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Metal extremo, identidade e culto

MÁRIO JORGE

Cada vez mais, o metal extremo mostra sua cara. E sai por aí dilacerando um som impiedoso, voraz e intimidador. O cenário externo e nacional é coalhado de bandas do gênero, que atraem uma geração de novos roqueiros, determinados em expor sua radicalidade musical.

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Filho direto do heavy, o metal extremo intensifica os apelos do underground e amplifica a morbidez das letras, teatralizando um universo mórbido para passar sua mensagem. Sempre digo que para fazer thrash, death, speed, black metal é preciso escapar à receita fácil de simplesmente copiar o que está posto por aí. Caso contrário, fica tudo igual.

O Venom, quando surgiu, chocou pela radicalidade. No início dos anos 1980, impôs a velocidade de guitarras e bateria para registrar sua marca. O álbum Black Metal, de 1982, traduz o experimentalismo da banda que se propôs ser mais satânica que o Black Sabbath, mais alta que o Motörhead e mais pirotécnica que o KISS.

O som parecia ter algo de punk, mas o peso não deixava dúvidas: vinha como um paviu aceso que saiu queimando nos quatro cantos do continente para mostrar um novo caminho do heavy metal. Na esteira dessa nova revolução no mundo do rock, já havia contemporâneos de quilate quase equivalente: Hellhammer, Bathory, Celtic Frost e Mercyful Fate.

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Roqueiros muito tradicionais torcem o nariz para o som com vocais guturais e rasgados. O fato é que pegou, e, agora como pólvora, se espalhou mundo afora. O estilo encontrou eco na Escandinávia, especialmente na Noruega, vide Burzum, Darkthrome, Emperor, Mayhem e Immortal, além da Suécia, partir da década de 1990.

Não podemos dizer que apenas o clima gélido daqueles países foi um campo fértil para a força do estilo. O Brasil, dos trópicos, também marca presença. O gênero prosperou por aqui e não é de hoje. Que o diga o Vulcano, de Santos, e tantas outras bandas: Sepultura, Korzus, Krisiun, Sarcófago, Torture Squad.

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Há trabalhos acadêmicos sobre o estilo. Um deles, a tese de mestrado que virou livro O Caminho da Mão Esquerda – O Mal do Black Metal, de Leonardo Carbonieri Campoy, explora esse universo, citando antropólogos, historiadores, cientistas políticos, teólogos, zines, além de realizar entrevistas com músicos/bandas. Campoy foi vocalista de bandas de heavy metal no Paraná”. Num dos trechos do artigo, ele cita o zine A Obscura Arte, onde a banda paulistana Triumph definiu assim o estilo: “black metal é arte, mas acima de tudo, é atitude e culto”. O livro, para quem se interessar, é Trevas sobre a luz – O underground do heavy metal extremo no Brasil.

trevas

Muitas vezes é difícil diferenciar o que é thrash, speed, black, death. São vertentes que exigem um certo grau de sutilidade para separar o que é o quê. Não condeno esses caminhos que o rock vai percorrendo. Faz parte. O importante é que as bandas, as já na estrada e as novas, busquem uma identidade no som, para escapar da cópia, simplesmente. O Slayer, por exemplo, surfou nessa onda e segue firme sob o comando de Tom Araya e Kerry King.

Dizem que Tonny Iommi criou os riffs mais fáceis da história. Beleza. A questão é que ninguém os tinha feito antes.

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