Nos anos 1990, enquanto divulgava seus álbuns Texas Bound (1996) e Blues on the Outside (1999), o guitarrista angolano/brasileiro Nuno Mindelis era presença constante em Santos. Suas apresentações no Bar do Sesc marcaram uma geração que batia cartão toda quinta-feira para assistir, além dele, nomes como André Christovam e JJ Jackson.
Neste sábado (8), às 18h, dentro do 3 Festival Santos Café, Nuno Mindelis vai resgatar aquele clima nostálgico, no Palco da Rua XV, no Centro Histórico.
“A galera de Santos fica próxima, física e espiritualmente, interage, gera uma grande energia e eu gosto de estar bem próximo dela. Lembro-me do carinho dos técnicos de som também, da área de convivência do Sesc. E da lanchonete e do café bem ali. A gente preferia a lanchonete ao camarim”, recorda o guitarrista, considerado um dos maiores no Brasil há anos.
O próprio repertório a ser apresentado trará muitas lembranças para os amantes do blues. Mindelis promete resgatar canções dos discos marcantes dos anos 1990, além de algumas novidades.
“Vou fazer algumas coisas de discos anteriores, como Texas Bound e Blues on The Outside, de Angels & Clowns, o mais recente, e um tema ou outro que a galera sempre exige, tipo um clássico do gênero, um Jimi (Hendrix) ou um Muddy (Waters), essas coisas. Vou com enormes músicos, Alex Bessa (Rita Lee, entre muitos outros) na tecladeira completa, Rafael Becufiné na bateria e Marcos Klis no baixo”.
Enquanto se prepara para o show em Santos, o guitarrista dá os primeiros passos em seu futuro álbum. Recentemente, ele conversou com os seguidores para saber o que eles pensavam de uma campanha de crowdfunding (financiamento coletivo) para o seu novo disco. O feedback foi positivo e rendeu mais alguns passos adiante.
“Achei fundamental ter essa conversa antes de qualquer coisa, porque os fãs são a peça mais importante numa carreira artística. Sem eles você canta no banheiro. É claro que há centenas de outros elementos imprescindíveis, mas a fanbase tem todo o meu carinho e retribuição sempre”.
A partir do sinal verde dos fãs, o guitarrista passou a fazer o planejamento. “Não é tarefa simples e, na verdade, isso até me faz feliz, porque quero fazer valer cada centavo de quem vier a colaborar com esse projeto. Tento trabalhar várias facetas disso tudo de forma paralela, orçamentos de um lado (artístico e recompensas), repertório de outro, quando, o quê, onde, quem, essas coisas. Devo gravar músicas dos meus heróis, preciso ver quanto vai de budget para um autoral desses (independentes sofrem, majors não pagam, compensam)”, adianta ele sobre o novo trabalho.
A ideia inicial do músico é entrar no estúdio até novembro, mas ele ainda não tem certeza se conseguirá, muito em função dos detalhes da recompensa para os fãs.
Uma coisa, no entanto, é certa: ele voltará ao blues de raiz. “Gravei blues elétrico e blues rock até 2003. Meus álbuns nesse período foram todos de blues, fosse um pouco mais tradicional aqui, ou menos ali. Depois disso entrei em fase experimental, fiz Outros Nunos (2005) em português, com Zélia Duncan e Rappin Hood, havia elementos eletrônicos, rap etc. Depois fiz Free Blues (2010), que é blues que ouvia quando menino, mas totalmente estilizado com eletrônica, meio radio friendly. Ficou lounge sem eu querer”, diz, aos risos.
O último lançamento, Angels & Clowns, de 2013, com Duke Robillard, o guitarrista considera que é um disco bastante bluesy, mas mais rock, pop do que blues.
“O que pretendo fazer desta vez é o meu From the Craddle, quer dizer, o meu berço, as músicas que ouvi na infância e adolescência que me fizeram ser guitarrista de blues e rock. Sem experimentações, sem estilizações. É blues elétrico e blues rock puros, guitarra o mais visceral e incendiária possível”.