Chega o final do ano e vem as tradicionais listas do que de melhor aconteceu. No nosso Blog n’Roll de cada dia não será diferente, e cada colunista separou os melhores discos, EP’s, Split’s, etc. Os que mais nos tocaram e nos influenciaram ao longo do ano, e essa é a lista da sua humilde Romper Stomper.
Resolvi dividir nas categorias Nacionais e Internacionais, então vamos lá.
INTERNACIONAIS:
Propagandhi – Victory Lap:
Só do fato de ser um novo disco do Propagandhi, isso já deveria estar aqui. Sou fã incondicional da banda, acho o Chris Hannah um gênio, Todd Kowalski um monstro, e estava ansioso para saber o que eles iriam fazer no próximo disco.
Os dois últimos álbuns foram um misto de hardcore melódico, e um metal prog cabeçudo, que honestamente não me agradou tanto, mas em Victory Lap, para meu deleite, resolveram fazer algo parecido com o que foi feito em Potekim City Limits e Today’s Empire, Tomorrow’s Ashes, meus discos preferidos da banda, mas ainda sim dando um ar de renovação no som da banda e sem soar algo nostálgico.
O Propagandhi, de fato, é a banda que ainda me faz escutar hardcore.
Foo Fighters – Concrete & Gold:
Quem me conhece sabe que vivo descendo a lenha no Foo Fighters pela repetição da fórmula que a banda vem fazendo ao longo dos anos. Apesar de Wasting Light ter sido um pouco diferente do que a banda produziu, ainda era pouco. Faltava a banda fugir de compor uma nova Best Of You, uma nova Times Like These, entre outras frequentes repetições. Aos poucos fui perdendo interesse no trabalho da banda, e até o elogiado Santa Cecilia cheguei a ignorar. Sabe quando você está sem disposição alguma para dedicar um tempo seu para uma banda? Então…
Eis que em uma dessas noites que você fica sem dormir e entra no vórtex do YouTube, dei de cara com esse clipe aí, The Sky Is a Neighborhood, e naquele momento tive a certeza de que deveria voltar minhas atenções novamente aos Foo’s.
Escutei o disco e me surpreendi bastante. Disco cheio de inspiração, de certa maneira até filosófico, e principalmente, você vê a banda se desafiando (você ainda vai ler bastante essa expressão nesse texto), e não fazendo algo forçado ou dentro de algum molde.
The Sky Is a Neighborhood, no caso, teve a inspiração de seu vídeo tirada de uma entrevista do astrofísico e meme nas horas vagas Neil DeGrasse Tyson à revista Time, e chegou a dizer como as palavras de um dos ícones da ciência influenciaram no roteiro do clipe, que ainda contou com suas duas filhas como protagonistas. Vale lembrar que a música entrou quase de última hora em Concrete & Gold, sendo fruto de uma verdadeira epifania que Mr. Grohl teve em uma viagem à Itália.
Ah, e os clipes divertidos dirigidos por Dave Grohl também voltaram nesse novo disco.
Linkin Park – One More Light:
Muita gente vai achar estranho eu citar esse disco como um dos melhores do ano, principalmente porque eu mesmo critiquei muito quando foi lançado.
“Ah Portugal, mas você vai falar bem só por conta do que aconteceu com o Chester?” – Mais ou menos.
O disco foi rechaçado pela crítica. Para você ter uma ideia, no Metacritic, site que catalisa as notas dadas pelos principais sites e revistas especializadas, em uma pontuação de 0 a 100, One More Light possui a nota de 46/100. Dave Everly da Classic Rock Magazine/TeamRock.com chegou a dizer que “tudo isso faz com que Ed Sheeran soe como Extreme Noise Terror“.
De fato, One More Light está longe de musicalmente ser um dos melhores discos da banda, pode até ser bem produzido, mas se distancia dos preferidos de todos, Hybrid Theory e Meteora, além de Living Things e Thousand Suns, meus preferidos. Porém, o significado todo do disco e o trágico episódio com o vocalista Chester Bennington são coisas que chegam a chocar.
Esse texto deveria sair na quinta-feira (7), mas pedi ao nosso chefe, Lucas Krempel, mais um dia para que pudesse escutar esse álbum e tirar a pulga atrás da orelha.
