir para esse desfecho”.

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Chris Cornell

Luciana não descarta outros fatores, como as drogas, por exemplo: “Fico pensando no uso de substâncias psicoativas que também podem contribuir para a impulsividade de um ato como esse… bem como a luta de pessoas que tentam se livrar da dependência e se sentem frustradas por não conseguirem”.

Buscar ajuda, sendo um astro ou não, é algo que está ao alcance de todos. E encarar os problemas, senão de forma mais leve ao menos com a certeza de que há caminhos para escapar de tentações tão definitivas quanto irreversíveis.

Se você ou alguém que você conheça precise de ajuda, entre em contato com o CVV (Centro de Valorização da Vida) através do telefone 141 ou via site. O atendimento é anônimo, gratuito e sigiloso.

Você também pode buscar ajuda especializada de profissionais da saúde.
Busque pelo serviço de saúde mental de sua região: os NAPS em Santos, CAPS e UBS em São Paulo oferecem atendimentos gratuitos.

*NAPS: Núcleo de Apoio Psicossocial
* CAPS: Centro de Atenção Psicossocial
*UBS: Unidade Básica de Saúde
– Colaborou a psicóloga e mestranda Elis Cornejo

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