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O show começa antes

MÁRIO JORGE

Não sei realmente se foi a última turnê, mas fato é que Ozzy, independentemente da idade (69 anos), tem um magnetismo impressionante. Basta ver o estádio (Allianz Parque), domingo passado, lotado e a reciprocidade do público. O rock tem esse poder: manter seus velhos adeptos e conquistar novas gerações, garotos e garotas na faixa dos 16 aos 25 anos, por exemplo.

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Bark at the Moon abriu a noite, precedida por um vídeo rápido das várias fases do Madman. Daí em diante, foi celebrar o heavy metal por um de seus criadores. Impossível não vibrar com o som que vem do palco. Ficar parado, quase impossível. Bom, mas o show já foi descrito, com detalhes, pela mídia especializada e o próprio Lucas Krempel já o descreveu com a precisão de sempre em A Tribuna.

Quando vou a um show, não gosto de chegar em cima da hora. Porque o entorno muito me interessa. O mar de camisas pretas, gente de todas as idades, as lanchonetes cheias e os papos sobre bandas fazem parte deste universo único. Em geral, é o tempo que eu e minha mulher, Simone, tiramos para destilar todos os assuntos possíveis e observar comportamentos, isentos de críticas ou julgamentos.

No show do Ozzy não foi diferente. A espera do ônibus para a partida, a ida à lanchonete para forrar o estômago, uma cerveja. O show, para nós, já tinha começado. Com pelo menos quatro horas de antecedência, desembarcamos nos arredores do Allianz Parque – me permitam, um templo sagrado.

É possível distinguir uma camaradagem tácita entre essa galera. Fico imaginando o que passa na cabeça de todos: “Se está ali, é roqueiro. Então, falamos a mesma linguagem”. Bem assim. Não falta polícia, por todo canto. Mas ao mesmo tempo, nunca presenciamos algum atrito, brigas ou coisas que levassem a alguma temeridade. Não que não aconteça, afinal são milhares de pessoas. Nós é que nunca presenciamos.

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Pra não dizer que tudo ocorre às mil maravilhas, o único atrito que vimos foi por causa de um sujeito, também roqueiro, aparentemente, que, numa lanchonete toda palestrina – da moça do caixa às bandeiras e as cores alviverdes – cismou de gritar um “Vai Corinthians”. Era dia de clássico no Itaquerão. Foi o suficiente para arrumar o atrito que os próprios amigos trataram de contornar com providenciais pedidos de desculpa e a retirada do cidadão que misturou estações. No mais, uma discussão acirrada, com gritos entre um casal, momentos antes da entrada do Príncipe das Trevas. Gastaram um bom dinheiro para ir ao show e colocariam em risco o barato de ver Ozzy em, quem sabe, sua última vinda ao Brasil. Deveriam cair em si e adiar, ao menos para o dia seguinte, a DR que não fizeram questão de esconder.

O engraçado é que quando acaba a apresentação, enquanto ainda estamos no estádio, fica uma ansiedade no aguardo de novos “Bis”. Não poderia ter terminado e o cansaço natural dessa maratona ainda não havia se mostrado a que veio. Mas é preciso ir embora. Não sem antes parar para comer algo e molhar a garganta. Mais papos e novos conhecimentos. Bom, hora de ir para o ônibus e voltar para casa. Uma soneca no meio do caminho e chegada em casa, na madrugada. Segunda-feira, e a vida retoma sua rotina. Faz parte. Quebrá-la, de vez em quando, é o grande barato. Metal na veia.

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