A maioria das músicas é cantada por Chester. Heavy e Battle Symphony me conquistaram, e passam a angústia que supostamente Bennington deveria estar passando não só naquele momento, mas durante bastante tempo.
Nobody Can Save Me e Talking To Myself acompanham o clima, e curiosamente, em uma das únicas músicas cantadas por Mike Shinoda, Invisible no caso, ouvimos a frase “If I cannot break your fall, i’ll pick you up right off the ground. If you felt invisible, i won’t let you feel that now”.
Logo após a morte de Chris Cornell, amigo pessoal de Chester, Shinoda disse que o vocalista se sentiu muito abalado, e durante a apresentação da banda no tradicional Jimmy Kimmel Live!, onde a banda supostamente tocaria Heavy, single promocional do disco naquele momento, Chester pediu a banda que tocassem One More Light, que se trata da perda de um amigo muito querido, e a performance de Chester nessa apresentação chega a assustar.
https://www.youtube.com/watch?v=CgwL14IDDJY
Queens Of The Stone Age – Villains:
Esse sim, se for pra nomear um disco do ano, Villains é de longe meu escolhido. Primeiro por ser um álbum extremamente bem divulgado. A banda lançou alguns teasers produzidos pelo amigo e cineasta Liam Lynch, um deles em que a banda enfrenta um detector de mentiras, e o próprio Liam Lynch. Nesse teaser, Josh Homme já nos dá o spoiler, de que “sim, eu gosto de dançar”.
Na virada de 2014 para 2015, nenhuma música tocou mais no mundo do que Uptown Funk!, música composta pelo produtor britânico Mark Ronson em colaboração com Bruno Mars, o hit conquistou Homme, que se sentiu convencido em trabalhar com Ronson. Nasceu assim Villains, o álbum mais dançante do QOTSA.
O álbum foi muito bem recebido, ostentando a pontuação de 81/100 no Metacritic, não agradando em contrapartida os fãs mais tradicionais da banda, que clamavam pelo retorno do Stoner à obra da banda. Estilo esse, conforme falado na resenha que escrevi sobre o disco, nunca foi atribuído à própria banda no seu trabalho.
As reclamações não foram grande problema, já que músicas como Fortress, Head Like A Haunted House, Villains Of Circumstance, e Feet Don’t Fail Me Now se estabeleceram como novas queridinhas do novo público, além de The Way You Used To Do, claro, que ainda contou com um clipe divertidíssimo dirigido pelo consagrado Jonas Akerlund.
A citada Feet Don’t Fail Me Now, inclusive, é uma “sobra” do trabalho de Josh Homme com o lendário Iggy Pop no seu Post Pop Depression. Como contou em uma entrevista “faixa-a-faixa”, o frontman diz que a frase foi escrita por Iggy, mas a composição não se desenvolveu, mas quando seu foco voltou ao QOTSA, ficou com aquilo na cabeça e achou sonoro. Não deu outra.
Faixa-a-faixa Parte 01:
Faixa-a-faixa Parte 02:
No geral, Villains é um álbum completo. Tem a hora certa de dançar, a hora certa da melodia, a hora certa de acelerar, e por aí vai. Por todas essas qualidades e essa cadência, aponto sem medo algum esse sendo o melhor disco de 2017.
NACIONAIS:
Porno Massacre – É O Que Me Resta?:
“A banda que você tem que ver ao vivo”. Quando a “Igreja Pornomassácrica” entra em cena você vê algo que não se faz por aí nos dias de hoje. O som também não fica para trás, sendo irreverente sem ser pastelão ou “zé graça”, é algo totalmente sincero e honesto.
O EP com três faixas foi lançado com esse espírito, e deixa um gostinho de quero mais para um próximo lançamento.
Carbo – In The Between:
Um disco cheio, robusto, sem se prender a rótulos, sem a pretensão de “ser alguma coisa”. É rock porradeiro sem firula alguma, muito bem composto por essa galera talentosíssima lá de Volta Redonda (RJ). O Carbo é uma banda que conheci por um feliz acidente, gostei e sempre que posso falo desse disco de forma incansável.
