Na Romper desse mês gostaria de contar um pouco da inspiração que achei para fazer o que faço, e de quebra, homenagear de uma forma singela meus colegas de profissão. A Romper de hoje é dedicada exclusivamente à esse personagem tão fundamental no meio independente, e às vezes nem citado, o jornalista. Ou a jornalista, se você for uma garota.
Muitas vezes ficamos no anonimato, quietinhos, e muita gente nem sabe como a gente é fisicamente. Eu, por exemplo, fiquei anos sem saber que o Wlad era o Wlad. Nos chamam de blogueiros, bloggers e outros nomes que já esqueci. Particularmente não ligo muito pra nomenclatura, mas o Lucas e o Matheus disseram que somos jornalistas, então se eles disseram, pra mim isso é lei.
Disse diversas vezes aqui que sou da geração da MTV. Achava tudo aquilo fenomenal, os VJ’s eram como heróis para mim, mas três em especial “formaram” meu caráter musical e “profissional”.
O Fábio Massari foi pra mim o que a Wikipedia é para a geração atual. O Reverendo era um poço de conhecimento, e embora fosse mais introvertido do que os seus companheiros na época, demonstrava um profissionalismo absurdo. Aprendi muito assistindo Mondo Massari, Clássicos MTV, e claro, Lado B, que ele deixou para apresentar o Jornal da MTV, sendo substituído por outro monstro que citarei na sequência.
O Kid era o cara que todo mundo queria ser amigo. Ele manjava do assunto tanto quanto o Massari, mas tinha o carisma daquele amigo legal do seu pai que aparece no final de semana levando vinil do Stones pra você ouvir. Muita coisa que escuto até hoje, exemplos como Elastica, Atari Teenage Riot, devo ao Kid.
Apesar disso não ter absolutamente nada de jornalismo, é uma das maiores fontes de inspiração que tenho na forma de me comunicar. Considero o Piores Clipes do Mundo, no comando do Marcos Mion, o ápice criativo da MTV Brasil, e muito da maneira como me comunico e escrevo, veio daí.
Durante a época da Lan House, passava muito tempo lendo o já citado ZonaPunk, Besouros e Punknet. Foi e ainda é uma grande janela que sempre olhei e admirei.
Ser jornalista independente, blogueiro, blogger, como queira, é legal. Você tem acesso à muita informação maneira de forma antecipada, ouve muito som novo que a galera vai ouvir só daqui quatro meses, mas aí vem aquele seu parente chato pra perguntar se você já está ganhando dinheiro com isso. A resposta é obviamente não, mas até aí, nem quem é formado e “tá na área” tem um retorno financeiro tão bom assim.
Já ouvi muito “mas se você não ganha nada com isso, porque você faz?”, mas a resposta é muito simples, “eu acredito muito no que faço”. Por mais cliché que isso possa soar, é a única verdade que pode manter esse trabalho vivo. Não só na parte do jornalismo, mas em qualquer coisa que você faça. Se você não tem amor naquilo que você faz, apenas pare de fazer. Claro que amor não paga conta, temos que ter juízo e tomar as decisões mais coerentes de acordo com a nossa realidade.
Pegando esse gancho, é importante ressaltar que existe muita gente experta. Produtores, fotógrafos, bandas & artistas, donos de casa de show, outros jornalistas, todo mundo é malandrão, raposa véia, e é nessa que você tem que tomar cuidado. Tem que ter parcimônia ao vir alguém pedir para “quebrar essa”.
Já fui trabalhar em muito show em que foi falado que não tinha como colocar a equipe pois “tá osso com esse esquema de vip”, aí entro no lugar PAGANDO, está o amigo do cara, a mina do amigo do cara, a amiga da mina do amigo do cara que ele quer pegar, cachorro, papagaio, periquito…
Outro toque é para você que tem bastante ideia. Nunca, em nenhuma circunstância, saia falando sobre seus projetos que nem saíram do papel para Deus e o mundo. A gente nunca sabe quais são as reais intenções das pessoas. Uma hora você pode ver seu projetinho lindo e maravilhoso ali, no site do parça. Isso nunca me ocorreu, ainda bem.
Mas nem tudo é treta, a união e o sentimento em comum de quem está ali todo dia compartilhando informação entre si cria um grande laço que traz bons frutos. Eu por exemplo, estou aqui em consequência disso. Todo dia você recebe algo novo dessas pessoas que estão na mesma que você, te incentivam, ensinam, e isso não tem preço que pague. No final das contas, é tudo por amor.
IMPORTANTE: Não encarem como dedo na cara, mas DIY NÃO É DESCULPA PARA FAZER MAL FEITO. Não faça nada “nas coxa” apenas por fazer. Não venha gravar uma entrevista que você fez no seu celular, sem microfone, com um áudio horrível, cheio de ruído, imagem porca. Ou então só gravar o áudio em uma forma precária e apenas colocar imagens da banda só para falar que fez. Tenha paciência, estude, aperfeiçoe, peça ajuda para alguém e faça algo que você vai olhar daqui dez anos sentir orgulhoso de ter feito. E, principalmente, que as pessoas te lembrem que aquilo foi muito marcante para elas. Pois afinal, o nosso “legado”, se é que podemos chamar assim, é a única coisa que a gente vai carregar depois que os likes sumirem.
Beijos e até mês que vem.