MÁRIO JORGE
O rock tem muitas histórias. Sempre haverá o cara ou a banda que começou tal coisa, lançou as bases disso ou daquilo, surpreendeu o mundo com um jeito novo de tocar. Faz parte. Mas Malcolm Young pode ser enquadrado na categoria que recolocou (e manteve) o rock’n rol na rota. Coisa que os Stones sempre fizeram, embora sem a carga extra de pimenta na sonoridade.
Trafegando no universo hard, o AC/DC, sob inspiração de Malcolm, adotou o rock sem compromisso. Apenas para pura diversão, uma brincadeira que nasceu no quarto da casa em Sidney, na Austrália, para enlouquecer o planeta.
A guitarra base de Malcolm, com forte inspiração do blues, deu a concepção musical do AC/DC. E, bonzinho, deixou a estrela do irmão, Angus, brilhar sobre o palco, ao lado de vocalistas de peso (Bon Scott e Brian Johnson). Nada de querer dividir as atenções. Ficava atrás e só aparecia para fazer o backing vocals quando a música exigia.
É pouco? Depende: o estrelato já havia sido conquistado com este formato. Então, que se faça o rock. O cara era quem impunha a carga rítmica para a banda, que criava os riffs, que dava as ordens – Back In Black, álbum de estreia de Brian, tem um dos riffs mais cultuados e conhecidos do rock.
E podemos dizer, independentemente da importância dos músicos, que a família Young toda participou da concepção e estrutura do AC/DC. Numa entrevista dada em 2014, pouco antes de seu afastamento por problemas de saúde, Malcolm explicou alguns episódios que marcaram o início da banda. “Contamos aos nossos pais que estávamos na mesma banda. Eles disseram: ‘Isso só vai durar uma semana’. (risos) Era, de certa forma, verdade, pois eu e Angus brigávamos o tempo todo”.
E o nome: todos já conhecem, mas não custa lembrar: “Não sabíamos qual era o significado… Margaret, minha irmã, apareceu com esse nome. Soava legal, e então ficamos com ele. ‘AC’ e ‘DC’ se referem à eletricidade, não sabíamos que eram dois termos bastante conhecidos… Mas aí então, as pessoas começaram a nos chamar de ‘bichas’… Aí descobrimos que o nome também era uma gíria, que tinha uma conotação bissexual. (risos)”.
George Young talvez tenha sido a faísca que levou os irmãos mais novos à cena musical. Baixista, ficou mais conhecido como integrante da banda australiana da década de 1960 The Easybeats, e o coautor de sucessos internacionais (Friday on My Mind e Love Is in the Air). Ele coproduziu os primeiros álbuns do AC/DC, como Powerage e High Voltage, e tocou como baixista do grupo por um curto período, no início de sua carreira. Em 2000, produziu o álbum Stiff Upper Lip. George morreu em outubro passado.
O guitarrista acabou protagonizando um episódio pra lá de tenso com Geezer Butler, do Black Sabbath. Em 1977, numa turnê pela Finlândia, os dois se desentenderam no hotel onde estavam hospedados a ponto de Butler, completamente alcoolizado, puxar uma faca e ameaçar Malcolm. Ninguém menos que o Madman chegou para conter os ânimos e dar uma bronca em seu baixista. Desculpas pedidas, o AC/DC abandonou a turnê conjunta e foi para Londres.
É uma história que aparece no folclore do rock. Triste mesmo foi a notícia do afastamento de Malcolm em 2014 para tratar de um sério problema de saúde: demência. Ficou confinado na casa da família, na Austrália, e pouca notícia ou imagem sua circulou por aí.
O AC/DC seguiu sua trajetória, com novos episódios dramáticos, como a licença de Brian Johnson, no ano passado, igualmente por problemas de saúde. Axl Rose o substituiu nos vocais, algo para o qual muitos fãs ardorosos torceram o nariz.
Malcolm estava afastado, mas sua morte, no último dia 18, foi um golpe duramente sentido pelos que amam o grupo. Talvez não represente o fim da banda. Seu DNA está lá, e Angus segue firme com seu uniforme de colegial e suas estripulias. O desafio, agora, é manter as forças e a inspiração que fizeram do AC/DC uma das maiores bandas do planeta. We Salute You.
Fontes: AC/DC Brasil e Wikipédia
https://www.youtube.com/watch?v=TXXO9_3gb3o
https://www.youtube.com/watch?v=CSxfDJ7eayw
https://www.youtube.com/watch?v=a-1qjKdPIJw
