JOSÉ LUIZ ARAÚJO
Nasi deu e levou muita porrada. E era uma bomba relógio. Contava-se os minutos até que explodisse. Ainda o é, mas desarmada. Não que segure as palavras ou deixe de opinar sobre o que for, apenas o faz de forma mais comedida, irônica e até com uma certa elegância.
“O cenário musical atual no Brasil está muito mimimi, de brinquinho… Mais parece o nosso futebol, com jogadores que gostam de ser celebridades e pouco fazem em campo. A música está com muita selfie e pouco conteúdo. Gente que não tem nada a dizer, mas pensa que tem, e está na mídia”.
Não é o caso de Nasi e Cia, não só pela importância do Ira! na história da MPB, mas porque as letras continuam atuais e pelo cenário que se vislumbra para futuro, serão perenes.
A oportunidade de relembrar é hoje, às 21 horas, no Teatro Coliseu, no show Folk. Nasi e Edgar Scandurra mostram sucesso em formato intimista (violão e voz). Não é a reedição do Acústico MTV, até porque, a apresentação possui um formato nunca testado.
Voltamos às origens, quando as obras foram criadas a partir do violão do Edgar. Tem nossas principais canções, mas o show possui o nosso lado B. E vamos testar algumas coisas que estarão novo disco
Fazer apresentação em teatro e ambientes introspectivos também é novidade. “O legal é que ficamos bem mais próximos dos público do em shows elétricos. Mesmo sendo nesse formato, tem gente que vai para a frente do palco e dança”.
O que seria o lado B para uma banda com a bagagem da Ira!? “Quando o disco era de vinil e havia apenas dois lados, no A era gravado o que seria sucesso e no B, algo que praticamente ninguém iria ouvir”.
Mas é relativo. Aconteceu de se apostar em uma canção para o lado A e não estourar. E não apenas com a Ira!.
Talvez o melhor exemplo foi Anna Júlia, dos Los Hermanos. Eles não davam nada por ela e virou sucesso e praticamente forjou a identidade deles. Talvez a banda tenha até trilhado sua carreira depois disso. Uma música cair na boca do povo ajuda, mas também pode complicar. E é o público que define
Há, na história da música, bandas e artistas que ganham o mundo a partir do lado B. “Não conheço outro grupo que melhor tenha feito isso do que o The Beatles”, aposta Nasi.
No passado quem também ‘apitava’ para determinar se a música seria vogal ou consoante era o rádio, principalmente estimulado (leia-se jabá) pelas gravadoras.
“O mercado mudou radicalmente com a internet. Bom, porque democratizou. Ruim, porque muita porcaria vira sucesso”.
Seja qual for a forma como uma banda faz a releitura de uma antiga canção, Nasi defende que jamais se percam o conceito e a identidade. “Podemos mexer em nossas obras, mas no fundo, o público identifica nossa cara. Sempre terá a chancela do Ira!. O mesmo acontece separadamente. O Ira! influencia o trabalho solo de cada um, mas temos marca individual. Ele não fará axé e eu, samba”.
Para o novo disco, além de material inédito, passa pela cabeça dos dois gravar outros compositores. Muita gente seduz a dupla. “Erasmo Carlos. E Tony Tornado, com quem nos apresentamos no Rock in Rio”.
Mesmo sendo versão, Nasi entende que é possível acrescentar algo às músicas. “É como remake de filme ou novela. Não é uma cópia. Você acrescenta sua assinatura. Claro que o autor deve aprovar”.
São 35 anos da banda Ira!. Nesse tempo, sucesso, amor, ódio, ida, vinda. Nasi teve, ainda, sérios problemas com a família.
“Há momentos bons e ruins e cada pessoa tem seu jeito e manias. Você passa mais tempo com a banda do que com a família. A estrada esgota física e emocionalmente”.
Para que a retorno dê certo, Nasi prega o reinventar-se, a partir de comportamento mais intuitivo e lúdico.
Eu e o Edgar fizemos reuniões, um participou do show do outro… Nossa química está de volta, há respeito e o relacionamento é muito bom. É um casamento, mas sem sexo
Se não explode mais, Nasi ao menos não deixa de atirar. “Precisamos mudar a política com uma profunda reforma que faça o político atuar em favor do povo, não dele mesmo. Vamos tirar da cadeira esse caras ladrões e corruptos para termos um Brasil melhor para todos. Precisamos de uma nova Constituinte. Nossa Constituição tem muitos vícios nocivos”.
Serviço – Ingresso de R$ 100 a R$ 200. Rua Amador Bueno, 237, Santos.