O que você está procurando?

Geral

Mesmo com som embolado, Sir Paul McCartney converte público em show-missa

CÁSSIO AMPER
Foto: MRossi

Antes de mais nada, quero me desculpar. Não sou o maior fã de Beatles. Calma, não me odeie ainda. Muito embora reconheça a importância da maior banda de todos os tempos, que resume a história do rock em sua própria narrativa, passando de boyband à banda seminal no período de apenas metade de uma vida “média”.

É claro que eu gosto de algumas músicas (e por algumas, em se tratando de Beatles, são várias), mas não posso me considerar um grande fã, colecionador, influenciado direto – como músico – enfim.

Continua depois da publicidade

E pra provocar um pouco mais os leitores, afirmo categoricamente que meu Beatle favorito era George.
Já me odeia muito? Então vou partir pra minha defesa.

Como um não-fanático de Beatles, eu decidi ir ao show de Sir Paul McCartney, porque SIM. Porque acredito que todo músico tem obrigação de ir ao maior número de shows possíveis, grandes e pequenos. E Macca é quase que um módulo obrigatório pra quem vive na escola do rock. Não dá pra ignorar. Já me sinto feliz por ter visto antes que partisse, o que acredito que vá demorar, e já já explico o porquê.

Não vou falar do absurdo dos preços, porque…né? Blablabla Brasil, blablabla carteirinha, blablabla de sempre.
Quanto ao local, preciso fazer ressalvas: já assisti outro show-missa no mesmo espaço (The Who), e não aceito a desculpa de que “som em estádio é complicado”. A tecnologia atual já dá conta disso. Pois bem, o som estava uma PORCARIA. Momentos de embolo total, solos de guitarra completamente abafados, voz incompreensível em muitos momentos (Sir Paul é afinadíssimo, mas a natural perda de emissão da voz pela idade exige uma atenção especial no microfone). Algum tipo de compressão (recurso usado pra cortar frequências indesejadas), estava prejudicando muito, MUITO o som. Os fãs mais exigentes perceberam isso, e não fosse ser Sir Paul lá na frente, não teriam tolerado.

Já o telão e efeitos visuais, foram excelentes, escolhidos com muita sensibilidade e bom gosto. Ok, chega de falar sobre termos técnicos.

Continua depois da publicidade

O carisma de Sir Paul é inegável e irresistível. O cara é CHARMOSO. Essa é a palavra. É um Sir, de verdade. Pontual, simpático toda vida, bem humorado, demonstrava uma grande alegria de estar ali. Não é teatro. Não eram milhares de agradecimentos. Era o jeito de se comunicar com a platéia.

Era carinho, reconhecimento. Enquanto vivemos uma fase agonizante do rock (especialmente nacional), onde bandas insistem na postura Rockstar, coisa que não existe mais desde sei lá, Axl Rose na fase áurea, talvez (?), Sir Paul é o “Paulinho”. É como se tivesse tocando numa festa em casa.

Exceto claro, pelos recursos e pela maravilhosa banda que o acompanha. E que parece ter tocado com ele a vida inteira. Entrosamento absurdo, nem sequer uma nota fora, uma “pedalada”, nada. Tudo preciso, sem sobrar nem faltar.

O repertório é a arma secreta. É um capricho que só as lendas costumam ter. O artista, em sua mistura de liberdade criativa com ego, muitas vezes comete erros absurdos em repertórios equivocados, como por exemplo, o The Cult cometeu na abertura do show do The Who – e passou absolutamente batido, cansou o público e deixou uma péssima impressão.

Continua depois da publicidade

Mas aqui, não tem erro: os hits estão todos lá. Tem menção aos fãs de sua antiga banda, Wings (e eu me incluo, sendo um filho dos anos 1980). Obviamente, tem Beatles. Tem homenagem às esposas relevantes, Linda e Nancy (Heather, muito justamente, é ignorada).Tem a apologética “carta aberta” a John. Tem a versão de Something com Ukulele (o que me soou bem estranho a princípio, porém retoma à forma original no meio), e homenagem ao querido George, no telão. De Ringo, a platéia fez questão de lembrar, e Paul não se faz de rogado, reconhece e acompanha.

Tem o bombástico, catártico momento de Live and Let Die, com pirotecnia bonita de se ver e absolutamente contagiante. Tem o grande momento da noite, com Hey Jude transformando o Allianz Park em céu estrelado (único momento onde realmente celulares fazem um ponto positivo), e a platéia afinadíssima no Nanana mais conhecido da história. Teve, para minha máxima alegria e deleite, Helter Skelter (insira aqui seu palavrão de comemoração favorito).

Retomando: eu não sou o maior fã do mundo de Beatles, e meu beatle favorito era George. Dito isso, novamente, reveja tudo o que eu disse a respeito do show. Exceto a qualidade do som, que não estava à altura do artista ali presente, o que eu vi, foi o que eu gosto de chamar de MISSA. Shows de rock são meu lazer favorito, já que viagens são raras na vida de um músico. Desde os meus 16 anos, tenho ido à quantos shows eu posso, até mesmo quando não conheço muito do artista. E o que vi ontem, eu posso afirmar: é uma das poucas MISSAS que eu já assisti, junto com The Who, AC/DC, U2, Bruce Springsteen. Foi mais que uma experiência musical, e mais que puro entretenimento: foi ver a história da música se personificar e me deixar maravilhado, e restaurar minha fé, abalada pelo cotidiano da indústria musical.

E em como uma missa real, eu me senti convertido, absorvido. Pela música, pelo carisma, pela grandiosidade daquele senhor no palco. Aquele cara tão à vontade, tão feliz de estar ali, e absolutamente senhor da situação. É diferenciado, único. Sem a menor sombra de dúvida. Aye, Sir! Thank you very “moch”, Sir!

Continua depois da publicidade

COLUNAS

Advertisement

Posts relacionados

Publicidade

Copyright © 2024 - Todos os direitos reservados

Desenvolvimento: Fika Projetos