MÁRIO JORGE
O chavão é batido, mas serve: não se pode parar no tempo. Convenhamos que há casos e casos e com a música isso se aplica com dosagem certa de bom senso. Talvez por um certo hiato no cenário roqueiro e pop, dos anos 1990 até meados dos 2000, é impressionante constatar um poupurri da década de 1980 nos bares da Cidade. E com um detalhe: gente que nem era nascida sabe cada estrofe da música.
Há uma explicação para isso. O axé, o pagode e o sertanejo (?) começaram a aparecer na mídia de forma intensa em meados dos 90. Não havia programas de TV ou de rádio que não explorassem esses gêneros até a exaustão. Virou modinha – devo confessar que não foi uma fase. Para desespero total, a coisa durou mesmo.
Hoje, ao que parece, o trio pagode/sertanejo/axé está mais restrito a dias específicos nas casas noturnas ou a bares que se propõem a tocar os gêneros. E dá-lhe sofrência.
Felizmente, muitas bandas surgiram no Brasil, notadamente na esteira do Charlie Brown Jr., o que de certa forma deu uma travada na invasão brega que se insinuava eterna. Bandas de hardcore e pop – algumas, novas, outras em retorno – reocuparam espaços. Para animar a galera, as que se propõem fazer covers, quase sempre tocam Lulu Santos, Legião Urbana, Capital Inicial, Raimundos, CPM 22, Los Hermanos e até Lobão. Sem contar o onipresente grunge.
O pop é um estilo mais dos “ecléticos” e tende a agradar uma considerável fatia dos fãs. O rock, por sua vez, tem sua legião de seguidores, que em geram não toleram muita miscelânea. Mas nos bares, os músicos, em geral, alternam os gêneros. Tocam Rádio Bla, do Lobão, para em seguida destilar No More Tears, do Ozzy Osbourne, ou Tempo Perdido, do Legião, e Enter Sandman, do Metallica.
Confesso que não me atrai essa salada sonora, mas é melhor do que nada. Ao menos põe um ponto final na sofrência. Fazer o quê?