O uniforme escolar do Angus, o kilt do Axl, a pintura do KISS, a vestimenta “papal” do Ghost. Existe um espectro teatral no universo roqueiro. Pode ser irreverente, farofa, kabuki, sagrado/profano. Há uma infinidade de máscaras, roupas, maquiagens que dão um sentido especial à performance de algumas bandas. Não é regra, porque o que importa é o som que cada qual apresenta, mas a roupagem/pintura integra o repertório dos grupos que decidiram se exibir dessa forma.
Lembro que, em determinada época, em 1983, logo após o show no Morumbi, em São Paulo, o KISS simplesmente lavou a cara. Era uma tentativa de recuperar, em sua terra, o sucesso do grupo, mesmo tendo sido bem acolhido com Creatures of the Night. Fãs mais fiéis, porém, repudiaram o “novo” estilo. Depois de alguns anos, após o impacto, a turma do Paul Stanley e Gene Simmons teve voltar aos camarins e reabrir o arsenal cosmético. Ao menos criaram um fato, e as coisas voltaram a funcionar. O álbum seguinte, Lick It Up, foi assim.
Angus Young adotou o uniforme escolar. Ou melhor, nunca o tirou desde o início da adolescência, na Austrália. Há ao menos duas versões para o apetrecho: uma, que a ideia foi de uma irmã do guitarrista, com aprovação de Malcolm, o outro irmão e ex-guitarra-base do AC/DC. O garoto-problema chegava da escola e, sem tirar a roupa, se atracava à guitarra e ficava uma eternidade treinando. Mal se alimentava tamanha a devoção que tinha pelo novo brinquedo; a outra versão, dita por ele numa ocasião, é que estaria atrasado para um show. Correndo, chegou da escola e foi para o palco com a vestimenta. Embora haja quem diga que não pega bem usar o uniforme com pouco mais de 60 anos, Angus não dá a menor bola e segue firme em seus shows, como se tivesse acabado de chegar do colégio. Para delírio de milhões de fãs.
AÍ tem o sombrio Ghost com seus mórbidos integrantes papais. O grupo sueco, não apenas usa as roupas inspiradas no Vaticano com efeitos sombrios, como também pratica rituais durante as apresentações. Que ninguém se engane, a banda, para muitos, tem um condão satanista. O grupo não endossa muito essa versão. Prefere dizer que faz críticas aos dogmas da religião católica. Afinal, europeus, tiveram criação cristã. Não à toa seu vocalista se autoproclama Papa Emeritus.
Os demais membros, “identificados” apenas como os nameless ghoul, são os sacerdotes que utilizam símbolos da alquimia enquanto nomes. Menos ecumênico, mas em linha semelhante, o Slipknot opta pelas máscaras baeadas em personagens de lendas urbanas, tipo Jason ou Hellraiser ou ainda o palhaço ameaçador. Queriam o sucesso. Conseguiram e ainda preservaram suas identidades, que era o objetivo dos norte-americanos.
Um pouco antes do KISS, Alice Cooper utilizava a pintura nos olhos para destilar o bom hard rock dos anos 1970, com a verve cênica de guilhotinas e cobras. Parecia melancólico, mas casava bem com as músicas de protesto do tipo Elected ou com a rebeldia juvenil em School’s Out.
Convenhamos, com máscaras, pinturas, uniformes, tachas ou simplesmente com jeans e camiseta (ou sem ela, a la Bon Scott), o ideal é mandar bem no palco. Se a coisa fluir, isso é que importa.