Algumas pessoas carregam um pensamento sólido de que a melhor e mais verdadeira arte costuma nascer de mentes inquietas e perturbadas. Embora trate-se de uma afirmação arriscada que levanta discussões muito sérias – das quais não serão levantadas aqui por motivos específicos – a história recente nos deu alguns casos de artistas que usaram essa arma como uma válvula escapatória dentro dos mimetismos da arte generalizada. Um deles, tema de hoje do Ruídos, é Daniel Johnston.
Johnston, nascido em West Virgínia, nos Estados Unidos, cresceu sob a redoma de um crescente quadro de esquizofrenia e bipolaridade. Como se não bastasse, viveu uma vida de desafios psicológicos – dos quais passeiam por assuntos como rigidez familiar até envolvimento com drogas alucinógenas – que contribuíram categoricamente para seu deterioramento mental. O tempo não foi seu amigo, e os anos serviram como espectro de um declínio pessoal cercado por episódios catárticos.
Afogado em todos esses problemas, Johnston fez da música sua respiração. Dos anos 1980 aos 1990 gravou diversos discos, a maioria diretamente de seus gravadores caseiros. Os resultados não são os melhores tecnicamente, mas trazem uma verdade pouco vista na grande maioria das músicas da indústria. A falta de produção potencializa principalmente o talento instrumental (especialmente no piano) do artista, que se destaca com composições simples e cheias de alma.
Algumas canções são autobiográficas, outras não. Story Of An Artist é um dos casos em que o artista deixou um pedaço da sua história em vibrações sonoras. Na ocasião, fala sobre sua adolescência e a intolerância dos pais com suas ideias e planejamentos artísticos. Outros casos, como o “hit” alternativo True Love Will Find You In The End e Some Things Last A Long Time (que o Beach House tratou de fazer uma versão ainda melhor), são dedicatórias a Laurie, a mulher que Johnston foi apaixonado a vida inteira. Todas elas têm um tom muito íntimo.
No mais, seus registros são uma relíquia para os amantes do Lo-Fi e de artistas como Neil Young. Assim como o ídolo folk, Johnston apresenta letras muito sinceras e pessoais, provando que uma boa composição acompanhada de sentimentos verdadeiros são o epicentro de uma música. Deixarei, abaixo, algumas obras do cantor:
Para quem se interessou, indico o documentário The Devil and Daniel Johnston (disponível na Netflix). Nele, você vai entender melhor sobre a vida, música e dias alucinantes vividos pelo artista (incluindo um episódio tragicômico envolvendo o Sonic Youth). Um excelente fim de semana a todos.