FERNANDA DURANTE
Amanda, Carla, Gabriela, Geo, Guidi, Jaque, Lari e Mel são nomes de oito mulheres. Oito artistas que escolheram se expressar por meio de composições musicais próprias, onde mostram sua voz. Elas vão se apresentar amanhã e domingo no Sonora Santos – Festival Internacional de Compositoras.
Neste sábado, os shows acontecem das 18h30 às 21h, na Concha Acústica Zéllus Machado, em Santos (Av. Vicente de Carvalho, próximo ao Canal 3). Já no domingo, a programação rola no Quintal da Casa Velha (Rua Dr. Othon Feliciano, em Santos), a partir das 14h30 e conta com oficinas, rodas de conversa e, claro, mais música. Em sua primeira edição, o Sonora Santos busca dar mais espaço para as mulheres mostrarem seus trabalhos.
Para Jaque da Silva, atriz cantante e uma das participantes do festival, o significado do evento é enorme. “Dona Ivone Lara foi a primeira a assinar e levar um samba enredo para o Carnaval. Isso nos mostra que a mulher está há tempos lutando para ter voz. Precisamos manter essa conquista, pois fazemos músicas e queremos mostrá-las”.
Amante da cultura e musicalidade do Brasil, Jaque realiza pesquisas sobre o Coco de Roda, uma manifestação afro-índigena que nasceu em conjunto com a formação do povo brasileiro. Essa é uma de suas referências na música, junto com samba, valsa e muitas mulheres. “Minha avó Lizete cantava muito, tinha uma voz forte e há pouco tempo descobri que ela têm composições. Tenho vontade de resgatá-las. Minha mãe também canta o dia todo, além de Rosa Passos, Mônica Salmaso, Gal Costa, Billie Holliday e Nana Caymmi”.
A compositora Mel MC chega representando o rap e quer mostrar que lugar de mulher é onde ela quiser. “A mulher ainda é vista de forma duvidosa em vários ambientes. Existe o pensamento retrógrado de que o homem passa mais confiança e respeito, mas nós estamos aqui para provar que não. O Sonora coloca as minas no lugar de fala, sabe? É muito importante”.
Com inspirações como as cantoras Pitty, Karol Conká e Dina Di, mulheres fortes na cena musical, Mel lançou recentemente single Nova Era. Ela conta que escrever essa música foi uma experiência intensa. “Todos os dias eu vejo notícias sobre feminicídio. É um absurdo a frequência com que as mulheres são mortas por pessoas que chamavam de parceiros e companheiros, apenas por serem mulheres. Eu ainda ouço que mulheres não precisam de feminismo”, desabafa.
Além de Jaque e Mel, essa edição do Sonora ainda traz mais seis artistas. Responsável pela curadoria do festival, Amanda Gasparetto, afirma que todas são cheias de originalidade na hora de se expressar.
“A Amanda Temponi me chamou a atenção pelo timbre de voz e pela simplicidade de suas composições, a maioria em voz e violão. Entre toda, a Carla Mariani é a única que canta em inglês e ela possui influências de blues e rock. A Gabriela Barbara está começando a divulgar o seu trabalho agora e tem um jeito peculiar de se expressar, ela consegue abordar os temas de uma forma direta e poética”.
O time fica completo com a santista Geo, um nome que ganhou força no último ano e se tornou uma das revelações da música regional, Guidi Vieira, o único nome de fora do Estado de São Paulo e Lari Finocchiaro, que lançou seu primeiro disco autoral recentemente.
“A Geo usa muitos elementos da música eletrônica e tem conseguido uma boa exposição nas redes sociais e plataformas de streaming com sua identidade musical marcante. A Guidi apresenta uma formação de voz e guitarra, que ainda é muito inovadora para a MPB. Ela também está adicionando outros elementos na música e a Lari têm composições fortes, muito poéticas e que falam de questões urgentes do nosso tempo”, afirmou Amanda.
Sobre as expectativas para o evento, Jaque acredita que muitas portas vão se abrir após o festival. “Sempre guardei minhas composições pra mim. Tinha insegurança, receio de que não gostassem e também não sabia muito bem se queria cantá-las. Dei tempo ao tempo, amadureci mais e agora surgiu a oportunidade de descortiná-las”.
Já Mel conta que a felicidade é o sentimento que toma conta. “Estou feliz demais com o intuito, a causa e mais ainda por ele ter sido planejado e realizado por mulheres. Acho que o Sonora Santos será lindo. Mulheres no topo sempre”.