No Ruídos de hoje vou comentar sobre um disco que gosto bastante: o debute do Placebo, de 1996. Embora não seja um disco propriamente esquecido ou subestimado, procurei resenhas sobre ele e não encontrei nada. Decidi, então, comentar um pouco por conta própria.
Lançado na mídia como grande inovador do punk, o Placebo trouxe consigo um debute de orgulhar aqueles que têm o gênero como xodó. O disco, que tem uma das minhas capas favoritas de todos os tempos, carrega a essência e a visceralidade do punk alternativo clássico, mas com toques de glamour e muito perfeccionismo.
Apesar da atmosfera um tanto High School, as faixas do disco trouxeram uma reinterpretação pro gênero que, alinhada às peculiaridades da banda, criaram uma sonoridade, até então, inédita. A influência de Sonic Youth é gritante, embora a banda opte por uma plasticidade maior na finalização de suas faixas. Nancy Boy é a faixa síntese disso. Chamo de punk de laboratório.
O disco já começa com a porradaria de Come Home – uma espécie de Tora Tora dos Raimundos fabricado na Gal Química (o que não é pejorativo). Diferente dos discos que viriam posteriormente, aqui as canções são muito agitadas e mostram um Placebo mais pra cima (embora nunca good vibes). As letras fazem o contraponto, com o jovem Brian Molko cuspindo pra fora todas as suas angústias em versos ininteligíveis e, muitas vezes, abertos a interpretações.
Teenage Angst é minha faixa favorita do disco. A simplicidade camuflada da canção é um de seus pontos mais altos e tem a cara daquilo que o disco é: aparentemente complexo, mas de esqueleto simples e, até mesmo, comercial. Embora apresente muitos detalhes minuciosos, a canção não contém mais do que cinco acordes. E isso é ótimo. O melhor de alguns discos é justamente se dar conta de que se tratam de canções básicas, mas muito bem trabalhadas e arranjadas (nesse caso, principalmente pelo trabalho de guitarras, muito característico graças a afinação personalizada do Placebo).
Nesse quesito, Lady Of The Flowers, talvez, seja a faixa mais complexa do trabalho. A atmosfera sombria, alimentada pela densidade instrumental e do vocal arrastado de Molko, é uma demo do que a banda faria nos próximos anos em Without You I’m Nothing, e fecha o disco de forma contrastante – o que é perfeito para a construção do mesmo. Swallow também carrega um pouco desse misticismo, mas é chata é arrastada (pior faixa do trabalho).
Embora muitos discordem, pra mim, Placebo será sempre um dos melhores debutes já feitos nos anos 1990 – atrás apenas de Ten, do Pearl Jam, e Definitely Maybe, do Oasis. Como já citado, é um disco de viés adolescente, mas longe de ser imaturo. Tecnicamente, os dois primeiros discos do Placebo talvez nunca tenham sido alcançados pelos mesmos. Pontos pra década de 1990.