DANIELLE CAMEIRA
Futebol é muito mais do que apenas dois times dentro de campo e um placar final. O esporte quebra barreiras linguísticas e culturais, fazendo pessoas do mundo todo vibrarem com suas histórias. Foi a partir dessa paixão, que une os britânicos da banda de street punk e Oi! Cockney Rejects e o Brasil, que o grupo decidiu compor a canção Chapecoense, em homenagem ao time brasileiro.
Lançada em abril, a música foi uma adaptação de Goodbye Upton Park, escrita no ano passado em ocasião do fechamento do estádio centenário do West Ham United, time do coração da banda formada pelos irmãos Jeff e Mick Geggus, Vince Riordan e Andrew Laing.
A homenagem deve ser tocada em todos os shows da turnê que passará pelo Brasil nos próximos dias 28 (Curitiba/PR), 29 (Olinda/PE) e 30 (São Paulo/SP). Para o vocalista da banda, Jeff Geggus, a música é muito sincera e reflete a solidariedade da banda com o acidente que vitimou a delegação de Chapecó durante viagem à Colômbia no ano passado.
“Nós soubemos do acidente no mesmo dia em que ele aconteceu. De repente, estava em todas os canais de notícias na Inglaterra. Eu já tinha ouvido falar sobre o time porque acompanhamos programas de TV sobre o futebol no mundo todo e sabia que eles jogariam sua final de campeonato nos dias seguintes ao acidente”, conta. “Ficamos todos muito chocados e tristes com a notícia”.
Como futebol e música têm a mesma capacidade apaixonante de unir as pessoas ao redor do mundo, o vocalista espera que a música de tributo à Chapecoense toque o coração dos torcedores. Geggus, inclusive, acompanha o futebol brasileiro de perto desde cedo e já chegou a assistir jogos do Santos e Palmeiras na arquibancada enquanto passava pelo País.
“Eu tinha seis anos em 1970, quando vi a Copa do México. Pelé, Jairzinho, Garrincha e companhia formaram provavelmente o melhor time da história. Também me lembro muito bem da Copa do Mundo de 1982, com Zico, Sócrates e Falcão; depois Ronaldo, Romário, Rivaldo e muitos outros”.
Durante passagem pela Colômbia, a banda visitou o estádio do Atlético Nacional (Foto: Divulgação)
Quase quatro décadas de punk
Formada em 1978, a banda refletia a rebeldia e hooliganismo dos jovens londrinos de subúrbios operários. Fascinados por futebol, a violência presente nas músicas e no comportamento do grupo era a forma de se defenderem em brigas entre torcidas rivais da época e separarem confusões nas ruas. Os irmãos Geggus, inclusive, praticavam boxe quando jovens.
Lançada no final dos anos 1970, a música Oi!, Oi!, Oi! se tornou símbolo do sub-gênero punk de mesmo nome, inspirando dezenas de bandas que surgiram a seguir.
Para Ceggus, a música foi um verdadeiro grito de união pelo punk no mundo todo, em suas mais diversas vertentes. “É incrível ver que mesmo depois de 40 anos, a cena punk continua muito ativa. E nós nos sentimos muito felizes por fazer parte disso”.
De lá para cá, muitas bandas influenciaram o som dos Rejects. O vocalista é didático e separa as bandas em dois grupos: início e final dos anos 1970. Ainda muito jovens, começaram a sentir a energia do rock através de sons mais clássicos, como Rolling Stones, Led Zeppelin e Black Sabbath. Tudo isso além de Queen e Deep Purple.
A partir do início dos Rejects, os sons foram se alinhando melhor com o punk rock da época. Sex Pistols, Ramones e The Clash fascinaram os garotos e foram a base de inspiração dos primeiros anos da banda para que um estilo único se desenvolvesse nos anos seguintes.
Cena punk canarinha
Próximos de sua terceira passagem pelo Brasil, os ingleses estão ansiosos com a receptividade do público brasileiro, que costuma ser sempre muito animada. Para o vocalista, isso se deve às poucas oportunidades que os fãs brasileiros e sulamericanos têm de assistir a shows das bandas inglesas de punk rock.
“É sempre uma experiência incrível tocar aqui. A única diferença (em relação ao público britânico) é que vejo todos os estilos relacionados ao punk indo aos mesmos shows, juntos, sem qualquer problema. É muito legal”, diz.
E para provar que a cena brasileira também tem nomes de peso no punk, a banda lista o Sindicato Oi, Sem Futuro, Olho Seco e Ratos de Porão como boas bandas nacionais.
Sobre o setlist, Jeff Ceggus confirma o tributo à Chape. Mas promete um show 100% com clássicos e músicas dos álbuns mais recentes, cheio de energia e fiel à fórmula da banda, com os principais sucessos dos Rejects. “Queremos que o público reconheça todas as nossas músicas!”.
Ainda sobre o último álbum, East End Babylon, lançado em 2012, o vocalista afirma ser um clássico. Mesmo assim, a banda está trabalhando em novas músicas que podem ser compiladas em um novo álbum futuramente.
“Somente faremos isso se conseguirmos fazer um álbum melhor ou tão bom quanto o último. Veremos isso quando tivermos as novas músicas”.
INGRESSOS – O show do Cockney Rejects em São Paulo acontece neste domingo, a partir das 19h, na Clash Club (Rua Barra Funda, 969). The Beber’s Operário e Faca Preta também tocam. Ingressos entre R$ 80,00 e R$ 160,00. Site.
Letra: Chapecoense
Em um terrível novembro, que ao mundo chocou
Perdemos um pedaço, o peito apertou
Muitas almas a perder da Colômbia ao Brasil
Impossível preencher, deixando um vazio
Pensando em seu melhor, hoje o peito dói
Onde você possa estar, nossas mãos através do mar
CHAPECOENSE
Pra onde viajar, tem sempre aqui seu lar
CHAPECOENSE
Juntos vamos caminhar, juntos somos um
Com as mãos a ajudar, em prol do bem comum
Levante suas mãos, orgulho do seu povo
As batidas do seu coração, nos faz seguir de novo
Pensando em seu melhor, hoje o peito dói
Onde você possa estar, nossas mãos através do mar
CHAPECOENSE
Pra onde viajar, tem sempre aqui seu lar
CHAPECOENSE
FORÇA CHAPE, FORÇA CHAPE, sempre em frente
Este som é pra você
CHAPECOENSE , CHAPECOENSE
Onde você possa estar, nossas mãos através do mar
CHAPECOENSE
Pra onde viajar, tem sempre aqui seu lar
CHAPECOENSE
Novo futuro vai chegar, você voltará a brilhar
Nós torcemos, nós torcemos,
CHAPECOENSE
