‘Legalize Já – Amizade Nunca Morre’ aborda história emocionante sobre início do Planet Hemp

‘Legalize Já – Amizade Nunca Morre’ aborda história emocionante sobre início do Planet Hemp

Legalização da maconha, descriminalização do aborto, violência policial, racismo e homofobia. Os temas abordados em Legalize Já – Amizade Nunca Morre, novo filme de Johnny Araújo e Gustavo Bonafé, que chega aos cinemas no próximo dia 18, parecem bem atuais, mas remetem ao início dos anos 1990.

O longa aborda o início da trajetória da banda carioca Planet Hemp, por meio da amizade dos músicos Marcelo D2 e Skunk, os criadores de um dos nomes mais polêmicos e impactantes da música brasileira.

“Esse filme é sobre encontros, como eles podem mudar a vida de uma pessoa. São dois jovens da periferia que ousaram sonhar e nem sabiam se as pessoas queriam ouvir o que eles tinham para dizer. Mas vemos o Marcelo até hoje fazendo isso, lançando vários discos, uma carreira consolidada”, comentou Bonafé, um dos diretores do filme, que participou de uma coletiva de imprensa, na terça-feira (2), no Cinemark do Shopping Cidade São Paulo.

Foram dez anos desde o início do projeto até a chegada ao cinema. Motivos os realizadores têm de sobra, mas um deles foi comentado pelo produtor Paulo Roberto Schmidt, durante a coletiva.

Legalize Já teve dificuldade e enfrentou resistência por conta do seu nome. O nome sempre está associado à legalização da maconha, mas o filme não é sobre isso. É um filme que chega em um momento oportuno, da discussão social, é uma história de amor, mas também um grito de socorro. Não parece um filme que se passa nos anos 1990. Ele é atemporal, bem atual”.

Renato Góes e Ícaro Silva interpretam Marcelo D2 e Skunk, respectivamente. E as interpretações são bem autênticas, não soam caricatas e contaram com o apoio do vocalista durante as gravações.

“Foi a loucura mais inteligente que já fiz, a coisa mais difícil que já fiz na minha vida. Mas também a que tive mais prazer. Oito meses antes de rodar, por iniciativa própria, criei uma banda e passei a tocar as músicas do Planet, tinha como objetivo me inserir naquele projeto”, comentou Góes, lembrando que o convite feito por Johnny Araújo aconteceu durante um Carnaval.

Sobre a participação de D2 na montagem do papel, o ator conta que foi uma influência direta. “Quando fomos gravar as músicas, ele e o (Mario, produtor) Caldato ajudaram muito, eu não tinha experiência. O Marcelo não ficava dando palpite, pedíamos dicas para ele, mas na hora de construir, é como o Johnny falou, deixei um pouco de lado e passei a construir em cima do que vivi um pouco antes do filme”.

Pernambucano, o ator não demonstra qualquer dificuldade em cena na hora de retratar um carioca tão típico como o vocalista do Planet Hemp. Góes conta que foi morar no bairro onde D2 morou, frequentou os mesmos lugares, evitou o contato com os amigos pernambucanos e passou por um apuro quando, dois meses antes do início das gravações, foi interpretar um personagem em Velho Chico, da Rede Globo. O resultado, no entanto, surpreendeu até o próprio D2.

“Gravei umas músicas, mandamos para o Marcelo e ele pensou que era algo dele no início da carreira. Fui muito em cima da musicalidade dele. Fiquei muito feliz com o retorno dele”, comentou.

Skunk
Skunk, o parceiro de D2 no início da carreira, faleceu meses antes da estreia de Usuário, primeiro disco da banda e um dos maiores fenômenos de venda e polêmica da música brasileira. Vítima da aids, Skunk sempre teve o sonho de viver da música e isso parece estar bem vivo nos olhos de D2, segundo o ator.

“Tem pouco material do Skunk, são uns dois ou três vídeos dele. Mas o que gosto de dizer sobre o Skunk é que ele vive nos olhos do Marcelo. Quando ele fala sobre o Skunk, você vê que ele está lá mesmo. Você é uma colagem das pessoas, dos seus ídolos. O Marcelo tem muito de Skunk. Peguei minha inspiração da forma como ele fala do amigo”, justificou Ícaro Silva.

Por ter vivido uma realidade bem parecida com a de Skunk, Silva acredita que conseguiu entregar um personagem bem autêntico. Durante um questionamento sobre se já havia sofrido preconceito por ser negro, respondeu com firmeza.

“Acho ingênuo perguntar para uma pessoa negra no Brasil se ela já sofreu racismo. A negritude no Brasil está relacionada à pobreza. Claro que me identifico com o Skunk. O Skunk enxergava o Marcelo como negro, mas ele não entendia desse jeito. Não entendia que ele estava marginalizado, tal como os negros”, disse o ator, que completou: “Fui uma criança da periferia, nasci em 1987, cresci em meio à violência policial em Diadema (Grande ABC paulista)”.

Johnny Araújo ainda fez questão de ressaltar que não se trata de um filme 100% biográfico, lembrando que utilizou a ficção para contar uma história real. “Sempre falei que não queria fazer um filme sobre o Planet. Isso funcionaria melhor com livro ou documentário”, justificou.

Sobre a ligação entre D2 e Skunk, o diretor lembrou de um momento marcante do filme, que mostra bem a amizade dos dois. “O Skunk pegou Legalize Já, que não era o refrão, e mostrou: ‘olha o que eu criei’. E o Marcelo respondeu que isso estava na música. O Skunk respondeu que sim, mas não era o refrão”.

Ausência de cores
Outro ponto interessante no filme é a falta de cor nas cenas. Segundo Johnny Araújo, que dirigiu videoclipes do Charlie Brown Jr e Marcelo D2, foi algo extremamente pensado. “Tínhamos uma preocupação em voltar aos anos 1990. Não temos muita diferença para os dias atuais, mas isso é algo que diferencia. Mas também foi pensado na solidão que era a Lapa, não tinha nada de turístico naquela época. Era só uns jornalistas que desciam lá para beber cerveja, gays, travestis. A falta de cor no filme é o que representa melhor aquela época, com dois meninos marginalizados pela sociedade”.

Política
Atores e diretores até tentaram evitar o assunto política na semana das eleições, mas diante de algumas perguntas foi inevitável. “A visão sobre a maconha está mudando no mundo todo. Se a cabeça não fechar, vai acontecer o mesmo aqui”, disse Gustavo Bonafé.

A atriz Marina Provenzzano, que interpreta Sonia, a primeira mulher de D2, foi mais incisiva. “Morei o último ano em Amsterdã e penso que a maconha pode ser controlada pelo Estado. Por que não? Estamos na possibilidade de voltar à Idade Média dependendo de quem ganhar. E, aproveito para deixar o meu ele não”, disse em clara alusão aos protestos pelo Brasil contra o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas de intenção de votos. O seu manifesto foi seguido de aplausos dos artistas presentes na mesa.