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Crônicas de um Roqueiro #01 – Um universo à parte

MÁRIO JORGE

Há um universo muito peculiar em cada show de rock. Uma mesma tribo, as roupas semelhantes, o negro imperando nas estampas. Devo confessar: não sou muito chegado a multidões. Prefiro cantos menos recheados de almas – talvez seja minha verve antissocial falando mais alto. Não num show de rock. Curto muito essa sinergia de gente com o mesmo propósito, a mesma ansiedade, a expectativa à flor da pele.

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Fui em vários concertos, não tantos quanto gostaria, mas dão para o gasto. É ali que alimento minha alma de uma certa paixão que vem dos tempos de menino, enquanto perambulava nos bailinhos organizados pela minha irmã em nossa casa. A varanda, com o som rolando solto, as então garotas com roupas psicodélicas; os caras, cabeludos. Naqueles tempos, meados dos anos 1970, passava a conhecer nomes como Alice Cooper, Pink Floyd, Black Sabbath, Uriah Heep, Deep Purple e por aí vai…

Tomei gosto pela coisa. E vi, ao longo dos anos, os modismos e sons que buscavam uma brecha pra atingir ouvidos, ditar novas regras, estabelecer a confusão sonora com a raiz do rock como matriz subvertida. O hard, o heavy, o progressivo e o simples rock’n roll até então reinavam absolutos.

Veio a discoteca, mas perdeu fôlego. Até que um tsunami chamado punk bagunçou o coreto. Menos com os Ramones e mais com Sid Vicious e sua turma. E abriu uma fenda, por onde passou uma profusão de ritmos (new wave, ska e coisas que o valham, até cair no chamado hardcore). O rock, aquele tradicional, continuou seu percurso. Alguns cederam à tentação (mercadológica?) e mergulharam no som que parecia agradar fatia considerável de público.

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Mas a Inglaterra (sempre ela) tinha seus combatentes. A New Wave of British Heavy Metal, em pleno cenário punk/new wave, jogou seu poderio sonoro e trouxe à cena bandas cujos hits são cultuados até hoje, inclusive para uma nova geração de roqueiros. Iron Maiden, Def Leppard, Raven, Angel Witch, só para citar algumas das mais conhecidas, trataram de recuperar terreno, trazendo à luz antigos desbravadores, como Sabbath, Judas, Purple etc. O próprio rock teve suas subdivisões mais viscerais, particularmente na esteira do metal: thrash, death, speed…

O Brasil, praticamente, mergulhou em todas as tendências. Aqui, já havia bandas que tinham no blues /rock/ progressivo seus gladiadores: Made in Brazil, Tutti Frutti, O Terço, Patrulha do Espaço, Golpe de Estado… É preciso não confundir: o rock, enquanto clássico, seguiu sua trilha, meio marginal, à sua cara.

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Nos anos 1980, o pop passou a dar as cartas, com Paralamas, Legião, Ultraje, Capital. Até hoje, dizem que é essa a “cara” do rock nacional. Costumo dizer que NÃO. Sem desmerecer o som dos caras, ao contrário, acho até legal, mas não flutuam na mesma atmosfera roqueira. Na minha modestíssima opinião, são pop. E ponto!

Voltando ao início do papo, shows de rock me encantam. É um universo à parte, onde pessoas que nunca se viram batem longos papos, esbarram uns nos outros (sempre com pedido de desculpas) e apresentam a mesma coreografia: cabeças balançando, punhos cerrados ou o indissociável símbolo que Dio tornou universal. Sem romantismos ou ingenuidade, mas a verdade é que nunca vi uma briga por perto. A polícia, com aparato monstro, quase não tem trabalho. É como se fosse jogo de uma torcida só. Basta não misturar estações. Aí, a coisa flui. Até o apagar das luzes, prenúncio de que o show vai começar. We are Motörhead and we play Rock ‘N’ Roll. A frase, de Lemmy Kilmister, é a senha para duas horas de ápice. Let There Be Rock.

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