Destaques para Mama, Borderline, Heavy Rain e Eletric Heritage. Se você ainda não ouviu, está perdendo.
Letty And The Goos – Ugly Demons/From The Cold/No One Else:
Três singles que foram lançados quase na mesma época, e bem que poderiam formar um EP pela homogeneidade entre as faixas. Se tivesse que apontar uma “Revelação do Ano”, apontaria o Letty And The Goos, tanto pelo trabalho impecável quanto pela correria em levar bandas da capital paulista para tocar em sua cidade natal, Itapira.
https://www.youtube.com/watch?v=5JiKJM3shP0
Gio – Presente de Grego:
Sendo muito honesto, eu não escuto algo novo do rap já faz um tempo. Porém, acompanho o trabalho do Gio nas batalhas aqui do ABC, e sempre percebi que ele tem uma versatilidade na caracterização da sua performance. Tem muita coisa do reggae, MPB, blues, jazz, e até do hardcore.
Em uma dessas batalhas, o Gio anunciou que seria lançado seu Presente de Grego e apresentou essa música:
O disco passa exatamente por essas vertentes que influenciam e moldam seu caráter musical, de forma bem concisa e única.
Marginal Attack – Keep The Faith On You:
Disco que já estava aguardando desde o ano passado ansiosamente. Banda que aprendi a gostar de graça, e que pretendo conhecer logo.
O disco é uma espécie de tributo à todas as eras do punk rock. Você escuta de tudo um pouco em Keep The Faith On You, desde punk 77, a influência da 2º onda do ska, o punk californiano, e por aí vai.
Baldios – Baldios:
Outro disco que esperei décadas para escutar, valeu a espera. Para quem curte aquele punk mais puxado para os anos 1980, um prato cheio.
Maddiba – Ayanda:
O Maddiba é uma banda formada por figuras conhecidas do underground do ABC. Com membros que tiveram passagens por bandas de metal, hardcore e até rockabilly. Os caminhos divergentes se encontraram, e um projeto que mistura hardcore crossover, rap, thrash metal foi formado, nascendo assim o Maddiba.
Lerina – Bardo:
Um One Man Band Total. Lerina é dono de um raríssimo talento, e consegue mesclar suas influências muito bem e deixar sua marca no seu trabalho.
Lançou esse ano o EP Bardo e recentemente o single Efeitos Colaterais, ambos disponíveis no Bandcamp do artista.
The Bombers – Embracing The Sun:
Uma delícia! Me lembro de quando o Matheus me disse que estava pensando em fazer algo totalmente fora da caixa em relação ao que havia sido feito anteriormente. Saiu o Embracing The Sun, um disco que tem rock clássico, pop punk, rap e BAIÃO!!!
Pode isso Arnaldo? Deve!
Embracing The Sun é de fato um dos melhores discos para se ouvir em 2017 e os anos subsequentes. O impacto causado pelo disco na banda é nítido no palco, renovando as energias e trazendo performances cada vez mais caóticas e emblemáticas.
Color For Shane – Not An Embryo:
Se for pra apontar “O Melhor Disco Nacional de 2017”, dou esse título à Not An Embryo, pelo simples fato de tudo que eu procurar na música em geral hoje em dia estar presente em sua concepção. Agressividade, experimentalismo, melodia, peso, tudo andando em perfeita harmonia.
Percebo que há um certo flerte, para não falar moda em todas as gravações ser obrigatório o uso do ruído para dar a impressão de Lo-Fi. Existe a péssima prática de hoje em dia se mixar o disco, e no processo da masterização se colocar o chiado para que cause a impressão “cool” dos anos 1990. É um processo tão absurdo quanto a cara de pau de quem faz isso e acha que não vai ser notado.
Not An Embryo possui esse chiado, mas não por ser inserido digitalmente, e sim por ter sido gravado em equipamentos que os deixaram com essa sonoridade, e de forma não-intencional, dando autenticidade ao trabalho do Color For Shane.
Essa foi a seleção da Romper Stomper dos melhores de 2017. Concorda? Não? Faltou algo, deixe comentado e até 2018.
Beijos!