Microfonia #9 – “Ninguém vai querer ouvir uma banda chamada morte”

A missão de escrever uma coluna semanal sobre o cenário musical independente e, principalmente, sobre as bandas novas, sempre me faz levantar a mesma questão: Como definir o que é música nova?

O fato dos grupos independentes estarem fora das mídias tradicionais já faz com que uma banda com 20 anos de carreira possa parecer completamente inédita para alguém que busca música somente nas trilhas sonoras dos filmes ou nas 10 mais tocadas das rádios. É o tipo de produto que requer um certo talento para garimpo em sebos, horas de buscas na internet, uma certa frequência nos shows das bandas pequenas, conhecer quem conhece…. enfim, muito mais investimento do que simplesmente ligar a TV.

E toda vez que penso nisso, me vem a história mais sensacional que já tive o prazer de conhecer: A do DEATH

Há alguns anos, um amigo me passou um link de um trailer do documentário sobre eles dizendo: Isso é a sua cara!
Como amo documentários de bandas, pensei: Ih, mais um para aquela lista gigante de filmes que tenho que assistir!

Subestimei feio.

O documentário A Band Called Death conta a história de três irmãos negros de Detroit que montaram uma banda de rock em 1971. O som do Death era muito mais pesado e acelerado do que o que as bandas da época tocavam e o fato de não serem brancos tocando rock os colocou à margem do mercado. 

Soavam “brancos demais” para as rádios que tocavam as músicas negras como o soul da Motown, não eram brancos para tocar nas outras rádios… e além do mais, “ninguém ia querer ouvir uma banda chamada morte!”.

Quando perguntavam o porque de manterem um nome tão anti-comercial, Bobby, David e Dannis Hackney diziam: “Não vamos mudar de nome. Vamos manter nossa personalidade.”

Tem que ser muito fera, né não?

Considerada uma banda de proto-punk, por terem criado o gênero antes mesmo de bandas como Ramones e Sex Pistols, o Death nunca conseguiu fazer sucesso com sua formação original. As décadas foram passando e as fitas e singles em vinil dos caras seguiam intactos, guardados no porão, absolutamente inéditos para o público. Talvez por azar, já que surgiram em um tempo em que os Estados Unidos eram notoriamente racistas, ou por sorte de serem geniais demais, até para seu próprio tempo.

Acontece que, praticamente 40 ANOS DEPOIS, um daqueles garimpeiros de sebo que eu citei lá no início do texto encontrou um single dos caras e achou tão incrível que soltou na internet. Alguns compartilhamentos depois, o arquivo chegou na mão de um dos filhos do vocalista, o qual sequer sabia da existência da banda do pai e dos tios!

A nova formação do Death: Bobby Hackney (baixo e vocal), Bobbie Duncan (guitarra) e Dannis Hackney (bateria)

Muitas reviravoltas depois (que vocês vão ter que descobrir assistindo o filme), nasceu um reencontro da banda (com Bobbie Duncan na guitarra, substituindo o irmão David Hackney, falecido em 2000), o documentário, um disco com as gravações originais reunidas e até mesmo um disco novo!

Enquanto você navega nessas ondas cibernéticas atrás do link do filme, sente só o que esses moleques conseguiram gravar no próprio quarto há quatro décadas:

https://www.youtube.com/watch?v=8HDdKNd2pmg
E não se esqueça: O sucesso da sua banda pode ser só uma questão de tempo.