Uma das principais bandas de rock do Brasil nos últimos 30 anos, o Titãs ganhou um tributo independente com 32 artistas nacionais dando cara nova para os seus principais sons. O Pulso Ainda Pulsa (Crush em Hi-Fi e Hits Perdidos) consegue ser atraente por dois motivos: mostra que é possível refazer hits sem eles perderem a essência e revela como nosso cenário roqueiro anda interessante.
Entre os destaques da coletânea estão Epitáfio, que ganhou uma versão em bluegrass nas mãos da paulistana O Bardo e o Banjo, e Será Que é Isso o que eu Necessito, transformada em um synthpop pelo duo S.E.T.I, de Campinas.
Santos, cidade que foi palco dos primeiros shows do Titãs, também está representada no tributo. The Bombers imprime seu estilo na clássica Desordem, que ganhou ares de street punk e ska.
“Entramos em contato com diversas bandas do Brasil inteiro. Por mim, teríamos 100 versões! Temos 32 participando, todas entraram no projeto com muita vontade e nos surpreenderam. Algumas delas foram contatadas já com isso (versões originais) em mente, como O Bardo e o Banjo, Paula Cavalciuk, Pedroluts e NÃDA, que sabíamos que iriam fazer uma desconstrução bacana. Nossa ideia era essa mesmo: mais do que covers, queríamos versões com o DNA de cada artista participante”, explica João Pedro Ramos, do site Crush em Hi-Fi, co-responsável pelo tributo, juntamente com Rafael Chicocarello (Hits Perdidos).
Wagner Creoruska Junior, voz, bandolim e percussão da O Bardo e o Banjo, afirma que não tem nada de Titãs no som do seu grupo, mas que todos os integrantes cresceram ouvindo a banda.
“Tínhamos um desafio com essa música. Queríamos fazer ela soar um bluegrass bem tradicional, daí optamos por transformar algumas partes em valsa, muito usada no bluegrass, em andamentos lentos. Trabalhamos bastante a mudança de andamento e gostamos disso. Depois foi pensar em como fazer soar o vocal, afinal, foi a primeira vez que gravamos um som em português”.
Vocalista da campineira S.E.T.I., Roberta Artiolli afirma gostar de muitas bandas dos anos 1980, tais como A-ha e Depeche Mode, influências claras em seus trabalhos autorais.
“A discografia dos Titãs é muito ampla e o óbvio para a gente seria tirar alguma coisa do Õ Blésq Blom (1989), mas seria muito óbvio. Decidimos fazer o contrário. Pensamos ‘vamos no disco mais pesado deles e transformar numa balada de dreampop’. Será que é isso o que Necessito já era uma das músicas favoritas do Bruno (parceiro no duo). Então ficou claro que essa seria a nossa”.
A paulistana de streetpunk Não Há Mais Volta contou com a participação de Badauí, do CPM 22, para regravar Homem Primata.
Do ABC Paulista, a Sky Down, de Caio Felipe (colunista do Blog n’Roll), não deixa por menos no tributo. A banda conseguiu transformar Clitóris em uma música própria. “A letra é muito boa e queríamos pegar algo da fase mais barulhenta do Titãs. Todo mundo fala muito do Cabeça Dinossauro, mas se tem dois discos deles que têm mais a ver conosco são Tudo Ao Mesmo Tempo Agora (1991) e o Titanomaquia (1993)”, comenta Caio Felipe.
De Santos, o The Bombers mostra que a ideia de buscar sons diferentes do Titãs faz todo o sentido. Certamente, outras bandas santistas têm mais semelhanças com os paulistanos, mas a proposta do tributo era justamente essa: sons distintos com roupagem nova.
“Recebemos o convite do João, do Crush em Hi-Fi, para participarmos do tributo e recebemos uma planilha com nomes de todas as músicas do Titãs. Já fui praticamente tocando uma por uma, com ajuda das cifras é obvio. Desde o início me senti à vontade com a Desordem”, comenta Matheus Bombers, vocalista da banda.
Para chegar ao resultado final da canção, Matheus comenta que gravou uma versão de violão e voz e mandou para a banda. “Foi um trabalho de desconstrução e reinvenção da música. No final, parecia que a música era nossa”.
Sérgio Britto aprova tributo
Um dos líderes do Titãs, Sérgio Britto aprovou o tributo. Em entrevista a A Tribuna, afirmou que desconhecia o projeto. “Adorei tudo! São 32 recriações, todas muito originais e cheias de soluções criativas. O que mais gostei foi de saber que são todas bandas independentes e autorais. Não tem nada que não tenha gostado, sinceramente, o projeto foi muito bem sacado. Acho que o fato das bandas terem tido liberdade total para escolher as músicas e gravar da maneira que quisessem contribuiu muito para o resultado”.
Para Britto, há muitos destaques no tributo, mas, se for pra falar de uma música só, ele fica com a versão de Flores Pra Ela, da Paula Cavalciuk: “Simplesmente sensacional!”
Quanto à participação do The Bombers, declarou: “Gostei muito, como todas as versões do projeto. Não é um cover, mas uma recriação mais rápida e pesada que a original, mas igualmente eficiente”.