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Disorder - Caio Felipe

Disorder #2 – Sex Pistols: O Lixo e a Fúria da Grande Farsa do Rock n’ Roll

CAIO FELIPE

O Sex Pistols durou 26 meses. Foi banido de tocar ao vivo. Expulso de duas gravadoras. Classificado como subversivo pelo MI5. Chamado de antítese do ser humano. Nessa semana falo um pouco dos principais momentos e indico o ótimo documentário O Lixo e a Fúria, do Sex Pistols. Se tiver a oportunidade procure, assista, monte uma banda, faça um zine, crie algo.

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A Cheap holiday in other peoples misery

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1975, Inglaterra. Para se entender o Sex Pistols é necessário entender a Inglaterra e um pouco do mundo naquela década

O Partido Trabalhista que tanto prometera após a guerra, fizera tão pouco pela classe operária que ela se encontrava confusa sobre ela mesma e nem entendia mais o que significava classe operária. Era frio e deprimente. Não se conseguia um emprego. Dependia-se do auxilio desemprego. Se não se nascesse rico, mais valia dar adeus a vida. Você não ia ser nada. O germe, a semente dos Sex Pistols foi gerada daí. Reinava na Inglaterra a desordem social. Foi uma época bem diferente. Um caos social completo. Havia tumultos por toda parte e todo tipo de greve imaginável. As pessoas estavam cheias das velhas regras, elas claramente já não estavam funcionando. É daí que surgem os conflitos sociais. O ódio, a guerra e o ódio racial. Quando você se sente impotente é quando se atem a qualquer poder possível para conservar algum tipo de auto-respeito. As palavras são minha arma, não sei usar muito bem a violência. É difícil explicar como as coisas acontecem, mas as vezes elas devem acontecer. E os Sex Pistols tinham de acontecer.” (John Lydon)

Numa década no qual o rock das rádios estava infestado de Led Zeppelin, Yes, Deep Purple, Emerson, Lake & Palmer canções sobre as senhoras nas montanhas, cabelos ao vento e afins. Faltava algo, faltava a simplicidade no qual foi o berço para criação do rock. Faltava alguém que gritasse Claustropfobia there’s too much paranoia ou I’m an antichrist ou a clássica que poderia resumir toda aquela geração “No Future for you”.

Era necessário que alguém captasse essa centelha no ar e botasse numa canção, era necessário alguém se conectar novamente com uma juventude que se sentia sufocada. Malcom sabia disso, ele já havia visto o estrago que o New York Dolls havia feito na cena de Nova Iorque, mas ele não sabia como fazer, ele sequer sabia escrever uma canção, mas ele sabia quem poderia e ele sabia como vender isso ao resto do mundo.

Malcom McLaren era junto com sua esposa Vivienne Westwood donos de uma loja chamada Let it Rock que focava mais em produzir roupas para o publico marginalizado da periferia de Londres, tendo mudado de nome de loja várias vezes até chegar ao mais conhecido Sex.

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O interior da loja era forrado de grafites do SCUM Manifesto (manifesto radical feminista da Valerie Solanas) e as roupas eram em sua maioria acessórios fetichistas, roupas de couro, látex e estampas provocativas. Além de empregados da loja que ficaram posteriormente conhecidos (como Chrissie Hynde e Adam Ant), ela possuía alguns frequentadores que costumavam ficar por lá, entre eles: Glen Matlock (que chegou a trabalhar lá também), John Lydon, Steve Jones, Paul Cook e Sid Vicious. E alguns desses já meio que ensaiavam formar uma banda.

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Malcom que era uma figura “antenada” no que acontecia nas ruas e na musica, depois de passar um tempo no Estados Unidos e ter visto boa parte da cena de Nova Iorque, decidiu voltar para Inglaterra e procurar um grupo que fosse tão forte quanto os New York Dolls ou Richard Hell. Nisso ele viu o potencial das pessoas citadas acima que frequentavam sua loja e viu que elas já tocavam, ele apenas juntou e incentivou os indivíduos certos. E vamos dizer que assim criaram-se os Sex Pistols.

Você cria boys bands, você cria bandas para participar de reality shows em frente a jurados na TV. Qual revolução essas figuras criaram? O que elas questionam?

You don’t create me. I’m me – John Lydon

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Do chá das cinco para as manchetes nacionais
Em 1 de de dezembro de 1976, o Sex Pistols e parte do Bromley Contingent participaram do Today with Bill Grundy, programa de maior audiência no horário da TV inglesa, exatamente no horário do “chá das cinco”.

Todos estavam bêbados e Steve Jones percebendo que o apresentador Bill Grundy também estava bêbado e cantando de forma escrota a jovem Siouxsie Sioux, não pensou duas vezes em chamar o apresentador de bastardo sujo e mandá-lo se foder ali mesmo. A primeira vez que se manda alguém se foder ao vivo na TV inglesa.

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Bromley Contingent – grupo de seguidores e fãs dos Sex Pistols. Formado por gente como Siouxsie Sioux, Steven Severin, Billy Idol, Soo Catwoman, entre outros

Em junho de 1976, eles se apresentaram em Manchester. Milhões de pessoas disseram estar no Woodstock, mas “apenas” 500 mil realmente estavam. Nesse show em Manchester pouco mais de 40 pessoas estavam presentes. Mas essas pessoas se sentiram inspiradas a montar uma banda depois do que viram, gente como Howard DeVoto e Pete Shelley (que organizaram o show e criaram o Buzzcocks), Ian Curtis, Bernard Sumner e Peter Hook (Joy Division), Mark E. Smith (The Fall), Steven Patrick Morrissey (The Smiths), Tony Wilson (apresentador de TV e depois fundador da Factory Records), entre outros tantos que afirmam terem estado nesse show (A BBC chegou a produzir um mini-doc sobre essa apresentação).

Mas em maio de 1977, aproveitando o jubileu de prata da rainha, quando ela completou 25 anos de poder, eles lançam o single God Save The Queen com a máxima do movimento punk: “Não há futuro”.

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“Você não escreve God Save The Queen porque você odeia os ingleses. Faz-se uma canção dessas porque você os ama e esta cheio de vê-los sendo maltratados”. (John Lydon)

O single God Save The Queen foi proibido de tocar nas rádios, nenhum lugar em terra podia tocá-lo. Trabalhadores da fábrica de discos da CBS chegaram a resgatar algumas cópias do single que seriam derretidos, escondendo eles em seus casacos. A saída? Tocar em cima da água.

Fizeram o lançamento do single e “comemoraram” o jubileu da rainha fazendo um show sobre as águas do Rio Tâmisa.

“Eu ouvi dizer que os Sex Pistols iam fazer esse evento promocional. Liguei para Al Clark, o assessor de imprensa da Virgin, e disse: ‘Se você não me convidar eu vou contar para todo mundo na redação.’ Eu sabia que era uma grande matéria. Era difícil ver o Sex Pistols naquela época; eles tocaram apenas duas vezes em 1977, então eles eram uns animais bem exóticos. A atmosfera no barco era paranoica e claustrofóbica, mas também muito excitante. Eles estavam certamente no auge aquele dia. É impossível bater o Sex Pistols, feriado de Jubileu e Anarchy in the UK em frente ao Parlamento.” (Jon Savage)

Naquela semana God Save The Queen chegou ao primeiro lugar das paradas. Naquela semana não houve primeiro lugar na lista oficial do TOP 10 inglês. O primeiro lugar estava em branco. A indústria da música falsificou as paradas nacionais.

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Eles insultaram a rainha da Inglaterra com uma música. Como você insulta um líder hoje? Fazendo um textão no facebook?

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Debbie Juvenile da Bromley Contingent e Vivienne Westwood sendo presas no incidente do barco

Sex Pistols num evento beneficente em 1977. Eles distribuíram bolos para crianças, elas jogavam na cara deles e depois cantaram Bodies, uma canção sobre aborto (!)

Poucos artistas mudam a música ou a cultura pop com um disco apenas. Poucos são bons em criar arte do caos e talvez até lucrar com isso (todo mundo tem conta pra pagar). São exceções. O impacto que o Sex Pistols teve em toda cultura pop e, especificamente, no que conhecemos como punk foi gigante e não há como negar, mesmo se você não gostar deles.

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“O que se vê em todo documentário sobre bandas, antes ou depois, é como tudo é maravilhoso. Isso não é verdade. É difícil, um inferno. É horrível. É gostoso até certo ponto. Mas se sabe por que o esta fazendo, você tolerará tudo isso, pois o trabalho, em ultima instância, é o que importa. Nós conseguimos ofender todos aqueles de quem estávamos cheios”.

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